Sobre fatos e ficção. Por Josué Machado
SOBRE FATOS E FICÇÃO
Por Josué Machado
…Pena que seja preciso falar desse Segóvia meio sorridente e meio sem graça, indicado pela organização, esforçando-se para ignorar fatos; melhor seria falar sobre o grande guitarrista espanhol Andrés Segovia…
O novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, tem cara engraçada e diz com graça coisas engraçadas. O mais importante é que foi recomendado a Michel Miguel Elias Temer Lulia por três dos mais notórios membros da quadrilh, isto é, do PMDB: Zé Sarney, Romero Jucá e Eliseu Padilha.
É apresentação que garante qualidade e dispensa mais apresentações.
Ao ser empossado com a presença inusitada de um presidente, “como nunca antes na história deste país”, embora esse presidente seja Michel Miguel, disse Segóvia referindo-se à mala de R$ 500 mil filmada na corrida de Rodrigo da Rocha Loures, ex-deputado, ex-assessor e até então queridinho de Michel Miguel:
“O que aconteceu foram fatos que aconteceram, o que a gente acredita é que, se fosse sobre a égide da Polícia Federal, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se seria ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção.”
Sim, ele disse, e foi gravado, que “se fosse SOBRE a égide da Polícia Federal…”, além de “o que aconteceu foram fatos que aconteceram”.
Claro, claríssimo, “SOBRE a égide” da PF, além da salada indigesta de fatos que rolaram de lá pra cá entre sorrisos contrafeitos, pois não há dúvida de que o que aconteceu foram fatos que aconteceram.
Ninguém se importaria com o fato de o bacharel-delegado Segóvia ter trocado, como aluno primário ruim, a preposição SOB (embaixo de, debaixo de) pela oposta SOBRE (acima de, por cima de), nem com sua salada de fatos e contrafatos, não fosse sua evidente disposição de contrariar fatos e evidências.
Porque é muito feio apontar escorregões formais alheios. A menos que sejam cacas da autoria de profissionais da escrita e da lógica ou simpáticas autoridades supostamente alfabetizadas e especializadas em investigações. E esse senhor provavelmente cursou Direito, recebeu aprovação da OAB, fez concurso para delegado da PF e foi aprovado.
Mas isso não importa, e ele talvez tenha razão em suas dúvidas. De fato as investigações deveriam e poderiam ser aprofundadas, mas Janot tinha pressa.
De todo modo, que negócio foi esse de Joesley Safadão invadir o palácio e acordar Michel Miguel em noite alta e céu sereno para fofocar? E que história é essa de atribuir ao Loures, querido amigo de Michel Miguel, más intenções transferíveis ao protetor só porque recebeu a suposta mala de R$ 500 mil supostamente de suposto emissário de Safadão para supostamente entregá-la a Michel? E além do mais sem recibo!
Está tudo errado! A partir de agora, mais eficiência! E com recibo registrado em Cartório!
Fatos, não boatos!
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Pena que seja preciso falar desse Segóvia meio sorridente e meio sem graça, indicado pela organização, esforçando-se para ignorar fatos; melhor seria falar sobre o grande guitarrista espanhol Andrés Segovia (1893-1987), o verdadeiro.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade