Personagens das Copas – V. Nilton Santos, a Enciclopédia. Coluna Mário Marinho
PERSONAGENS DAS COPAS – V
Nilton Santos, a Enciclopédia
COLUNA MÁRIO MARINHO
A tragédia da Copa de 1950 causou trauma tão grande que a que a Seleção ficou sem atividades durante todo o ano de 1951 e só voltou às competições no dia 06/04/1952, disputando o Campeonato Pan-Americano de futebol no México, do qual saiu-se vencedora.
E se a Copa de 1950 foi a tragédia brasileira, a de 1954 foi a tragédia húngara.
A Copa do Mundo voltava à Europa do pós-Guerra e o país escolhido como sede foi a Suíça que, com sua neutralidade, sofreu poucos danos com a Guerra.
Trinta e nove países se inscreveram para as Eliminatórias que começaram em abril de 1953.
O Brasil teve Zezé Moreira, um grande estrategista, como técnico que levou alguns jogadores remanescentes da Tragédia do Maracanã.
A Seleção Brasileira tinha excelentes jogadores e passou bem pelas Eliminatórias em jogos contra o Chile e o Paraguai, que era o campeão sul-americano.
No dia 14 de março de 1954, a Seleção jogou pela primeira vez no Maracanã depois da Tragédia de 50 (1 a 0 em cima do Chile) e estreando o novo uniforme: camisa amarela com detalhes verdes e calção azul. A camisa branca usada em 50 fora aposentada – ela dava azar, acreditava-se.
Naquele ano de 1952 e no ano seguinte, 1953, a Seleção só fez jogos fora do País.
Em 14/03/1954, dirigida por Zezé Moreira e de camisas amarelas, a Seleção jogou no Maracanã com esta escalação: Veludo (Fluminense-RJ), Djalma Santos (Portuguesa-SP), Pinheiro (Fluminense-RJ) e Nilton Santos (Botafogo-RJ); Brandãozinho (Portuguesa-SP) e Bauer (São Paulo-SP); Julinho (Portuguesa-SP), Didi (Fluminense-RJ), Baltazar (Corinthians-SP), Humberto Tozzi (Palmeiras-SP) e Rodrigues (Palmeiras-SP).
Havia muita confiança nos brasileiros sempre ouvindo discursos ufanistas, vindos da imprensa ou de dirigentes.
Na véspera do embarque, a delegação foi recebida pelo presidente Getúlio Vargas, que não deixou por menos e disse que aqueles atletas “representavam a força e a resistência da raça brasileira”.
Porém, ao contrário de 1950, o grande monstro a enfrentar nessa Copa não era o ufanismo, mas, sim, a Seleção da Hungria, time que estava invicto havia quatro anos.
Só que a Hungria, esbanjando futebol e marcando muitos gols, perdeu para os alemães na final, numa das maiores injustiças de todas as Copas.
O Brasil fez apenas três jogos: 5 a 0 no México, 1 a 1 com a Iugoslávia, 2 a 4 para a forte Hungria.
Mas foi a estreia em Copa do Mundo do jovem Nilton Santos que, na Copa de 50, foi convocado como lateral direito e ficou na reserva de Augusto.
Nascia aí um lateral que se tornaria um mito e ganharia o apelido de Enciclopédia porque sabia tudo sobre futebol.
Em seus últimos anos no futebol, Nilton Santos mudou de posição e passou de lateral esquerdo para quarto zagueiro, onde também esbanjou categoria.
Apesar da idade, costumava chegar à frente dos adversários. Ao ser perguntad odne conseguia tanta velocidade, já quase com 40 anos, respondeu:
– Com o passar do tempo a gente conhece os atalhos do campo.
Nessa Copa, com o uniforme verde-amarelo, nasceu a Seleção Canarinho, apelido dado pelo jornalista paulista Geraldo José de Almeida.
Conheça um pouco mais do craque.
