EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO DE 2017
O clima político começou a ferver quando um general da ativa ameaçou as instituições com o roncar dos canhões. Ferveu ainda mais porque, agora, está soando na Câmara o ronco de outra denúncia contra o presidente Michel Temer – e isso logo depois de Lula exibir seu ronco rouco de candidato à Presidência ao apresentar ao juiz Sérgio Moro os recibos de pagamento de aluguel de um apartamento vizinho àquele em que mora e que, segundo as suspeitas, seria de sua propriedade, pago por empreiteiras, como parte de propina. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, CPMI, ronca contra o ex-procurador-geral Janot, que acusou tantos deputados e senadores. E na Câmara dos Deputados já se ouve o ronco das ruas, pedindo a votação das reformas eleitorais que estão em pauta. Um calor infernal, derretendo o regime e as instituições. Bem…
Calma, caro leitor. A denúncia contra Temer, ao que tudo indica, cairá como caiu a anterior (e pode até custar mais barato – alegre-se, já que a conta é sua). Os adversários de Temer apostavam suas cartas numa denúncia mais sólida, mas de novo houve muita delação premiada e pouca investigação. Mais ainda, a defesa de Lula vai ter mais trabalho, diante de novas denúncias e investigações. As reformas serão fraquinhas, e só uma é certa: mais dinheiro para as campanhas eleitorais. Resta o ronco das ruas – o ronco de quem não aguenta acordado a repetição desse ritual tão chato.
Temer
Não há como discutir, por enquanto, o mérito da denúncia contra Temer. É baseada em declarações que podem ser verdadeiras ou falsas, o que só se saberá se forem verificadas (e muitas já poderiam tê-lo sido). Mas o pessoal do Fora, Temer se esqueceu de que ninguém é deputado federal por tanto tempo, nem exerce três vezes a Presidência da Câmara, se não a conhecer direito. E a tática de atirar para todos os lados talvez tenha prejudicado ainda mais a possibilidade de aceitação da denúncia: com tantos deputados denunciados, quanto menos houver investigações melhor será para todos.
Lula
A primeira reação à entrega dos recibos de pagamento de aluguéis foi boa – mas só até que os recibos fossem analisados. Há enganos visíveis, como pagamentos no dia 31 de meses que têm 30 dias; há erros de grafia que se repetem em vários recibos, como se tivessem sido impressos um em seguida ao outro. E há a declaração do proprietário oficial do apartamento, Glaucos da Costamarques, de que entre 2011 e 2015 não recebeu qualquer aluguel, e que só passou a recebê-lo após a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, seu primo e amigo de Lula. De qualquer forma, há como verificar as informações: nas contas bancárias de Costamarques, por exemplo. O pagamento sempre em dinheiro é pouco usual, mas não é crime.
Lula 2
O ex-presidente está condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão; recorreu ao Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. O TRF absolveu João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que tinha sido condenado por Sérgio Moro na primeira instância; mas aumentou a pena imposta a José Dirceu. Se o TRF condenar Lula, ele estará incurso na Lei da Ficha Limpa. Não poderá ser candidato em 2018 (e, conforme a decisão do tribunal, será preso ou não). Mas, além desse julgamento, e do outro a que responde perante Moro, Lula é réu em seis ações penais, foi denunciado em dois casos (se a denúncia for aceita, passa a ser réu), e é alvo de seis inquéritos abertos pelo Ministério Público e pela Polícia Federal em Brasília, São Paulo e Curitiba.
Janot
As ações propostas pelo então procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Temer dificilmente terão êxito: seus adversários internos têm hoje o poder na Procuradoria Geral da República e parlamentares feridos por suas denúncias têm a CPMI para incomodá-lo. Mas quem resolver hostilizar Janot corre um risco: passar do ponto. Há muitos procuradores que não o apreciam, mas que se considerariam pessoalmente atingidos por investigados à cata de revanche. O espírito de corpo do Ministério Público, se houver tentativa de vingança, estará ao lado de Janot. Será preciso provar algo muito grave contra ele para que o MP o deixe ser imolado.
O mais sério de tudo
O acontecimento mais grave dos últimos dias ocorreu em São Paulo, na manhã desta terça-feira. Houve falta de energia elétrica por um curto período, que conforme o local variou entre alguns segundos e 20 minutos. E talvez o problema seja falta de energia na rede de distribuição. As represas do Nordeste estão vazias, a chuva não começou no Sul/Sudeste, e o consumo de eletricidade iguala a produção, sem margem para falhas.