Personagens da Copa do Mundo – VIII. Tostão, o Mineirim de Ouro. Coluna Mário Marinho

PERSONAGENS DA COPA DO MUNDO – VIII

TOSTÃO

O Mineirim de Ouro

COLUNA MÁRIO MARINHO

O Brasil não se preparou bem para a Copa de 1966, na Inglaterra.

Na verdade, a desorganização predominou durante toda a fase de preparação e também durante a disputa da Copa.

João Havelange, presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que mandava no futebol, afastou Paulo Machado de Carvalho, dirigente em 1958 e 1962, e assumiu o comando da Seleção.

Foram convocados 47 jogadores que passaram por quatro cidades na época dos treinos: Lambari (MG), Caxambu (MG), Teresópolis (RJ) e Serra Negra (SP).

A Seleção tinha jogadores da Copa de 62, como Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Pelé e Garrincha, além de outros que fariam sucesso na Copa de 70, como Tostão, Gérson e Jairzinho. Mas a mistura não deu liga.

O Brasil estreou contra a Bulgária (Portugal e Hungria eram as outras seleções do Grupo 3) e venceu, 2 a 0, mostrando futebol totalmente apático.

Para o segundo jogo, contra a Hungria, Pelé foi poupado, pois estava contundido. Derrota brasileira: 3 a 1.

Veio o jogo decisivo contra Portugal e o técnico Vicente Feola mudou o time todo.

Dos 22 jogadores que foram à Inglaterra, somente dois não jogaram: o jovem Edu, 16 anos, e Zito, que viajou machucado e não se recuperou.

Foi uma campanha feia, muito feia.

Poucos se salvaram do desastre geral.

Mas aquela seleção revelou um mineirinho que iria brilhar muitas vezes na Seleção Brasileira, principalmente na Copa do Mundo de 1970: Eduardo Gonçalves de Andrade, então com 19 anos, troncudo, o que fazia com que ele parecesse mais baixo do que realmente era e atendia pelo apelido de Tostão.

Tostão foi uma moeda de pouco valor. Na época do nascimento de Tostão, a moeda valia 10 centavos e era pequena também no tamanho.

O garoto Eduardo nasceu no conjunto habitacional do Iapi, em Belo Horizonte. Ali, nas quadras de futebol de salão, deu seus primeiros dribles.

Depois, atravessou a Avenida Antônio Carlos e foi jogar no Imperial, um time de várzea.

Aliás, sobre o Imperial, dois detalhes: meu irmão, Márcio, foi goleiro do Imperial antes de ser contratado pelo Cruzeiro, onde chegou a ser campeão mineiro.

Márcio saiu do Imperial e abriu a vaga para mim, onde fui goleiro que ora era elogiado, ora era criticado. Coisas da vida.

Tostão saiu do Imperial e foi para o América de BH.

Em 1965 transferiu-se para o Cruzeiro que pagou nota preta por um garoto ainda juvenil.

Ali, brilhou Tostão.

Na Copa do Mundo de 1966 fez apenas um jogo, contra a Hungria, e marcou um gol.

Mas, daí para frente, Tostão passou a fazer parte de todas as listas de convocação da Seleção.

Na campanha das Eliminatórias para a Copa de 1970, ele foi o artilheiro e construiu vitórias espetaculares ao lado de Pelé.

Na noite de 24 de setembro de 1969, em jogo contra o Corinthians, no Pacaembu, Tostão levou uma bolada no olho, bola rebatida pelo zagueiro Ditão, e sofreu descolamento da retina.

Durante os meses seguintes, Tostão viveu o drama de uma recuperação delicada e dolorida. Sua participação na Copa do Mundo do México, em 1970, era colocada em dúvida a todo momento.

Mas ele se recuperou e foi importantíssimo dentro do esquema tático do técnico Zagallo para a conquista do tricampeonato Mundial.

Em 1972 ele foi negociado com o Vasco da Gama.

Ficou pouco tempo: com menos de dois anos de contrato, abandonou o futebol devido ao agravamento de sua contusão.

Abandonou o futebol literalmente: recusava-se a dar entrevistas e até mesmo a ir aos estádios. Estudou medicina, se formou e se tornou professor da Escola de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Poucos anos depois, tentei entrevistá-lo em Belo Horizonte, para matéria especial do Jornal da Tarde, mas, por telefone, muito amável, recusou-se com a seguinte explicação:

– Eu optei por tirar o futebol da minha vida. Eu sempre gostei muito de futebol, se continuasse indo a campo ou concedendo entrevistas, meu sofrimento seria muito maior.

Por uma dessas ironias do destino, reencontrei Tostão no seu reencontro com o futebol, no estádio Del Alpi, em Turim, na Copa de 1990. Na época, eu trabalhava como assessor de imprensa da Credicard e Tostão fora contratado para acompanhar um grupo de torcedores brasileiros usuários do cartão.

Tostão ficou maravilhado com os estádios da Itália e o bichinho do futebol o picou novamente. Na volta ao Brasil, tornou-se comentarista esportivo.

O apelido, Tostão, leva muita gente, até hoje, a imaginar um jogador extremamente baixo. Na Copa de 1970, Tostão media 1,72 m de altura, apenas um centímetro a menos que Pelé.

Conheça mais sobre Tostão.

Tostão

  Eduardo Gonçalves de Andrade

(*Belo Horizonte, 25/01/1947)

Posição – Atacante

Jogos – 65 jogos (47 vitórias, 12 empates, 6 derrotas, 35 gols)

Copas disputadas – 1966, 1970

Títulos pela Seleção – Copa Rio Branco (1967, 1968); Copa do Mundo (1970); Copa Roca (1971); Taça Independência (1972).

Clubes em que jogou – América-MG, 1962 a 1963; Cruzeiro-MG, 1964 a 1971; Vasco da Gama-RJ, 1972 a 1973.

Vejam imagens espetaculares de gols, dribles e assistências de Tostão

https://youtu.be/Bc7hbhxq2ns

IMAGEM ABERTURA:
Tostão abraça Pelé que marcou o gol da vitória sobre o Paraguai, no Maracanã, 1 a 0 e classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1970

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
 (DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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