Haverá quem possa desmafagafizar nosso ninho de mafagafos? Por Maria Helena RR de Sousa
Haverá quem possa desmafagafizar nosso ninho de mafagafos?
Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
…Não sei se os mais jovens conhecem o termo mafagafos, tenho a impressão que isso está em desuso. Por via das dúvidas, adianto aqui o significado, segundo alguns dicionários: mafagafos são malandros…
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 13 de outubro de 2017
O Brasil enfrenta um momento curioso. Finalmente conseguimos empatar o maior trava-língua da língua portuguesa à nossa vida diária: ‘num ninho de mafagafos, seis mafagafinhos há; quem os desmafagafizar, bom desmafagafizador será”.
Pois é, o ninho de mafagafos está aí, à vista de todos. Quem vai conseguir acabar com os mafagafinhos e mafagafões?
Não sei se os mais jovens conhecem o termo mafagafos, tenho a impressão que isso está em desuso. Por via das dúvidas, adianto aqui o significado, segundo alguns dicionários: mafagafos são malandros…
O noticiário é pródigo em situações que nos põem com a orelha em pé. Começo com o indigitado Cesare Battisti. Ao ouvi-lo declarar a uma emissora de TV que ele tem total liberdade para entrar e sair neste país e não vê-lo detido imediatamente após essa ofensa ao Brasil, eu me senti profundamente humilhada. Foi ou não foi o cúmulo da audácia?
Continuemos com as notícias.
Por exemplo: a madrasta de Isabella Nardoni, a menininha que foi atirada de uma janela por pai e madrasta, saiu da cadeia no Dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que também é o Dia das Crianças. Tem toda a lógica, não é? Assim como teve lógica a saída de Suzanne van Richtoffen, que planejou e colaborou no assassinato de seus pais, da prisão, num Dia das Mães há algum tempo atrás!
… Não é que a cidadã mais honesta do Brasil continua a dizer que só autorizou a compra baseada em informações estritamente técnicas? Acreditar que ela não tivesse se informado sobre a situação daquela refinaria antes de assinar a autorização…
Mas vamos em frente: qual a notícia que mais causou alvoroço nas redes sociais, que são, em realidade, os botecos de nossos dias? Descobrir que Carlos Arthur Nuzman renunciou à presidência do COB após ser apanhado com a boca na botija ou saber que o curador da mostra ‘Queermuseu’ notificou o prefeito do Rio, Marcello Crivella? Parece que as pessoas se esquecem que das Olimpíadas, ao partir e repartir, Nuzman ficou com a maior parte. E que o nome ‘Queer’ para a citada exposição de artes não foi dado pelo pastor-prefeito, mas sim por seu próprio curador. E ‘queer’, é bom lembrar, quer dizer ‘estranho(a)’, ‘esquisito”.
Tem mais, tem mais. No meio de todos os “sou inocente”, “não fiz nada disso”, “sou cidadão inatacável” que ouvimos repetir a toda a hora, o mais engraçado foi a declaração de dona Dilma, agora, a respeito do bloqueio de seus bens como punição pelos desmandos da compra da refinaria de Pasadena. Não é que a cidadã mais honesta do Brasil continua a dizer que só autorizou a compra baseada em informações estritamente técnicas? Acreditar que ela não tivesse se informado sobre a situação daquela refinaria antes de assinar a autorização é achar que ela é ignorante do assunto e da ciência que a levou a ser Ministra das Minas e Energia!. Vai ver dona Dilma prefere ser tomada como… será que posso dizer ‘pouco inteligente’?
Agora piso em terreno escorregadio. Não consigo compreender a postura de certos ministros do STF. A longa sessão de ontem no STF foi um castigo para quem está interessado nos destinos do Brasil. O ministro Gilmar Mendes desperta meus mais antipatrióticos instintos, devo confessar…
Decisão judicial se cumpre! Era assim até ontem 11 de outubro. De agora em diante quem dá a palavra final sobre o afastamento de parlamentares não é o STF, a mais alta corte do país. A última palavra é, acreditem, do ninho de mafagafos!
Mas ao menos tive a alegria de ouvir o voto e os comentários do ministro Luis Roberto Barroso. Gosto do seu modo de falar; ele usa uma linguagem corretíssima, mas que está sempre ao alcance de todos nós. Dá orgulho ver um fluminense que merece nossa atenção e que não está preocupado em ser vedete.
Fora isso, como é mesmo que se diz por aí? Decisão judicial se cumpre! Era assim até ontem 11 de outubro. De agora em diante quem dá a palavra final sobre o afastamento de parlamentares não é o STF, a mais alta corte do país. A última palavra é, acreditem, do ninho de mafagafos!
Deixo aqui um beijo para as crianças, alegria de nossas vidas, e que andam tão carentes de mais amor e cuidado do Estado.
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* – Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.