Piorar é possível. Mas só um pouquinho. Por Josué Machado
PIORAR É POSSÍVEL. MAS SÓ UM POUQUINHO.
Por Josué Machado
… se Temer Lulia entregar por estes dias sua alma experiente e cheia de histórias secretas a quem quer que seja doutro mundo, ou, para ser mais sintético, se for a óbito, como preferem dizer os médicos, a Pátria Amada poderá ser presidida durante 90 dias…
Michel Miguel Elias Temer Lulia já conven$eu os deputados de sua ino$ência em um sólido pedido de cassação e fará i$$o em outro. Mas descobriu nestes dias ter uma artéria coronária encaroçada.
O problema é que, além da tensão de tentar manter sob controle um governo periclitante, Elias também precisa ficar atento aos deveres conjugais, neste momento um tanto esquecidos.
Considerando ter 77 invernos de glória, fica-se pensando se terá fôlego e saúde para tanto. Tem de usar drogas para controlar a pressão arterial, drogas para manter a vitalidade, drogas para manter bem penteados os cabelos e colocar bem os pronomes e drogas para elevar o ânimo. Sim, elevar o ânimo.
Tudo isso então — diria ele –, quando não fosse, sê-lo-ia para bem enfrentar os desafios diuturnos que se lhe apresentam no gabinete presidencial e no recesso do lar ao lado da consorte Marcela, 34 anos.(Ele se refere a ela como “minha consorte”.)
Só que a elevação do ânimo com certas drogas pode ser literalmente fatal.
Daí o problema: com tanto esforço aqui e ali, e se o antigo coração, testemunha silente de tantos encontros discretos na calada da noute, não aguentar, mesmo que ele voe para o Hospital Sírio-Libanês, como já fizeram aliás, Sarney, Luizinácio e Dilma?
Quem assumiria a presidência? Quem?
Pela Constituição, nesta ordem:
-
O presidente da imaculada câmara de deputados, o enviezado Rodrigo Maia, o “Botafogo” da lista da Odebrecht (“Bolinha”, para os íntimos);
-
O presidente do ínclito senado, o excepcional Eunício Oliveira, o “Índio” da lista da Odebrecht;
-
A firme presidenta do STF mais peculiar da história do mundo ocidental, Carmen Lúcia.
Bolinha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Mas, se pudesse, provavelmente rejeitaria a honra de assumir a presidência porque talvez fosse impedido depois de candidatar-se ao governo do Rio, como parece querer.
O singularíssimo Eunício Oliveira está coroado pela mesma acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.
Carmem Lúcia não está implicada em surrupios, mas enrolou-se no voto minervino que deu há dias sobre a capacidade que tem ou não o STF de intervir em banditismos senatoriais explícitos. Um voto logo interpretado com dificuldade pelo ministro Celso de Mello, já que o “sim, no entanto, outrossim pode ser que talvez ou não” de Carmen não queria dizer muita coisa. Mello então a ajudou dizendo que ela queria dizer “sim, mas nem sempre”, como no caso não citado, mas pairando no ar, de Aópio Nevado de tão brilhante carreira que quase foi presidente da nação brasileira!
Então, se Temer Lulia entregar por estes dias sua alma experiente e cheia de histórias secretas a quem quer que seja doutro mundo, ou, para ser mais sintético, se for a óbito, como preferem dizer os médicos, a Pátria Amada poderá ser presidida durante 90 dias por uma dessas três figuras, até que haja eleições. Não que faça alguma diferença, pela natureza das coisas conhecidas de todos os lados envolvidos, valha-nos o bom Jesus.
E depois? Aí, sim, é que a coisa fica boa! O presidente será eleito pelo edificante congresso! (Com minúscula, mesmo.) Na lista, Luizinácio, Jair Boçalnato, um certo Huck, Marina Silva, Geraldo, Ciro, Mosquito Elétrico Dória, Dilma, Levy Fidélix e outros do mesmo teor. Até Aópio, isto é, Aócio, isto é, Aécio poderia concorrer!
Regozijemo-nos!
__________________________
Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade