Quarto do pânico
O PIB brasileiro anda de lado desde o ano
passado, tendo crescido meros 0,8% entre o primeiro trimestre de 2011 e o
primeiro de 2012. Em contraste, o emprego – medido nas seis principais regiões
metropolitanas do país – aumentou 1,8%. Tomado ao pé da letra este resultado é
preocupante ao sugerir que cada trabalhador brasileiro produz, em média, 1% menos
do que era capaz há um ano. Como a expansão da produtividade é a base sobre a
qual se apóia o crescimento sustentável, se confirmado, isso indicaria limites
muito estreitos para o aumento da produção.
passado, tendo crescido meros 0,8% entre o primeiro trimestre de 2011 e o
primeiro de 2012. Em contraste, o emprego – medido nas seis principais regiões
metropolitanas do país – aumentou 1,8%. Tomado ao pé da letra este resultado é
preocupante ao sugerir que cada trabalhador brasileiro produz, em média, 1% menos
do que era capaz há um ano. Como a expansão da produtividade é a base sobre a
qual se apóia o crescimento sustentável, se confirmado, isso indicaria limites
muito estreitos para o aumento da produção.
Eu, porém, não tomaria estes números literalmente.
Mesmo a se considerar que, com a taxa de desemprego no mínimo histórico,
empresas sejam obrigadas a contratar de forma crescente os trabalhadores menos
qualificados, a queda absoluta da produtividade me parece um exagero. Caso
fôssemos repetir o mesmo cálculo, digamos, no segundo trimestre de 2010, quando
o PIB crescia quase 9% e o emprego 4%, concluiríamos que a produtividade então
se expandia a vertiginosos 4,6%.
Mesmo a se considerar que, com a taxa de desemprego no mínimo histórico,
empresas sejam obrigadas a contratar de forma crescente os trabalhadores menos
qualificados, a queda absoluta da produtividade me parece um exagero. Caso
fôssemos repetir o mesmo cálculo, digamos, no segundo trimestre de 2010, quando
o PIB crescia quase 9% e o emprego 4%, concluiríamos que a produtividade então
se expandia a vertiginosos 4,6%.
Posto de outra forma, algo mais técnica, dizemos
que esta medida da produtividade (ou a produtividade “observada”, em oposição à
produtividade “verdadeira”) é fortemente pró-cíclica, isto é, cresce quando a
economia se expande e cai quando ela desacelera. Não se trata, portanto, de uma estimativa das
mais úteis para avaliar o potencial de crescimento do país, pois se mostra
otimista demais nos períodos de expansão e exageradamente pessimista no caso
oposto.
que esta medida da produtividade (ou a produtividade “observada”, em oposição à
produtividade “verdadeira”) é fortemente pró-cíclica, isto é, cresce quando a
economia se expande e cai quando ela desacelera. Não se trata, portanto, de uma estimativa das
mais úteis para avaliar o potencial de crescimento do país, pois se mostra
otimista demais nos períodos de expansão e exageradamente pessimista no caso
oposto.
Há, todavia, formas de contornar este problema, desde
que estejamos dispostos a incorrer em certos custos. Neste caso específico,
para lidar com a questão da flutuação cíclica da produtividade, utilizei uma
medida de tendência, que, por construção, tenta evitar precisamente este tipo
de fenômeno.
que estejamos dispostos a incorrer em certos custos. Neste caso específico,
para lidar com a questão da flutuação cíclica da produtividade, utilizei uma
medida de tendência, que, por construção, tenta evitar precisamente este tipo
de fenômeno.
