Ninho de macacadas. Por Milton Blay (Exclusivo* para o Chumbo Gordo)

Ninho de macacadas

Milton Blay

– *Da União Europeia, Exclusivo para o Chumbo Gordo –

Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel, ao anunciar a futura transferência da embaixada norte-americana, de Tel Aviv à cidade santa do monoteísmo.

O mundo parecia que ia desmoronar. A comunidade internacional em peso condenou, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se em emergência e se mostrou preocupado com o risco de escalada da violência, nos territórios ocupados o Hamas incitou a sua militância a uma terceira intifada, enquanto os « experts » previram a morte do processo de paz.

… Com exceção de algumas lideranças da velha Europa, nenhuma voz se levantou de fato para condenar o magnata de Washington.

É cedo demais para fazer prognósticos, mas a verdade é que uma semana depois o mundo não desabou, nem o Oriente Médio. Com exceção de algumas lideranças da velha Europa, nenhuma voz se levantou de fato para condenar o magnata de Washington. Muito menos nos países árabes, que parecem ter apagado de sua memória o povo palestino.

A Arábia Saudita e seus aliados do Golfo nem sequer se manifestaram para um tímido « eu acho que não se trata de uma boa ideia ». Riad se transformou num aliado incondicional dos Estados Unidos, que por sua vez não escondem a simpatia por Mohammed ben Salman, o príncipe herdeiro do principal lugar sagrado do Islã. E Teerã, que como se sabe não morre de amores por Trump, tampouco bateu duro na decisão americana. Os aiatolás tinham mil e uma razões para fazê-lo, usando o seu braço armado no Líbano, o Hizbolá.

… Até Moscou está colocando panos quentes, com Putin querendo acima de tudo evitar problemas às vésperas de sua quarta eleição presidencial.

A Organização para a Cooperação Islâmica demorou seis dias para responder aos Estados Unidos e, timidamente, anunciar que Jerusalém Leste é a capital oficial da Palestina, considerando assim a decisão do Donald Trump “nula e sem efeito”. Nada a ver, portanto, com a declaração de guerra que alguns esperavam…

Até Moscou está colocando panos quentes, com Putin querendo acima de tudo evitar problemas às vésperas de sua quarta eleição presidencial. Com a economia russa em frangalhos, ele quer tranquilidade para poder assentar o domínio sobre os países vizinhos. Sabe que, para isso, conta com Donald Trump para fechar os olhos. Afinal, o ocupante da Casa Branca tem uma dívida a pagar: o apoio russo na sua eleição.

Os únicos que estão realmente descontentes com a mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém são os palestinos. Mesmo assim, divididos, sem lideranças e isolados, parecem não ter mais forças para partir para uma terceira intifada. Mahmud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, anunciou que os Estados Unidos se auto-excluíram das negociações de paz. Palavras, nada mais que palavras. A verdade é muito diferente.

… Trump vai usar essa janela de oportunidade? Para responder é preciso entrar no ninho de mafagafos que é a cabeça do presidente americano. Eu não ouso.

Hoje, Donald Trump está com a faca e o queijo na mão. Enfraqueceu de tal forma as lideranças palestinas potenciais, isolando-as do resto do mundo árabe-muçulmano, que se vê na posição de impor uma solução, até ontem inaceitável. A Rússia está disposta a bancar o avestruz. A China idem.

Trump vai usar essa janela de oportunidade? Para responder é preciso entrar no ninho de mafagafos que é a cabeça do presidente americano. Eu não ouso.

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Milton Blay – jornalista. Com passagem em vários veículos. Foi correspondente da Rádio BandNews FM em Paris, onde vive,  por vários anos.

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