DANIEL ALVES

Em campo, um novo manto. Coluna Mário Marinho

Em campo, um novo manto

COLUNA MÁRIO MARINHO

O jogo de amanhã, 23, da Seleção Brasileira, contra a Rússia, em Moscou, além de importante preparação para a Copa do Mundo, marca também a estreia de novos uniformes (na foto ao alto da coluna, Daniel Alves com o novo uniforme).

Segundo a fabricante, Nike, os novos mantos foram inspirados nos uniformes usados nas copas de 1958 e 1970, duas seleções campeãs do mundo e que encantaram o mundo do futebol.

Aparentemente não há muitas mudanças.

Porém, tecnologicamente, garante o fabricante, o tecido é mais leve e mais arejado.

O primeiro uniforme permanece com a camisa amarela e o segundo camisa azul.

Em seus primeiros jogos, a Seleção Brasileira utilizou camisa branca e calção azul.

Na trágica Copa de 1950, o uniforme foi branco.

Com perdemos a Copa no jogo final contra o Uruguai, o uniforme ficou com fama de pé frio. Assim, na Copa de 1954, o Brasil se apresentou com calção azul e camisa amarela.

Foi aí que ganhou o apelido de canarinha, dado pelo locutor Geraldo José de Almeida.

No jogo final da Copa de 1958, como o adversário foi a Suécia, dona da casa e também de uniforme amarelo, o Brasil teve que jogar de camisas azuis.

Temendo que os jogadores, sempre supersticiosos, estranhassem a cor da camisa, o homem de comunicação Paulo Machado de Carvalho, que era o chefe da delegação – e também muito supersticioso: usou o mesmo terno em todos os jogos – fez longa preleção para os jogadores, dizendo que aquele azul era da cor do manto de Nossa Senhora Aparecida e, portanto, sagrado. Assim, disse ele, todos os jogadores entravam em campo com as bênçãos da padroeira do Brasil.

Deu no que deu: chocolate de 5 a 2 na Suécia, primeiro título mundial e a revelação do Rei Pelé.

Que o novo uniforme de um amarelo mais intenso, mais vibrante, contagie nossos jogadores com um futebol mais intenso e mais vibrante.

Pagando

as passagens

Quem estava nas cercanias do estádio do Tupi, na cidade mineira de Juiz de Fora, estranhou quando o ônibus parou e dele começaram a descer os jogadores do Cruzeiro.

O que causou espanto foi o fato de o ônibus ser um coletivo normal da cidade e não um especial com o time.

A explicação: o ônibus que levava a delegação para o estádio quebrou ainda no caminho.

A solução encontrada foi pedir ao motorista de um ônibus urbano, que passava pelo local, para que se desviasse momentaneamente de sua rota e levasse os jogadores até o estádio, no que foi prontamente atendido.

Assim, o time chegou ainda a tempo de fazer seu aquecimento e vencer o jogo por 1 a 0. O jogo de volta será no domingo, no Mineirão.

A situação é inusitada, mas, não totalmente nova no Campeonato Mineiro.

Na década de 1950, a cidade de Barão de Cocais (100 quilômetros de Belo Horizonte) era representada no Campeonato Mineiro pelo Metalusina.

A cidade era conhecida pela forte Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas. E foi um engenheiro da Companhia, Alencar Peixoto, quem fundou o time em 1939.

Era um time pequeno, modesto, que ocupava sempre as últimas colocações do campeonato, até cair para a segunda divisão, em 1960.

Naquele campeonato de 1956, numa quarta-feira à noite, o adversário seria o temido Atlético em seu campo, o Estádio Antônio Carlos (que já não existe) no rico e sofisticado bairro de Lourdes, na Zona Sul da Capital Mineira.

A estrada que ligava Barão de Cocais a Belo Horizonte era muito ruim e vencer aqueles 100 quilômetros demandava viagem de mais de três horas.

Bem no meio da viagem, o ônibus que levava os atletas simplesmente quebrou. E quebrou no meio do nada: longe de algum posto de combustível, de algum vilarejo – longe do mundo.

Jogadores e dirigentes se colocaram à margem da estrada pedindo carona. Mas, quem iria parar para aquele monte de gente?

Até que uma boa alma parou. Inteirado da situação, o motorista se dispôs a levar três jogadores até o local do jogo.

Do outro lado da estrada, dirigentes tentavam carona para voltar à cidade e providenciar novo transporte.

Eu escutava o jogo em um moderno rádio Invictus (dotado de olho mágico para melhorar a sintonia) que havia em minha casa e acompanhei curioso e aflito o drama dos jogadores do pobre Metalusina.

Invictus

Até o horário de início do jogo, só três jogadores haviam chegado. Informado do problema, o juiz disse que esperaria 30 minutos.

Nesse meio tempo, chegaram mais quatro jogadores que, apressadamente, trocaram de roupa. Com sete jogadores, o juiz iniciou o jogo.

De repetente, no meio da transmissão do jogo, o repórter interrompia o narrador para informar sofregamente:

– Chegaram mais dois.

Com nove jogadores terminou o primeiro tempo e, pasmem, empatado em 1 a 1.

Para o segundo tempo, o time voltou completo.

Mais incrível do que a situação criada, foi o resultado final do jogo: Metalusina 3, Atlético 1.

A cidade de Barão de Cocais não dormiu à espera da chegada de seus heróis.

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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