Personagens da Copa do Mundo – VI. Pelé. E surge, na Suécia, o Rei do Futebol. Coluna Mário Marinho
PERSONAGENS DA COPA DO MUNDO – VI
PELÉ
E surge, na Suécia, o Rei do Futebol
COLUNA MÁRIO MARINHO
É um fenômeno tão raro quanto surgir, por exemplo, um novo Leonardo da Vinci. Ainda mais com aquela idade, 17 anos.
Foi assim que o mundo conheceu, reverenciou e elegeu Rei do Futebol o menino magrinho, nascido em Três Corações, Minas Gerais, que passaria a ter como súditos bilhões de amantes do futebol.
Naquele ano de 1958, o Brasil era governado pelo mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, um sorridente e empreendedor presidente que prometera o crescimento de 50 anos em cinco.
Naquele ano, seria inaugurado o Palácio da Alvorada, o primeiro prédio da nova capital, Brasília, ainda em construção.
Se JK esbanjava otimismo, o mesmo não acontecia com aquela Seleção que estava embarcando para a Suécia, onde disputaria a Copa do Mundo. O brasileiro ainda sentia o gosto amargo da derrota de 1950, no Maracanã, e a pálida participação na Copa de 1954.
Para completar o clima de pessimismo, até a classificação para a Copa havia sido meio sem graça: empate com o Peru, em Lima, 1 a 1, e vitória no Maracanã, 1 a 0, com o gol de folha-seca de Didi, craque do Botafogo carioca.
De novidade, mas o que poucos sabiam, o comando estava entregue a um empresário paulista do ramo das comunicações, Paulo Machado de Carvalho, dono da TV Record. Doutor Paulo, como era conhecido, reuniu-se com três jornalistas esportivos, Paulo Planet Buarque, Ary Silva e Flávio Iazzetti, e com eles elaborou minucioso plano de preparação da Seleção.
O plano foi aprovado por João Havelange, que, naquele ano, assumia a presidência da Confederação Brasileira de Desportos, a CBD, que mandava no futebol brasileiro.
No jogo de despedida da Seleção, contra o Corinthians-SP (que foi derrotado por 5 a 0), no dia 21 de maio, o zagueiro corintiano Ary Clemente machucou o jovem e ainda não muito conhecido Pelé, que saiu de campo de maca e só viajou para a Europa por ordem expressa do doutor Paulo Machado.
Para melhorar as finanças, a Seleção fez dois amistosos na Itália: no dia 29 de maio, venceu a Fiorentina, em Firenze, por 4 a 0. Reza a lenda que nesse amistoso Garrincha marcou o quarto gol depois de driblar duas vezes a defesa adversária, inclusive o goleiro. Por isso foi considerado irresponsável para vestir a camisa da Seleção, sacado do time pelo técnico Vicente Feola e só voltou no segundo jogo da Copa, a pedido dos jogadores.
O segundo amistoso foi contra o Internazionale, em Milão, no dia 01/06/1958, e também vencido por 4 a 0. Sem Garrincha.
A Copa apresentou duas boas novidades: a volta da Argentina e a estreia da União Soviética.
Os grandes favoritos para o título eram a Alemanha, campeã de 1954; a Hungria, sensação de 54; a Suécia, dona da casa; a União Soviética, que fora campeã olímpica em Melbourne (Austrália), 1956. A Inglaterra, também nome forte, jogava de luto: em fevereiro daquele ano, o avião que transportava o Manchester United acidentou-se e matou oito jogadores, entre eles três titulares da Seleção. Ninguém falava no Brasil.
Apesar de toda a organização, a delegação brasileira se esqueceu de registrar os números dos jogadores. Às pressas, um cartola uruguaio, que fazia parte do comitê organizador, foi quem deu os números. Por isso, o goleiro Gilmar disputou a Copa com o número 3; Garrincha, com a 11; Zagallo, com a 7; e, quis o destino, Pelé com a 10, que ele imortalizou.
Outro problema com a camisa foi na partida final. Como a Suécia, dona da casa, tinha camisas amarelas, coube ao Brasil usar camisas azuis. Paulo Machado de Carvalho, muito supersticioso (usou o mesmo terno marrom em todos os seis jogos), ficou com medo de que os jogadores sentissem qualquer problema com a camisa azul e os reuniu para dizer que eles jogariam com a camisa que era da cor do manto de Nossa Senhora Aparecida,Padroeira do Brasil – estavam, pois, abençoados.
Mesmo antes das bênçãos da padroeira Nossa Senhora Aparecida, o Brasil foi tocado por uma força maior: a força do menino Pelé.
Somente no terceiro jogo ele teve condições para entrar em campo vestindo a camisa 10 que imortalizou e nunca mais largou.
Foi no jogo contra a forte União Soviética, batida por 2 a 0, gols de Vavá. O time brasileiro foi este: Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo.
O jogo seguinte foi contra o Pais de Gales com seu futebol de forte retranca, que só um gênio poderia derrubar.
Pois foi o que aconteceu: Pelé recebeu o passe de Didi, já dentro da área, matou no peito e colocou no cantinho do goleiro Kelsey. Vejam que o garoto Pelé faz o gols e ainda não dava aquele soco no ar que tornou-se sua marca registrada.
Veja as imagens:
Estava aberto o caminho para o Brasil chegar à final.
O jogo seguinte foi a goleada sobre as França, 5 a 2, com 3 gols de Pelé.
E, no dia 26 de julho, a grande final contra a Suécia, os donos da casa que foram impiedosamente massacrados: 5 a 2, com direito a 2 gols de Pelé.
Onze anos depois, Pelé chegava à marca dos 1.000 gols. Marca que ainda não havia sido atingida por outro jogador de futebol com aquela idade: 27 anos.
O Rei reinou e continua sendo reverenciado.
Só os argentinos não enxergam isso.
Eleições
No Corinthians
No começo do mês que vem, haverá eleição que determinará quem será o novo presidente do Corinthians.
Três são os candidatos mais fortes: André Sanches, Roque Citadini e Paulo Garcia.
Sanches já foi presidente do Corinthians, com ousada administração que trouxe Ronaldo, o Fenômeno, para vestir a camisa alvinegra.
Citadini e Garcia têm longa ficha de serviços prestados ao Corinthians.
Sanches aproveitou o sucesso frente ao Timão, lançou-se na vida política, optando pelo PT partido que está atolado até o pescoço com os escândalos de corrupção. Sanches também é investigado.
E, cá pra nós, tá na hora de separar a política no futebol.
Citadini e Garcia são os dois melhores nomes, em minha opinião.
IMAGEM ABERTURA: o menino - Rei Pelé, aos prantos, é carregado pelo goleiro Gilmar
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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