A cereja do bolo. Por Josué Machado
A CEREJA DO BOLO
Josué Machado
…O fato é que não há razão para estranhar a nomeação cristianista para o Ministério do Trabalho. Ela é apenas o que se poderia chamar de “cereja do bolo” (lamentável lugar-comum, mas vá lá) de um governo marcado por gente já encanada como Geddel, Henrique Alves…
Muita gente está revoltada com a nomeação por Michel Miguel da deputada Cristiane Brasil Francisco como titular do Ministério do Trabalho. Foi o que se viu também no carnaval.
Isso apenas porque a carnavalesca Cris (como a chamam seus companheiros de navegação nos mares de Angra) não tem nenhuma, nenhuminha qualificação para o cargo. Para nenhum cargo público, aliás.
Foi num desses passeios lanchísticos nos mares angrinos que Cris teve a brilhante ideia de justificar, em gravação por celular, parece, sua nomeação para o ministério; estava cercada de pujantes senhores seminus, que confirmaram enfaticamente as superqualificações cristianebrasilianas. Seminus? E se estivessem nus, embora não se notasse na gravação, ninguém teria nada com isso porque ela é demaior, como são demaiores e saudáveis seus robustos guarda-costas.
Falam mal de Cristiane também apenas porque em 2014 foi gravada ameaçando servidores de demissão se não votassem nela para deputada; na época era vereadora licenciada e ocupava o cargo de titular da “Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável e da Qualidade de Vida” da Prefeitura do Rio de Janeiro. (Belo título!)
Mais ainda: falam mal dela só porque deixou de pagar os direitos trabalhistas – trabalhistas! – a dois ex-funcionários. E porque mandou funcionária dela na Câmara pagar um deles com o próprio salário — salário dela, funcionária.
E ainda mais: há quem não queira a quase virtuosa Cris ministra apenas porque foi acusada de pagar traficantes de drogas para fazer campanha em favor dela em região favelosa. Simples associação com o tráfico.
Nada espantoso tratando-se de Cris. Terá ela aprendido tais métodos com papai Roberto Jefferson, o proprietário do PTB, visto com reservas apenas porque foi preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro? Pois Robertão foi reivindicar a nomeação da filhota diretamente a Michel Miguel em pleno Palácio do Planalto, garantindo ao presidente balança-mas-não-cai os 16 votos idealistas de seus patrióticos comandados petebenses.
“Como obstar pedimento de tal jaez?!” – terá pensado Temer. “Empossá-la-emos, custe o que custar!”
O fato é que não há razão para estranhar a nomeação cristianista para o Ministério do Trabalho. Ela é apenas o que se poderia chamar de “cereja do bolo” (lamentável lugar-comum, mas vá lá) de um governo marcado por gente já encanada como Geddel, Henrique Alves, ou à espera, como o Moreira Gato-Angorá Franco, Eliseu Padilha (ambos réus), o campeão de sumô Marun e outros. Sem esquecer o próprio Michel. Está lá também o pimpão de todos os governos e tendências, Kassab. A relação é enorme.
Não que esse elenco seja muito pior do que o de governos anteriores, já que a matéria de que são feitos tais governos é a mesma, sempre e sempre. E sempre com aquele odor…
Que venha, pois, a Cerejona!
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade