Quando a poeira baixar. Por Nelson Merlin
Quando a poeira baixar
Por Nelson Merlin
As leis da Física e as da Economia não permitem brincadeiras nem aventuras. E também não perdoam quem tenta desafiá-las.
ORIGINALMENTE PUBLICADO NO PORTAL YEZZ. NEWS, NOZZ.HJ
Quando os atletas se alinham na cabeceira da pista para correr, um acordo tácito entre eles os impede de praticar qualquer ato ilegal contra os demais corredores, do tipo atravessar no caminho para não ser ultrapassado, dar um pisão no outro, ou um encontrão para tirá-lo da pista etc. A coisa exige fair play. No entanto, um quer vencer o outro.
Mutatis mutandis, o problema dos caminhoneiros é que tem caminhão demais para pouca carga e um quer chegar primeiro que o outro no prato de comida, o frete. Nessa corrida, não tem acordo de cavalheiros. E para complicar, há um concorrente mais forte que todos os participantes individuais: as empresas transportadoras. Elas também querem chegar primeiro ao prato, e o delas tem filé mignon.
Os arranjos que estão sendo feitos para acabar com o locaute ilegal dos caminhoneiros autônomos e das transportadoras passam longe da solução. Chamo de locaute todo esse movimento que está aí porque a grande maioria dos autônomos é de PJs, Pessoas Jurídicas, ou não poderia trabalhar. E sendo PJs, são empresários, mesmo que microempresários. E sendo assim, meu caro Watson, não podem fazer greve, pois é locaute, e locaute é proibido por lei.
Os poucos que não são PJ obrigatoriamente são donos de seus próprios caminhões. É uma minoria, mas entre eles a maior parte, se não todos, também deve ter o registro de PJ, do contrário pagaria mais impostos para trabalhar. Um autônomo paga mais imposto que um microempresário PJ sobre o que recebe. Se tem algum trabalhando como autônomo puro, é por burrice. Ou está na informalidade, o que o deixa ainda mais vulnerável na disputa pelo prato final.
… As leis econômicas são implacáveis, tanto quanto as da Física newtoniana. Por exemplo, a lei da gravidade de Newton, que todo mundo conhece, é uma paulada na cabeça de qualquer um que ouse desafiá-la. Mesmo um avião, que é o maior desafio que conheço às leis de Newton, vem abaixo se seu motor falhar.
Pois bem, os arranjos não chegam ao miolo da questão porque a solução não está neles, podem quebrar a cabeça que não vão encontrar. Serão sempre quebra-galhos, um mais seco que o outro. Se pisar mais forte, quebra.
A solução, tanto para as transportadoras como para os caminhoneiros, autônomos ou não, é haver mais carga para transportar. Ou menos caminhões para levar. As leis econômicas são implacáveis, tanto quanto as da Física newtoniana. Por exemplo, a lei da gravidade de Newton, que todo mundo conhece, é uma paulada na cabeça de qualquer um que ouse desafiá-la. Mesmo um avião, que é o maior desafio que conheço às leis de Newton, vem abaixo se seu motor falhar. A lei da Oferta e da Procura, que nem todos conhecem, é assim também, uma paulada na cabeça de quem desafiá-la é o mínimo que pode acontecer. Aqui no caso, ou se aumenta a oferta de carga, para equilibrar com o número de caminhões, ou se diminui a frota de caminhões, para equilibrar com a oferta de carga.
Agora, vamos por partes. Como aumentar a oferta de cargas? Esta é uma pergunta de 1 milhão de dólares e eu bato a campainha. Aumentando a produção!
Quem apertou comigo ganha junto comigo. Mas – tem sempre um mas para atrapalhar a vida, dizia meu pai – estamos numa recessão braba desde pelo menos 2015. Na verdade, começou com a quebra das imobiliárias e dos bancos imobiliários dos EUA, em 2008. E viemos na corda bamba até 2015, fingindo que era só marolinha, com uma gastança danada e os juros mais altos do mundo, enquanto o mundo todo derrubava os juros e reduzia despesas para enfrentar a crise. Aí a presidanta Dilma resolveu baixar os juros a pauladas do sr. Tombini no Banco Central e as emendas ficaram muito piores que os sonetos.
Pois bem, estamos numa recessão herdada dos delírios e desmandos de 13 anos do PT no Puder e não dá para, num estalar de dedos, fazer a economia crescer para termos mais cargas para os caminhoneiros e transportadoras carregarem. Pessoal, não adianta pedir a volta dos militares porque milico nenhum vai dar jeito nas leis econômicas e fazer a engrenagem funcionar ao contrário do que manda o mecanismo do relógio. É tic-tac e não tac-tic, entenderam?
Pois bem – putz, prometo que não escrevo mais pois bem, porque é pois mal, como vocês vão ver –, se não dá para aumentar a oferta de cargas e assim darmos uma solução científica para o problema, pois vai levar anos para tirar o país do buraco em que nos meteram e nos metemos – eles não tomaram o Puder pelas armas, mas pelo voto democrático e majoritário de seus apoiadores –, resta-nos o quê?
Essa resposta também vale 1 milhão de dólares e, talvez, a minha integridade física. Por isso não convido ninguém a apertar comigo a campainha. A resposta é…
Bom, deixa isso pra lá.
Mas que é verdade verdadeira, isso é. Como fazer, é muito simples. E tem dinheiro de sobra no mundo para isso. Basta querer. Sinceramente, não sei se vão querer. Mas outra hora, quando a poeira baixar, eu volto ao assunto.
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Nelson Merlin – Jornalista. Editor e diretor de Redação em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná