Ganhando tempo. Por Maria Helena RR de Sousa
Ganhando tempo
Por Maria Helena RR de Sousa
O Lula ganhou tempo, repito. Já nós, os impacientes que sustentamos os togados do STF, nós perdemos tempo.
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, na Veja online, 23 de março de 2018
O coelhinho da Páscoa é muito amigo do paciente Lula. Não sei em que moita ele escondeu os ovinhos de chocolate do ex-presidente, se foi num cantinho do terraço do apartamento em São Bernardo, ou se foi nos jardins do sítio em Atibaia. Mas que os ovinhos foram entregues, foram. Ou há outra explicação para esse auriverde habeas corpus preventivo?
É verdade! Habeas corpus preventivo! Traduzindo: um salvo conduto para o ex-presidente, um dos mais célebres pacientes com direito a foro privilegiado!
Por falar nisso, você sabe que segundo estimativa da Ajufe – Associação de Juízes Federais, temos cerca de 45 mil pessoas com direito a foro privilegiado no Brasil? Somos ou não somos generosíssimos com nossos figurões? Aproveito para perguntar: qual é a duração de um foro privilegiado? Se o detentor de tal regalia viver cem anos, ele terá direito a esse privilégio por quanto tempo?
…Esses senhores da capa preta vão folgar 10 dias por conta da Semana Santa. Nossa Semana Santa tem 3 dias. A deles tem um calendário diferente. É natural. Se eles são diferentes, desde o momento em que receberam a toga, seu calendário tem que ser outro e não o nosso…
O fato concreto (gosto muito de repetir essa expressão lulesca) é que o Lula ganhou mais uns dias livre das garras da Lei. Também, com tantos advogados – e dos bons, dos caros – se ele ao menos não ganhasse um tempinho a mais, ia ficar muito feio para a banca que o defende! Ficou feio para o STF, em minha opinião, mas isso não tem a menor importância. O que é imprescindível é que não fique feio para o paciente e seus defensores.
O Lula ganhou tempo, repito. Já nós, os impacientes que sustentamos os togados do STF, nós perdemos tempo e o respeito por nós mesmos. Esses senhores da capa preta vão folgar 10 dias por conta da Semana Santa. Nossa Semana Santa tem 3 dias. A deles tem um calendário diferente. É natural. Se eles são diferentes, desde o momento em que receberam a toga, seu calendário tem que ser outro e não o nosso.
Fico sem graça, logo após assistir à boa entrevista do general Villas Bôas ao jornalista Roberto D’Ávila, em não atender ao seu desejo de que os brasileiros alimentassem sua autoestima pelo nosso Brasil. Segundo ele, nosso país merece mais amor da nossa parte. Ele garante que o Brasil é muito maior do que o abismo que o ameaça.
Gostaria de atendê-lo, já que sei que não há brasileiros que mais conheçam o Brasil do que nossos soldados. Mas aí assisto às duas últimas sessões do STF que derrubam minha intenção. Numa, vibro com a bela defesa que o ministro Luís Roberto Barroso faz do STF ao tentar calar o falatório estranho do ministro Gilmar Mendes. Digo tentar porque a mim me parece que esse senhor é incontinente… Mas noutra, a de ontem, 22, fico envergonhada ao ver o STF criar uma Lei Lula, ou seja, a que impede o Lula de ser tratado como qualquer outro cidadão.
Fica difícil, general. Mil perdões.
“Conta uma história que havia um burro amarrado a uma árvore. O demônio veio e o soltou.
O burro entrou na horta dos camponeses vizinhos e começou a comer tudo.
A mulher do camponês dono da horta, quando viu aquilo pegou o rifle e disparou.
O dono do burro ouviu o disparo, saiu, viu o burro morto, ficou enraivecido, também pegou seu rifle e atirou contra a mulher do camponês.
Ao voltar para casa, o camponês encontrou a mulher morta e matou o dono do burro.
Os filhos do dono do burro, ao ver o pai morto queimaram a fazenda do camponês.
O camponês, em represália, os matou.
Aí perguntaram ao demônio o que ele havia feito e ele respondeu:
– Não fiz nada, só soltei o burro.
Conclusão: se você quiser destruir um país, solte o burro!”
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Na pátria do futebol essa trágica historinha de ficção não tem como se tornar realidade, graças ao seu manso e cordato povo, além da eficácia dos 11 profissionais dirigentes do “Sempre Trocaremos Favores“.
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