Vão botar a mãe no meio. Coluna Carlos Brickmann
VÃO BOTAR A MÃE NO MEIO
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 13 DE MAIO DE 2018
Acha que há candidatos demais à Presidência? Pois o número se reduziu muito, falando-se apenas dos mais conhecidos; e, do jeito que a coisa vai, sobra pouca gente. Os motivos são variados, mas há um predominante: já estão batendo nos candidatos abaixo da cintura. E vão botar a mãe no meio.
Michel Temer, embora presidente, chefe de um grande partido e dono da máquina oficial, desistiu. É difícil se eleger com tantas denúncias e inquéritos (e com aliados presos). Joaquim Barbosa parou: aos 64 anos, cobrando mais de R$ 200 mil por parecer, com tempo para viajar, sua vida pioraria tendo de falar da casa de Miami (comprada legalmente, mas e daí?), e de uma briga conjugal já resolvida, mas que sempre volta à tona.
Lula está preso e não pode ser candidato, faça as firulas que fizer. Plano B? Haddad está na delação da empreiteira UTC, que afirma ter-lhe passado R$ 2,6 milhões em propinas extraídas da Petrobras. Jaques Wagner? É investigado num caso de R$ 82 milhões de propinas da Odebrecht e OAS.
Alckmin patina (isso antes dos inquéritos). O PSB, possível aliado, está sob investigação em seu maior reduto, Pernambuco. É coisa séria: Armando Monteiro, que há anos se preparava para o Governo, desistiu (como o candidato do partido à Presidência, Joaquim Barbosa). O PMDB poderia dar tempo de TV a Alckmin, mas 70% dos diretórios o rejeitam.
Campanha é para quem tem casca dura. E não teme ficar em evidência.
Meninos…
Quem acha que o regime militar era melhor não viveu o regime ou só se lembra de que, naquele tempo, era quase 50 anos mais jovem. O regime militar foi imaginado inicialmente por seus formuladores civis, entre eles o grande Júlio de Mesquita Filho, notável intelectual, como um período relativamente curto, seis meses, em que o país seria passado a limpo, após o qual haveria eleições livres, nas quais a corrupção não influiria.
Foi aí que se descobriu que quem toma o poder não mais quer devolvê-lo. E para que varrer a corrupção se ela facilita a vida de quem está no poder? Essas reformas tão caras de votar, hoje, seriam fáceis na época. Não foram feitas.
…eu vi
E algo que se comentou durante muito tempo foi comprovado, não por brasileiros: pela CIA, em documento de 1974 liberado há dois anos. Ali se confirma um trecho dos ótimos livros de Elio Gaspari sobre o regime militar, a frase de Ernesto Geisel ao general Dale Coutinho: “Ó Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas acho que tem que ser.”.
Segundo o documento da CIA, enviado ao secretário de Estado Henry Kissinger, num encontro de 30 de março de 1974, Geisel, Figueiredo (chefe do SNI, serviço de informações do regime), Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino (ambos generais, Tavares chefe do CIE, Centro de Informações do Exército, Avelino que o sucederia), conversaram sobre assassínios cometidos por ordem do Governo. Geisel deu ordem para continuar a matar, desde que cada vítima fosse aprovada por Figueiredo.
Há quem defenda a volta da ditadura. Mas ditadura boa não existe.
Verdades e mentiras
O general Hamilton Mourão, futuro presidente do Clube Militar, quer saber por que o documento surgiu justo agora. Simples: porque em 2015, dezembro, acabou o prazo de sigilo. Pergunta também “a quem interessa manchar a reputação das Forças Armadas”. A ninguém – a menos que, por interesses outros, tentem responsabilizar os militares de hoje pelos crimes da ditadura que acabou há 43 anos. Absurdo; outra época, outros tempos.
Mentiras e verdades
O PSOL, depois de uma série de ataques a Israel, decidiu se defender das acusações de antissemitismo – a direção do partido sofre pressões de judeus de esquerda que fazem parte do partido e não são ouvidos no tema. O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, diz que chamar Israel de Estado genocida (e não se manifestar sobre os anos de mortandade na Síria) não é expressão de antissemitismo. Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Presidência, diz que antissemitismo é inadmissível, assim como a islamofobia. Ambos, Boulos e Medeiros, dizem defender as resoluções da ONU que Israel rejeita (embora não se manifestem sobre a resolução da ONU que criou Israel e é rejeitada pelo Irã e boa parte dos Estados árabes).
Falam a verdade? Dois membros importantes do PSOL desmentem a direção: o deputado federal Jean Wyllys escreve Jean Wyllys – CHEGA DE ANTISSEMITISMO NA ESQUERDA — E … (clique para ler)
E Bruno Bimbi, integrante da Executiva do PSOL-Rio, jornalista, professor universitário e ativista gay (como Wyllys, aliás) escreve, sobre as declarações antissemitas do partido, “Não em nosso nome” – http://institutobrasilisrael.org/colunistas/bruno-bimbi/geral/nao-em-nosso-nome/
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É de Jean Wyllys:
“Nem o PSOL como um todo, nem tampouco todas as suas figuras públicas fazem coro a essa nota rasa, simplista e redutora de uma questão complexa como o conflito israelense-palestino e quase ofensiva ao povo judeu como um todo. A nota é vergonhosa como vergonhosa é a falta de profundidade de quem a redigiu e a falta de responsabilidade de quem a publicou em nome de todo o partido.
Em meu nome não!
Por último, reitero que nossa posição é pela existência e autonomia de dois Estados, na linha dos acordos de Genebra (construídos por ativistas pela paz israelenses e palestinos), e que lutamos pelo fim das violências contra mulheres, LGBTs e minorias religiosas nas ditaduras do Oriente Médio inimigas de Israel, que pouco estão preocupadas com o empobrecimento da Palestina e do seu povo (ao contrário!), e nem por isso são alvo de críticas por parte de membros do PSOL ou dessa esquerda caricata.”
Se é ele que diz, quem sou eu para discordar? Mas há algo enganoso aqui. Por que “esquerda caricata”? No partido dele, por exemplo, além dele próprio e mais meia-dúzia de recalcitrantes, quem mais discorda da caricatura? No PT, ainda a grande matriz de pensamento da esquerda brasileira, quem assinaria junto o manifesto de Wyllys? Paulo Pimenta, que comanda um agregado de simpatizantes do Hamas no Rio Grande do Sul? Dilma, a mulher sapiens, que já propôs entendimento e diálogo com o Isis? Gleisi, a autêntica The Good Wife, que publicou vídeo dirigido ao “mundo árabe”, no qual declamou sua islamofilia pela grande vocação democrática que partilham? (Sim, é pra rir… da gente.) Ou o resto da esquerda, aí incluso o PCdoB de Jandira Feghali, que julga islamofobia a divulgação das estatísticas que demonstram que 90% dos atos terroristas nos últimos 20 anos terminaram com urros de Allahu Akbar (tal como, aliás, ocorreu ontem mesmo em Paris)? Que fique claro: a esquerda é, majoritariamente, muito majoritariamente, antissemita. Antissemita e racista. Se isso é a “caricatura da esquerda”, confirma-se que nossa esquerda se reduz, como sempre desconfiei, a uma grande, imensa, interminável caricatura.
Mas podem ter certeza, amigos, de que, no hora do voto, vão pedir o meu.