Nilton Santos – Nilton dos Santos
(*Rio de Janeiro, 16/05/1925)
Posição – Lateral-esquerdo. Mas foi convocado como lateral-direito, reserva de Augusto.
Jogos – 85 (64 vitórias, 11 empates, 10 derrotas, 4 gols)
Copas disputadas – 1950, 1954, 1958 e 1962
Títulos pela Seleção – Campeonato Sul-Americano (1949); Copa Rio Branco (1950); Taça Oswaldo Cruz (1950, 1955, 1961, 1962); Campeonato Pan-Americano (1952); Taça Bernardo O’Higgins (1955, 1961); Taça do Atlântico (1956, 1960); Copa do Mundo (1958, 1962).
Clubes em que jogou – Botafogo-RJ, 1948 a 1964.
Muito antes de encerrar sua longa carreira, Nilton Santos ganhou o apelido de “A Enciclopédia”, simplesmente por saber tudo de futebol.
Começou no profissionalismo tarde, já aos 23 anos, quando foi descoberto jogando futebol de praia.
Vestiu apenas duas camisas: da Seleção Brasileira (se despediu em 1962) e do Botafogo (parou em 1964, jogou 721 partidas).
Em 1950, ficou na reserva, mas, em 1954, foi titular nos três jogos. Em 1958, já era o melhor e mais respeitado lateral-esquerdo do futebol brasileiro.
Foi o primeiro lateral a mostrar um futebol ofensivo, revolucionando a posição. Naquela época, os defensores só defendiam. Na Copa de 1958, surpreendeu ao marcar um golaço contra a Áustria, na estreia do Brasil. Quando Nilton Santos começou a avançar, o técnico Vicente Feola ficou quase louco no banco e, desesperadamente, mandava o lateral voltar. Felizmente, ele não obedeceu.
Na Copa do Chile, em 1962, no jogo contra a Espanha, considerado o mais difícil de todos, cometeu um pênalti claríssimo. Mas o juiz marcou a falta fora da área, pois não percebeu que Nilton Santos deu dois passos para fora da área. Tranquilamente, sem se apavorar com a gravidade da situação, acabou por enganar o juiz.
Depois de correr atrás de muito ponta, Nilton Santos mudou de posição e passou a jogar como quarto-zagueiro. Mesmo assim, sempre chegava à frente do adversário. Quando um repórter perguntou-lhe como conseguia ser mais rápido do que muitos jogadores jovens, respondeu com simples sabedoria: “Eu vou pelo atalho”.
Sua estreia no Botafogo foi em 1948, num amistoso contra o América mineiro. Na Seleção, seu primeiro jogo foi em 1949.
O grande jornalista Armando Nogueira dedicou a Nilton Santos estes versos:
“Tu, em campo,
parecia tantos,
E, no entanto,
que encanto!
Eras um só;
Nílton Santos.”
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É ano de Copa
Estamos chegando ao final de 2017, um ano de muita turbulência no nosso amado Brasil. Ano de Corinthians campeão brasileiro, o que não tem nada a ver com turbulência.
De um Brasileirão em que a maior revelação foi técnico Fábio Carille, do Corinthians, e o craque foi o artilheiro Jô, aos 30 anos de idade.
Voltaremos a nos encontrar só no ano que vem, distância que percorreremos em apenas uma semana.
Que os deuses do futebol soprem os ventos a nosso favor, e que Deus, o único, sopre paz, saúde, harmonia para todos nós.
Até lá.
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NÃO DEIXE DE LER TAMBÉM:
- PERSONAGENS DA COPA DO MUNDO I – Preguinho, o primeiro artilheiro
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Grande amigo Marinho,
sua coluna sobre Nilton Santos encerrou maravilhosamente sua jornada de belas crônicas durante o ano que termina.
Quero lhe dar um abraço nesta troca de datas, para desejar que venha aí um ano muito feliz para você e a família toda.
Toinho Portela