As tornozeleiras de grife. Coluna Carlos Brickmann
AS TORNOZELEIRAS DE GRIFE
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO DE 2017
Atenção para o dia 19: o Príncipe dos Empreiteiros, um dos responsáveis confessos por alguns bilhões de dólares em propinas, pixulecos, acarajés, presentes e quetais, aquém e além fronteiras, nunca assaz louvado em terras bolivarianas e africanas, livra-se enfim da prisão. Vai para casa cumprir pena domiciliar; restam-lhe, dizem, R$ 14 bilhões para garantir-lhe um mínimo de conforto. Dizem também que, apesar de não ter ficado pobre, sente-se injustiçado: por exemplo, não teria nada a ver com o sítio de Atibaia, aquele que não é de Lula, e que o presente que Lula jura que não recebeu foi-lhe dado por seu pai, Emílio Odebrecht. As relações de Marcelo com o pai, a mãe, o cunhado, a irmã parecem abaladas. Pior: embora não se considere responsável por boa parte da pixulecagem, seu nome e rosto é que ficaram marcados para a opinião pública, a ponto de se considerar perigosa qualquer indicação sobre sua viagem de retorno.
Há quem tema, dentro da Odebrecht, os próximos depoimentos de Marcelo. Ao que se comenta, ele tem sido muito critico das confissões dos 77 diretores da empresa, e insinua a possibilidade de corrigí-las. Conforme o tipo da correção, isso pode significar a anulação da delação premiada, com a cassação dos benefícios outorgados aos delatores. Mas é tudo muito estranho: o alto comando da empresa confessou os crimes. Se a empresa se responsabilizou pelos crimes todos, como poupar o Príncipe Herdeiro?
A luta de Lula
O juiz-relator do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, o TRF-4, já entregou seu voto sobre o apelo de Lula, condenado a 9 anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro. O voto é agora encaminhado ao juiz-revisor. Mantida a média de prazo, o recurso de Lula será julgado até março.
Togas em luta
Caso seja condenado em segunda instância, o ex-presidente Lula seria obrigatoriamente preso, mesmo que o processo não tenha ainda transitado em julgado? Uma decisão do STF autorizou a prisão do condenado em segunda instância, situação em que Lula se enquadraria se o apelo fosse rejeitado. Mas o ministro Gilmar Mendes disse que o Supremo autorizou a prisão, mas não a tornou obrigatória. O problema então é outro: Lula, que já lançou sua candidatura à Presidência, estaria ou não enquadrado na Lei da Ficha Limpa, mesmo sem aprisionado? Como a questão de Lula envolve posições políticas complexas, haverá boas discussões nos tribunais.
Prisão bem-bão
Três deputados fluminenses, Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertasi, detidos desde 16 de novembro na Cadeia Pública de Benfica, Rio, recebem normalmente seu salário de R$ 25.322,00. E, embora estejam em outro endereço, custodiados pelo Tesouro do Estado, recebem também auxílio-moradia de R$ 3.190,00 cada um.
Não estranhe: de acordo com a Mesa da Assembleia, como os três foram afastados pela Justiça e não se licenciaram dos cargos, “têm direito ao pagamento decorrente do mandato outorgado pelo voto popular”. Os Nobres Parlamentares se baseiam também num antecedente: em março, cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado foram presos por suspeita de envolvimento em corrupção, e receberam tudo di rei ti nho.
Quem mandou estudar e trabalhar, caro leitor, para ganhar bem menos?
É assim que se faz
André Puccinelli, ex-governador do Mato Grosso do Sul, foi eleito no último sábado, em chapa única, para a Presidência Regional do PMDB. O líder peemedebista foi eleito por aclamação 17 dias depois de deixar a prisão, envolvido na Operação Papiros de Lama da Polícia Federal: segundo a acusação, uma empresa de prestação de serviços comprava livros jurídicos superfaturados em quantidade suficiente para atender o Governo.
Puccinelli foi duas vezes prefeito de Campo Grande, duas vezes governador do Mato Grosso do Sul, sempre pelo PMDB; e tem ótimas possibilidades de vencer as próximas eleições para o Governo, em 2018.
Reforma, nos descontos
Ao que tudo indica, a reforma da Previdência do Governo Temer deve passar – por margem pequena, insuficiente, após negociação extremamente cara, num dos últimos dias do prazo – mas, mesmo assim, passa. O Governo espera 320 votos, quando o mínimo legal seria de 308. Há ainda um pouco de folga para ampliar a vantagem: o PSD do ministro Kassab, por exemplo, tem 38 deputados, dos quais só oito se comprometeram com a votação. Kassab dificilmente deixará seu partido sair com a pecha de infiel aos amigos. E definitivamente não irá concordar em perder ministérios por passar a mão na cabeça de deputados infiéis. Na segunda-feira, Temer avaliou quem é quem e se convenceu de que a reforma pode ser votada.
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*** Evento da “Istoé” – Moro recebe prêmio e mostra seu lado humorístico. Temer e comitiva também presentes, e não gostaram?
Muitos vibraram com o lado humorístico do Moro.
Mas será que foi mesmo para rir, ou para ficarmos mais preocupados com a crise abalando o Brasil?
Ora, Temer e companheiros próximos têm culpas em quantos cartórios?
Difícil acreditar que não tenham. Mas estão no Poder, governando o Brasil. Por quê? Porque… as instituições estariam carentes de competência, honestidade, seriedade e determinação?
Não se brinca em serviço. Quando se faz piada aproveitando-se a repercussão que um evento dessa natureza propicia, é sinal que o ego está inflado e prontinho para ser criticado e desacreditado.
Piadinhas de Moro, justamente com o Temer ao seu lado, “sério”, sisudo? O Moro fez piadinha, mas o “sisudo” Temer continua leve, livre e solto? Renan, idem? Aécio, idem? Essas e outras malditas curriolas roubando até a esperança e dignidade de todo um povo?
Se, nesse evento, Moro tivesse se comportado como adulto cônscio de suas funções e deveres teria sido merecedor de autênticos e efusivos aplausos, respeito e reconhecimento público. Moro teria crescido mais um pouco como importante personagem da Justiça no Brasil.
Infelizmente, nesse evento da “Istoé” o Moro deu uma de “policial carioca tirando selfie sorrindo ao lado do Rogério 157”. Uma vergonha.
O sucesso sobe à cabeça. A vaidade dos deslumbrados com o sucesso extrapola. E põem tudo a perder. Se esquecem que poderão estar contribuindo para desmoralizar ainda mais as Instituições.
Selfies de policiais com bandido famoso…
Perfomance humorística entre toga e possível futuro réu…
Não teve como revisar os três últimos versos sem rima, que ontem escrevi:
AS CORES DA BANDIDAGEM NACIONAL
Do verde ao amarelo
Passando pelo vermelho, azul e branco
Só continua pobre o ladrão pé de chinelo
Do branco, azul e vermelho
Passando pelo amarelo e verde
Nas cuecas, maços de dinheiro e resbelho!
Do vermelho e branco
Passando pelas demais cores do arco-íris
Só surubas. E o povo? Calado e só olhando de fianco!
E a cor do luto pelas pessoas assassinadas?
Cor preta, também cor das becas e togas.
Não dá rima. Só choros e velas. *
AHT
05/12/2017
*Revisão: 06/12/2017