Exercício de paciência. Coluna Mário Marinho
EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA
COLUNA MÁRIO MARINHO
A Copa do Brasil, além de ser uma competição agora generosa em premiação, é uma disputa importante, pois abre a possibilidade de chance para os pequenos.
Normalmente, as grandes competições são reservadas aos grandes times, os mais ricos, os mais famosos.
Com 91 times disputando, abrem-se as possibilidades dos 90 minutos de fama e audiência na tevê que a Copa do Brasil pode proporcionar.
Inteligentemente, o Regulamento foi mudado para que os times pequenos possam receber os grandes em suas casas, dando também à torcida a oportunidade de ver de perto times dos grandes centros.
Alguns times, talvez por não terem muita torcida ou para tentar ganhar alguma grana ou ambas as opções anteriores, vendem o seu mando de jogo.
Foi o caso do Madureira que deveria receber o São Paulo no Rio, mas acabou vendendo o mando para um empresário que negociou com a prefeitura de Londrina.
Não sei se houve algum lucro, pois os dois times não despertaram o interesse da torcida no Estádio do Café que recebeu pouco menos de cinco mil torcedores.
Mas, talvez pior mesmo seja quem ficou em casa assistindo pela televisão.
O torcedor tricolor que ficou em casa sofreu e se decepcionou.
Dada a fragilidade do adversário, já aos 16 minutos o tricolor fez 1 a 0, numa bela jogada de linha de fundo.
Foi só o que teve de bom e bonito.
Quem assistiu apenas por gostar de futebol, não viu nada que o agradou.
Quem assistiu por dever de ofício, teve de exercer longamente sua capacidade de paciência. Êta jogo ruim, sô!
Se o Regulamento da Copa leva o time grande a fazer o primeiro jogo fora de casa, dá-lhe a compensação de jogar pelo empate. Trata-se de uma boa vantagem.
Teoricamente, o São Paulo é muito superior a Madureira. Mas, o que se viu na prática foi uma diferença muito pequena.
Tanto assim, que os poucos são-paulinos que compareceram ao jogo, vaiaram sem dó o seu time.
E mais: o experiente técnico Dorival Jr. acostumado a assistir de perto espetáculos ruins e saber justificá-los depois, apresentou-se totalmente constrangido para as entrevistas pós-jogo.
Não achou palavras, não achou desculpas.
Aí, o torcedor do Tricolor já começa a pensar: será que vamos repetir 2017?
Ele ou ela?
Ela ou ele?
A Superliga Feminina de Vôlei está sendo agitada na sua versão deste ano por uma jogadora que, até bem pouco tempo, seria um jogador: Tifanny.
Atleta do Vôlei Bauru, Tifanny, de 1,94 metro de altura, está arrasando nos jogos da Super Liga.
Na última terça-feira, no jogo contra o Dentil Praia Clube, ela anotou 39 pontos e bateu o recorde de pontos em uma partida.
A média dela te sido superior à media das outras atacantes do País. Sua média nas últimas rodadas é de 22,85 pontos por partida. Em segundo lugar, vem Bruna, do Pinheiros, com 17,1 e em terceiro Tandara, do Nestlé, com 18,3.
Tifanny nasceu Rodrigo Pereira, em Goiás, em 1984. Foi a sétima criança de uma família pobre que o pai abandonou e deixou por conta da mãe, dona Amália.
Ela conta que bem cedo descobriu sua homossexualidade, mas, por sua altura, resolveu jogar vôlei. Alcançou algum sucesso, inclusive na Europa.
Há cerca de cinco anos, ainda jogando na Europa, ela iniciou a transição de gênero, enfrentou duas cirurgias e um rigoroso tratamento hormonal.
Tifanny faz sucesso no vôlei feminino brasileiro, mas levanta objeção de algumas pessoas ligadas ao esporte.
Segundo as normas do Comitê Olímpico Internacional, um atleta não precisa fazer cirurgia de mudança de sexo para competir. Basta apenas, diz lei do COI, que o nível de testosterona se mantenha abaixo de 10 nanogramas por litro de sangue, que é o caso de Tifanny.
Quem é contra, reage dizendo que o corpo dela, moldado por 30 anos de muita testosterona, sempre dará a ela mais vantagem, mesmo que tenha agora o nível do hormônio masculino diminuído.
É discussão para metros e metros e mais metros.
Nos anos 80, surgiu nos Estados Unidos uma tenista profissional chamada Rennée Richards.
Rennée impressionava pela força de seus golpes e, principalmente, pelos saques quase indefensáveis para as adversárias.
A explicação foi bem simples.
Até 1976, Rennée era o médico Richard Raskind, filho de tradicional família de Nova York, que era um bom jogador amador de tênis.
Richard fez operação de mudança de sexo, passou a jogar tênis entre as mulheres, se deu bem e resolveu se profissionalizar.
Chegou a disputar torneios importantes, levantou alguns títulos até que sua origem foi descoberta e abriu-se a mesma discussão que Tifanny enfrenta hoje.
Rennée enfrentou processos jurídicos para ter o seu direito de jogar garantido, nunca se intimidou diante do preconceito.
Quando encerrou a carreira, passou a ser técnica de Martina Navratilova, uma das maiores tenistas da história.
Atualmente, Rennée não está mais ligada ao tênis: voltou a exercer a medicina.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)