Ansiedade e a Mulher. Por Meraldo Zisman
Ansiedade e a Mulher
Meraldo Zisman
… Para ela, ataques como esse representam o momento político brasileiro, onde correntes conservadoras ganham cada vez mais espaço na política e na mídia. Mas afirma que isso não é motivo para se calar. “Perseguições políticas sempre acontecerão neste cenário, e 2018 promete ser um ano muito difícil para a esquerda. Mas nós não podemos deixar de se manifestar por conta dessas perseguições”, completa…
(https://www.geledes.org.br/site-busca-voluntarios-para-atacar-feministas-com-acido-sulfurico/)
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O mundo virtual é diferente da realidade. Aquela realidade na qual nasceu e foi criada e pensou que sempre existiria. Na família é onde ocorrem os maiores dos crimes. Sabe-se que todo santo dia morre uma mulher assassinada pelo marido ou pelo amante.
As mulheres apresentam o dobro de chance de apresentar o quadro de ansiedade patológica quando comparado com os homens. Enquanto 20% delas apresentam algum episódio depressivo ao longo da vida, 12% dos homens sofrem o mesmo. As mulheres têm duas vezes mais depressão do que os homens, tentam duas vezes mais o suicídio. Fatores sociais, entre outros, influenciam na evolução das doenças.
Na última década, assistimos à vitória das mulheres mais esforçadas e atinadas na escola, nos hospitais, na empresa, nas academias e dos antigos machos dominantes, arrogantes e fracos, sem iniciativa, não restou grande coisa.
Quando verifico a repercussão do assédio contra as mulheres me vem na mente os anos de dominação masculina e a submissão da mulher. Embora não concorde com o espetáculo midiático que se forma em torno do assédio que sofreram ou inventaram, certos bloqueios à sua integridade física ou moral, seu silêncio sobre um fato que todos sabíamos existir como tudo que é reprimido, represado, a revolta acontece em momentos inoportunos e não poucas vezes com a pessoa errada, que não tem culpa ou, pelo contrário, é solidária ao seu sofrimento de angustia, amargura, paciência e resignação. Muito embora tais pessoas nada tenham feito para minorar os sofrimentos das mulheres.
Para dar um exemplo gritante a excisão feminina é uma mutilação genital, praticada ainda nos países da África e Ásia que consta na amputação do clitóris para que a mulher não tenha prazer durante o ato sexual. Em qualquer caso, as mulheres sofrem mais de ansiedade do que os homens.
A mulher que quer ser livre, viver para ela mesma, procura trabalho. E quando encontra, continua a procurar porque sabe que de um momento para outro pode perder o emprego. Aí ela começa a agir não de acordo com o que se espera dela, mas de maneira que não perca o emprego. Ela sente que a nova tecnologia fará diminuir o número de empregos e, além do mais, a nossa heroína se entedia no trabalho.
O mundo virtual é diferente da realidade. Aquela realidade na qual nasceu e foi criada e pensou que sempre existiria. Na família é onde ocorrem os maiores dos crimes. Sabe-se que todo santo dia morre uma mulher assassinada pelo marido ou pelo amante.
A tensão apreensiva, a inquietação que nasce do fato de se sentir em perigo iminente, mas vago, de origem desconhecida, é que leva à ansiedade.
Sem sombra de dúvida, a ansiedade é onipresente na sociedade pós-moderna. E nem é preciso ir muito longe para constatar tal fato. Basta perguntar para quem está, neste momento, próximo a você, se é ansioso ou não. A maioria dirá que sim. E se for mulher ainda mais, lembrando que está plantado no seu inconsciente social (a parte específica da experiência dos seres humanos que a sociedade repressiva não permite que chegue à sua consciência), parafraseando o psicanalista Erich Fromm (1900-1980): “O perigo do passado era que os Homo sapiens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que as pessoas se tornem autômatos”.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).