O principal custo disto é a perda de uma noção
mais clara do que tem ocorrido nos últimos trimestres. Por outro lado, estimamos
que a expansão da produtividade teria se mantido em ritmo pouco superior a 1,5%
por ano de 2006 para cá, desempenho que, se não é brilhante, também não
corroboraria a noção de queda da produtividade. Há, é bom dizer, alguns sinais
de desaceleração do ritmo de crescimento da produtividade no setor industrial,
aparentes também nos dados mensais de produção e emprego daquele setor, mas não
da economia como um todo.
mais clara do que tem ocorrido nos últimos trimestres. Por outro lado, estimamos
que a expansão da produtividade teria se mantido em ritmo pouco superior a 1,5%
por ano de 2006 para cá, desempenho que, se não é brilhante, também não
corroboraria a noção de queda da produtividade. Há, é bom dizer, alguns sinais
de desaceleração do ritmo de crescimento da produtividade no setor industrial,
aparentes também nos dados mensais de produção e emprego daquele setor, mas não
da economia como um todo.
Por outro lado, o aumento salarial vem se
acelerando. Tanto os dados do IBGE, cobrindo as seis regiões metropolitanas e
todas as modalidades de trabalho, quanto os do CAGED – cuja abrangência é
nacional, mas que se concentra apenas nos empregos formais – indicam que os
salários médios vêm crescendo ao redor de 11-12% na comparação com o mesmo
período do ano anterior, provavelmente em resposta à redução persistente da
taxa de desemprego.
acelerando. Tanto os dados do IBGE, cobrindo as seis regiões metropolitanas e
todas as modalidades de trabalho, quanto os do CAGED – cuja abrangência é
nacional, mas que se concentra apenas nos empregos formais – indicam que os
salários médios vêm crescendo ao redor de 11-12% na comparação com o mesmo
período do ano anterior, provavelmente em resposta à redução persistente da
taxa de desemprego.
Entretanto, se cada trabalhador custa agora 11-12%
mais caro, mas produz apenas 1,5% a mais, então o custo de cada unidade de
trabalho deve ter crescido em torno de 9,5-10,5%, com implicações relevantes
para a economia.
mais caro, mas produz apenas 1,5% a mais, então o custo de cada unidade de
trabalho deve ter crescido em torno de 9,5-10,5%, com implicações relevantes
para a economia.
Nos setores mais sujeitos à competição
internacional, mas onde os preços externos se encontram a níveis historicamente
baixos (manufaturas), a capacidade de repasse dos custos a preços é reduzida e,
portanto, é a redução das margens que absorve o custo mais alto da mão-de-obra.
Em contraste, nos setores mais protegidos (serviços), o repasse tem sido
intenso.
internacional, mas onde os preços externos se encontram a níveis historicamente
baixos (manufaturas), a capacidade de repasse dos custos a preços é reduzida e,
portanto, é a redução das margens que absorve o custo mais alto da mão-de-obra.
Em contraste, nos setores mais protegidos (serviços), o repasse tem sido
intenso.
Não é por outro motivo que a inflação de
serviços– a despeito da mudança de pesos ocorrida no começo do ano – se mantém
elevada, enquanto a inflação de bens duráveis (auxiliada por cortes temporários
de impostos) é negativa.
serviços– a despeito da mudança de pesos ocorrida no começo do ano – se mantém
elevada, enquanto a inflação de bens duráveis (auxiliada por cortes temporários
de impostos) é negativa.
Posto de outra forma, o dólar barato ajudou a
conter a inflação, ao compensar, pelo lado dos bens industriais, a pressão dos
serviços. Dá para entender porque o BC parece entrar em pânico toda vez que o
dólar supera R$ 2,00?
conter a inflação, ao compensar, pelo lado dos bens industriais, a pressão dos
serviços. Dá para entender porque o BC parece entrar em pânico toda vez que o
dólar supera R$ 2,00?
–
Homem de preto qual é sua missão?
–
Segurar o dólar pra conter a inflação! |
(Publicado 4/jul/2012)
Alex, me parece que o BC entra em pânico com dólar acima de R$2,1 mas também enfrenta intimidações quando este ameaça o R$1,9. Ontem o BC falou umas belas frases sobre o tema.
