Окрашенный чемпион! Coluna Mário Marinho
COPA DO MUNDO – ESPECIAL
Окрашенный чемпион!
COLUNA MÁRIO MARINHO
E quem disse que o russo é carrancudo, sombrio, soturno, oprimido, sombrio, vexado, abezerrado, amuado, emburrado, zangado mal encarado, áspero, austero, intransigente, ríspido, iracundo, medonho, pavoroso, sinistro, aborrecido, sobrancelhudo, enfezado ou bisonho?
Quem? Quem disse?
Quem disse isso nunca viu um russo quando estreia numa Copa do Mundo, em sua casa, massacrando o adversário com sonoros, impiedosos e indiscutíveis 5 a 0.
Porque na tarde de ontem, a Praça Mais do Que Nunca Vermelha assistiu a um carnaval fora de época, de lugar, regado a vodca e não a cachaça, onde todos cantavam a uma só voz:
Окрашенный чемпион!
É isso mesmo: Pintou o Campeão!
Enfim, caro amigo, a bola rola na terra do estrogonofe, do caviar e da vodca e de repente o temido cossaco se transformou num jamais inimaginado craque.
A festa de abertura, convenhamos, foi xinfrim.
Muito parecido com a festa sem sal que o Brasil promoveu em 2014.
Mas, quando a bola rolou, as coisas mudaram.
Até minutos antes e o jogo começar, falou-se muito mal da Seleção Russa. Alguns críticos, mais ácidos, chegavam a afirmar que se a Rússia tivesse que disputar as Eliminatórias nem se classificaria para a Copa, tão triste e pequeno era o seu futebol.
Até a véspera da estreia o carrancudo técnico Stanislav Tchertchesov dizia a todos que esperava, pelo menos, manter o emprego.
E господин (mister, para quem não domina o russo) Tchertchesov ostentou carranca mais parecida com a de Rasputin (falo daquele lutador de luta livre dos anos 60, aquelas lutas cheias de marmeladas) do que a expressão de um técnico feliz por estar em uma Copa do Mundo.
No primeiro gol russo, o técnico não moveu um músculo sequer.
Mas, em campo, a Arábia Saudita foi sendo massacradas aos poucos, até chegar ao inclemente 5 a 0.
E convenhamos é muito bom estrear numa competição com uma vitória.
Melhor ainda: estrear com uma goleada.
E goleada numa competição chamada Copa do Mundo, não tem preço.
Assim, vamos nos unir ao coro que ecoa pelos campos gelados e praias ensolaradas da terra de Mr. Putin:
Окрашенный чемпион!
Bom, isso vai valer pelo menos até o Brasil entrar em campo. Depois, é outra história.
Cadê os
Comunistas?
No final dos anos 50, o bom time do Flamengo tinha um meia armador chamado Moacir. Era muito bom de bola. Mais do que isso: um craque.
Jogava tão bem o Moacir que nos treinos preparatórios da Seleção para a Copa de 1958, colocou o elegante Didi na reserva.
Foi quando Didi, apelidado de Príncipe Etíope por Nelson Rodrigues, cunhou sua mais célebre frase:
– Treino é treino, jogo é jogo.
Verdade. O titular da seleção, quem entrou para a história como um dos maiores jogadores do meio-campo no futebol brasileiro foi Didi e não Moacir.
Moacir era um homem simples, até simplório.
Naquele ano de 1957, o Flamengo foi jogar na Rússia.
Era época da Guerra Fria. No Ocidente, Brasil principalmente, tínhamos horror a comunista. Deus me livre! Comunista comia criancinha, era o que se ouvia.
O Flamengo foi jogar na Rússia.
Na volta, ainda no aeroporto, um repórter entrevistou Moacir e quis saber o que ele havia achado dos comunistas.
Nem pensou para dar a resposta:
– Olha, não vi nem um comunista lá. E olha que eu saí do hotel, andei pela cidade e não encontrei nenhum comunista.
Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Parabéns pelo texto. Bambambã
Abraços
Marcio Bernardes