Entre o Bem e o Mal ou Distorção da Realidade. Por Josué Machado

ENTRE O BEM E O MAL ou DISTORÇÃO DA REALIDADE

Por Josué Machado

…Tudo isso, como se fosse fácil identificar os limites entre o bem e o mal no meio absolutamente corrompido, poluído e enevoado em que proliferam esses seres interessados apenas em se dar bem…

Noutro dia, depois de uma análise despretensiosa da declaração de Luiz Inácio de que é dono da alma mais honesta deste país, retumbou no ar um silêncio amuado cheio de pesares, com o perfume amargo da censura.

Isso porque há um curioso fenômeno simplificador em curso por aí, exacerbado pelas redes sociais, não é novidade. Trata-se da DISTORÇÃO DA REALIDADE: cada lado maximiza os próprios argumentos e verdades em detrimento dos argumentos e verdades alheias: “MEUS argumentos são sólidos e reais; os SEUS são fátuos e irrelevantes, se é que existem.”

“EU ESTOU CERTO, VOCÊ ESTÁ ERRADO”

De um lado, quem vota nos candidatos DO GRUPO A, supostamente de esquerda ou agregados, sente-se obrigado a aceitar o pacote todo, não importa se o candidato ou o grupo que apoia tenha se enganado com parte da “captação de recursos” e embolsado algum.

É aceitável apenas a “captação” para o bem praticada pelos partidos do grupo, mas, se houve distrações, são perdoáveis porque praticados por gente do bem.

Entre os apoiadores, fulgura o vasto leque que vai dos maluquetes agressivos aos idealistas e aos intelectuais, às vezes “intelectuais”.

Daí a relativização da importância de Mensalão e Petrolão com julgamento ainda em curso.

“VOCÊ ESTÁ ERRADO, EU ESTOU CERTO”

Do outro lado, exatamente a mesma coisa com sinal contrário: os apoiadores dos candidatos DO GRUPO B, que chamam a si próprios generosamente de liberais, tendem a dar a seus preferidos a mesma irrestrita confiança, sempre aceitando as justificativas ou negativas dos embolsadores distraídos de sua patota.

Entre os que apoiam esse grupo se encontram desde os que acham que o Deus-Mercado tudo resolve até os saudosos de uma boa farda sempre honesta (claro, como não?) capaz de mandar os políticos adversários e aliados embolsadores distraídos para a cadeia ou para o espaço. Ainda que também haja claramente embolsadores às pencas também entre eles.

Daí a relativização também de coisas esquecidas e engavetadas como: caso Sivam, Banco Econômico/Pasta Rosa, compra de votos na reeleição de FHC, mensalão tucano-mineiro/Eduardo Azeredo, compra de trens em SP, etc.

TUDO OU NADA

O “torcedor” bem-intencionado de um ou de outro lado – dos dois lados, portanto –, pode até lamentar às vezes a tristeza em que se transformou seu ideal, MAS SE SENTE NO DEVER INELUTÁVEL DE ACEITAR O PACOTE TODO, portanto procura explicações para os enganos e embolsamentos distraídos; em caso contrário, corre o risco de se tornar adversário, ou pior, inimigo. Simplificando: a) ou comunista assador de criancinhas; b) ou reacionário milicoso.

Tudo isso, como se fosse fácil identificar os limites entre o bem e o mal no meio absolutamente corrompido, poluído e enevoado em que proliferam esses seres interessados apenas em se dar bem.

Na verdade, não todos: apenas 98,73%.

E assim a cena se transforma em tosco e definitivo Corinthians x Palmeiras cheio de rancor e ressentimento.

Choremos.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

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