O justo título do “Rey de Copas”. Coluna Mário Marinho
O justo título do “Rey de Copas”.
E o vexame flamenguista.
COLUNA MÁRIO MARINHO
Não é feio perder um jogo ou empatar, mesmo se esse empate representar dura e amarga derrota, com a perda de um título.
Não se trata – é bom que se esclareça – de um título qualquer. Mas, sim, do título da Copa Sul-Americana, um título internacional cujo gosto e sabor o Mengão não vê há dolorosos 22 anos.
Flamengo e Independiente são dois times muito próximos, quase parelhos.
O time argentino está a um ou dois pontos acima, marcados principalmente pela decantada garra argentina.
O Flamengo entrou em campo com muita vontade de vencer e conquistar o título; o Independiente entrou em campo com garra.
E aí está a diferença entre os dois.
A vontade é o desejo de conquistar alguma coisa, é a aspiração, a ânsia. A vontade mira a possibilidade.
A garra é algo mais. Na verdade, ela começa com a vontade e a ela agrega a cobiça de conquistar alguma coisa, a ambição, o apetite, a sede, a dedicação, a possança, a fibra, certa tirania. A garra mira o impossível.
Não se pode acusar o Flamengo de ter jogado mal.
Aliás, antes de entrar nesse particular, há que se registrar que foi um grande jogo. Um jogo tenso e, mais uma vez, um jogo de raro respeito entre brasileiros e argentinos.
Repito: não se pode acusar o Flamengo de ter jogado mal. Jogou bem, mas burocraticamente.
O craque do time, como havia acontecido no primeiro jogo, sumiu em campo. O artilheiro Vizeu ficou perdido na marcação, não soube encontrar espaços.
Autor do gol flamenguista, o atacante Lucas Paquetá criou jogadas de perigo, mas perdeu-se no emaranhado de seus próprios dribles.
O garoto Vinicius Júnior, já negociado com o Real Madri, continua sendo promessa.
Espero estar errado, mas me lembrou o Lulinha, que pintou como grande promessa no Corinthians, aos 16 anos, e que hoje, década e meia depois, continua promessa.
Viu-se do lado argentino a comum cena de superação, tão comum, mas que ainda nos surpreende.
O grandalhão Gigliotti é atrapalhado, tropeça nas próprias pernas, mas como dá trabalho.
Já o baixinho Barco, autor do gol da terra do tango, ao contrário do grandalhão, é bom de bola, é ágil, clássico, escorregadio, driblador e soma a tudo isso a garra argentina.
Segundo o repórter da Globo, ele já está negociado com o futebol dos Estados Unidos.
É uma transação meio esquisita, pois o caminho natural dele com todo esse potencial, seria a Europa. A menos que tenha sido negociado com um esperto investidor.
Enfim, justa conquista.
A copa está em boas e nobres mãos.
Vexame
do torcedor
O apaixonado torcedor flamenguista começou a dar vexame na terça-feira, véspera do jogo, ao se dirigir, em bando, para o hotel onde estava concentrado o time argentino.
Passaram, eles, torcedores, grande parte da noite, fazendo barulho para impedir os jogadores de caírem no sono.
Que bobagem!
Isso se usou muito no século passado.
Lembro-me de torcedores paraguaios fazendo carreatas com barulhentos carros e motos à porta da concentração do Brasil em Assunção, às vésperas do jogo válido pela Eliminatórias da Copa de 1970.
Lembro-me de cenas parecidas também em Belo Horizonte, também nos anos 70, quando torcedores do Cruzeiro se postaram frente ao Hotel Normandie para impedir que jogadores do Vasco tivessem o justo descanso.
Isso não se usa mais.
Os hotéis têm janelas à prova de som; os jogadores usam headphones para ouvir suas músicas preferidas e que os isolam do barulho lá de fora.
O que é pior: só depois de muito tempo perdido é que descobriram que o Independiente não estava hospedado naquele hotel.
Mas, o que aconteceu antes e depois do jogo entre os torcedores foi ainda pior: invasão do Maracanã, vandalismo, violência contra a polícia e colocando em riso outros torcedores que queriam apenas assistir ao jogo.
Após o jogo, as cenas se repetiram. Houve depredação do ônibus dos vitoriosos argentinos.
Não sei como foi a saída dos quatro mil corajosos torcedores argentinos que compareceram.
Não vi notícias alarmantes, o que é bom sinal.
Que todos eles tenham regressado aos seus lares incólumes, inteiros e felizes para celebrar a justa conquista.
Salve, Rey de Copas!
Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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