Com a demanda tão fraca este dilema permanece enfraquecido, mas se tivermos uma recuperação cíclica das boas deveremos ver o velho embate inflação versus câmbio. Só não sei se será em 2013.
Maradona
O Pastore andou por essa linha também. No caso dele a grande preocupação, como de costume, é com o superávit primário e com os gastos correntes do governo.
A própria presidenta já declarou que as amarras ao crescimento são a carga tributária e a taxa de juros excessivamente elevadas e a taxa de câmbio apreciada e instável. As últimas duas estão indo até que bem. Agora, reduzir a carga são outros quinhentos.
Alex,
Parabéns pelo artigo.
Abs
Ricardo
Ótimo artigo, Alex. Perfeito para o público que não é especialista.
A legenda da imagem me fez rir bastante. Pena que a coluna no jornal não suporte a imagem e a legenda
Alex:
Os dados do CAGED são de fluxo (contratações e desligamentos) e os dados da PME são de estoque. Não podem ser comparados os indicadores de salários da PME e do CAGED, são coisas diferentes. Por outra parte, os dados do CAGED de salários (salários de admissão, imagino) tem problemas que não vou a detalhar aquí. Mas, de todas formas, se teria que ver em que medida os salários dos celetistas na margem (salários de admissão) estão correlacionados com os salários do estoque (de todos os ocupados, não unicamente dos celetistas).
Impressionante a imprevisibilidade dos dados macroeconômicos, em especial o crescimento do PIB brasileiro em 2012.
Confiando no "poder preditivo" dos economistas, fico com uma short butterfly em que ganho para valores abaixo de 1,5% ou acima de 2,5%.
Alguém na ponta oposta?
Abs,
TDX
eh isso que acontece com governo teimoso que adora economia planificada. Aperta aqui, solta ali e eles ficam com cara de otarios. Governo Neopopulista comandando economia "quase madura" que por nossa infelicidade foi colocada como par da china nos Brics. Esse eh o resultado. Ficam achando que temos que crescer como a china. Caramba, sera que eses imbecis nunca ouviram falar de Solow? Ja fizemos essa cagada na decada de 70 e parece que vanos fazer de novo agora, crescer ateh bater no muro. (mas sem divida externa dessa vez). vamos assistir.
Impresivibilidade do PIB 2012?? Os números tem apresentado baixa volatilidade trimestral, o que muda é a previsão-torcida da reversão do crescimento quase-zero do PIB. Não lembro de um período tão sem surpresas…
"Caramba, sera que eses imbecis nunca ouviram falar de Solow?"
Se mata Anonimo…
Confúcio ensinava que o homem que caça duas lebres ao mesmo tempo não pega nenhuma delas. Atualizando Confúcio, hoje o homem que caça duas lebres perde os cabelos. No caso do BACEN, simplesmente tem muita lebre. Mas o Tombini não tem muito a perder, né não?
Ben Oliveira
" Se mata Anonimo…"
nao entendi anonimo, me explique com mais clareza oq o Sr nao gostou em meu comentario. argumente por favor
Hahaha, as legendas são sempre ótimas!
[Comentário tipo: só li as figura]
Sobre o dilema da previsibilidade do PIB, eu me refiro a previsões de "longo prazo". O mercado estava achando que o cresimento do PIB seria uns 3,5% no início do ano e agora trabalha com valores abaixo de 2%. É uma diferença considerável, não acha?
Abs,
TDX
TDX, meu ponto é que na virada de 2011 o mercado esperava 4,5% para aquele ano, mas o segundo semestre foi a decepção, ali sim tivemos uma inflexão, e o PIB andou 2,7%. Na virada para 2012 já se achava que 2,5%/3% era factível, mas este 1°semestre os dados tem mostrado recuperação "zero", agora estamos entre 1,5%/2%. Mas não houve mudança somente mais do mesmo, este é meu ponto.
Maradona