Abaixo a ditadura!… dos bancos. Por Antonio Silvio Lefèvre

Abaixo a ditadura!… dos bancos

Antonio Silvio Lefèvre

Bradesco com Dilma e Itaú com Temer. Os bancos é que mandam no Brasil, com o silêncio conivente de quem deveria criticar suas práticas.

Em maio último, publiquei artigo aqui neste Chumbo Gordo, denunciando o que chamei de Golpe baixo dos cartões de crédito.
Em minha carta aberta ao Ministro Henrique Meirelles.. e um recadinho ao Ilan Goldfajn….  eu mostrei como, por trás do anúncio de uma queda de juros do crédito rotativo dos cartões, anunciada então com estardalhaço pelo Ministro como forma de reduzir o endividamento dos consumidores e com isso estimular a economia, veio sim um brutal aumento do juro do parcelamento das despesas no cartão. No exemplo que demonstrei pelas minhas faturas do Citi, este juro passou de 4,19% ao mês em abril  para 8.49% em maio!
Como eu sou “apenas” sociólogo e não economista, esperava que minha grave denúncia (feita, aliás, como simples consumidor) neste veículo tão gordo e prestigiado, tivesse alguma repercussão entre os jornalistas de economia e alguns deles viessem a reforçá-la. Ou, de repente, até a contestá-la, se a julgassem equivocada, de alguma forma.
Para estar certo de que estes tomassem conhecimento desta denúncia, encaminhei meu artigo para os principais jornais e mesmo para alguns jornalistas de economia aos quais eu consegui acesso direto.  E a encaminhei também para o Proteste, entidade de defesa do consumidor que eu sempre admirei e da qual era sócio ativo.
Pois bem (na verdade,  pois mal…), passados vários meses, não li uma linha sequer na imprensa, nem ouvi nada no rádio e na TV mencionando este golpe dos cartões de crédito, ou seja, dos bancos!  Atento que sou às colunas dos principais comentaristas de economia, só os leio (ou ouço) falando, todos animados, da queda do juros da Selic de 9% para 7% ao ano…  

Como se esta taxa, cobrada apenas do governo, tivesse algo a ver com a que paga o consumidor.  Ou melhor, até tem uma relação irônica com ela, pois o que a Selic cobra em um ano os bancos estão cobrando do consumidor em um mês… e isto quando não cobram até mais. Ainda tendo a cara de pau de escrever que é uma “taxa especial de 9,40% ao mês”, como fez o Itaú na minha fatura recente, que ilustra (acima) este artigo.
Aliás, há tempos já que busco na imprensa explicações plausíveis para a taxa de juros gigantesca que os bancos cobram no Brasil para empréstimos, tanto de pessoa física quanto de empresas, incomparavelmente maior do que a cobrada nos países da Europa ou nos Estados  Unidos.
E a única “justificativa” que leio é referente à propalada alta taxa de inadimplência no Brasil. Ou seja, afirmam que os bancos cobram juros astronômicos de quem paga os empréstimos, para cobrir o “prejuízo” pelos que não pagam…  Nunca engoli esta conversa pois sei bem que os bancos tem muitos mecanismos para se precaverem contra maus pagadores…  A começar pelo fato de só concederem empréstimo após amplas checagens do histórico da pessoa ou da empresa e ainda assim com muitas garantias. E por isso mesmo negam empréstimos com a maior tranquilidade até para clientes os mais fiéis quando sentem o menor cheiro de risco…

Essa desculpa da inadimplência para cobrar juros astronômicos simplesmente não cola.  Inclusive porque “prejuízo” é palavra fora do dicionário dos bancos no Brasil…  Muito pelo contrário, nesses últimos tempos, enquanto um número recorde de empresas tem passado por grandes dificuldades, com recorde de encerramentos de negócios, os bancos têm exibido balanços com lucros astronômicos, da casa dos vários bilhões!  Mas também, estranhamente, não li até hoje uma linha de comentarista de economia contestando a desculpa esfarrapada da inadimplência para os juros estratosféricos e nem comentando esta saúde exuberante dos bancos, comparada com a doença que a tantas empresas (e cidadãos) aflige na grave crise econômica pela qual estamos passando como consequência dos anos petistas.
…pensando bem, será que poderíamos esperar coisa diferente se o Banco Central, nos dois governos recentes, teve como presidentes dois executivos vindos diretamente dos maiores bancos, como Joaquim Levy (Bradesco) e Ilan Goldfajn (Itaú)? E se agora temos um ex-presidente do BankBoston (Henrique Meirelles) como Ministro da Fazenda?
Aos poucos fui chegando a uma conclusão muito preocupante. A de que os bancos são simplesmente um tema tabu para a grande mídia.  É como se houvesse uma norma interna nesse veículos tipo “É proibido falar mal dos bancos”… E os mais conceituados jornalistas de economia do país a seguem à risca…  Arrisco explicar isso pelo enorme poderio econômico dos bancos, tanto por serem os maiores anunciantes do país, como por serem grandes credores das empresas jornalísticas…  Por que diabos estas iriam querer comprar briga (ou mesmo pequenas rusgas…) com quem traz parte mais do que ponderável da sua receita e detém boa parte, senão a totalidade, das suas dívidas?…

Mas se me espantei tanto com o silêncio da imprensa sobre a falácia dos juros bancários terem diminuído quando na verdade dobraram… me espantei muito mais com o silêncio do Proteste!   Pois se até mesmo uma entidade tão conceituada de defesa do consumidor fechou os olhos para este golpe dos cartões de crédito que denunciei, como associado, diretamente à sua diretoria… (e em função disso me desvinculei do Proteste), então é porque o poder dos bancos vai muito além do que eu jamais teria imaginado.

 

Aliás, pensando bem, será que poderíamos esperar coisa diferente se o Banco Central, nos dois governos recentes, teve como presidentes dois executivos vindos diretamente dos maiores bancos, como Joaquim Levy (Bradesco) e Ilan Goldfajn (Itaú)? E se agora temos um ex-presidente do BankBoston (Henrique Meirelles) como Ministro da Fazenda?

 A meu ver, está tudo errado no Brasil, pois as autoridades monetárias deveriam ser isentas, desvinculadas de interesses dos bancos e voltadas apenas para o interesse dos cidadãos e empresas brasileiras. Estas funções deveriam ser exercidas por profissionais de carreira, eleitos por seus pares e não nomeadas pelo Presidente da Republica ou indicadas por políticos.  Mas, pelo visto, os bancos mandam em tudo, inclusive nos políticos, de cujas campanhas são grandes financiadores.  Se isto não for uma ditadura, o que será então?
Nem mesmo Stalin, na extinta União Soviética, conseguiu mandar em tudo e calar todos os críticos como fazem os bancos no Brasil. E olhe que aqui temos liberdade de imprensa e lá os jornalistas que ousavam criticar eram mandados para  os gulags na Sibéria ou partiam para o exílio…

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 ANTONIO SILVIO LEFÈVRE –  é sociólogo (Université de Paris),  editor e livreiro. Interpretou Pedrinho na 1ª adaptação do “Sítio do Pica-pau Amarelo” para a TV, em 1954.

Veja no Museu da TV

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