Não nos surpreendemos mais. Apenas esperamos o que sabemos que farão. Pior: e o que dirão
O que se viu no Senado (18) não foi um Poder defendendo o que a Constituição lhe garante, foi um monte de encrencados em ação para salvar o próprio pescoço. Se Aécio tivesse um pingo de decência teria renunciado – o que está gravado é crime, fato indesmentível – e teria evitado o problema, mas perderia o direito ao foro privilegiado, então optou pela benesse. É pessoa tão falta de princípios que Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, acha que ele não tem condições morais para reassumir o cargo.
O que é mais deletério para uma criança, ver um quadro de mulher nua em um museu na companhia dos pais – com quem, hoje em dia, toma banho junto – ou assistir, na hora do jantar, a discursos de jucás, renans, perondis e maruns?
Assistindo a uma parte da sessão da Comissão de Constituição da Câmara em que se debatia o relatório da denúncia contra Temer ouvi o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) dizer que “ano que vem haverá eleições, é o povo que vai se manifestar, não haverá Temer, Aécio, é o povo que vai decidir.” Como gostaria de acreditar nisso, mas basta ver o grande número de desonestos que são reeleitos eleição após eleição para não ter muita esperança de que algo vá mudar para melhor. O que vejo no horizonte são até nuvens negras, bolsonaros, hulks, dorias…
Troquem-se os advérbios, conjunções, preposições e adjetivos dos discursos dos que foram contra e a favor do “empessegamento” de Dilma e dos contra e a favor do aceitamento da segunda denúncia contra Temer e se constatará facilmente que as nobres excelências votam conforme as conveniências do momento, não por acharem certo ou errado. São oportunistas, muitos deles, comprados, seja por dinheiro, como alegam Joesley Batista e Lúcio Funaro, seja por cargos para eles e seus cupinchas ou liberação de verbas, como se pôde ver nos últimos dias. Deprimente perceber quão poucos são os que votam por convicção.
Do jeito que as coisas caminham, com cada vez mais gente querendo impor suas crenças, logo, logo, o Brasil será invadido pelo que há de pior nos Estados Unidos. Não passa um dia sem que pastores, principalmente eles, tentem uma censura. O interessante é que os presbiterianos, que têm realmente formação religiosa, são sérios, não se manisfestam, não se misturam com os adeptos das igrejas do Círculo Quadrado, do Triângulo Poligonal, dos Futuristas de Antanho e quetais. E, desta vez, os padres estão mais bem- comportados.
Lá vou eu, de novo, com trecho de artigo – há os concertistas e eu, trechista. No Estadão (19), pág. A11, a propósito do que acontece em Mianmar: “Budistas? É desses homens e mulheres vestidos de açafrão, com um sorriso eterno no rosto e um respeito pela vida até de galinhas e moscas, é dessas pessoas que cantam o amor por todos os povos, é dessa gente doce que inventou e espalhou a mais bela palavra de ordem do mundo, o “não à violên- cia!”, é desses seres gentis que vem um barbarismo sangrento como o de Gengis Khan, como o da SS de Hitler, como o da Al-Qaeda e do Estado Islâmico? Sério?”.
Antes que me entendam mal, não sou antirreligioso, sou anti-hipocrisia.
(CACALO KFOURI)
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