A agenda abandonada
Não podemos dizer que o resultado do PIB do
segundo trimestre (aumento de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre deste
ano e 0,5% contra o segundo trimestre de 2011) tenha sido surpreendente. Ainda
assim, decepcionou. Mesmo que se materialize a reação mais vigorosa esperada
para o segundo semestre, dificilmente a expansão do produto superará 1,5% este
ano, o pior resultado desde 2009, ano comprometido pela crise financeira.
segundo trimestre (aumento de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre deste
ano e 0,5% contra o segundo trimestre de 2011) tenha sido surpreendente. Ainda
assim, decepcionou. Mesmo que se materialize a reação mais vigorosa esperada
para o segundo semestre, dificilmente a expansão do produto superará 1,5% este
ano, o pior resultado desde 2009, ano comprometido pela crise financeira.
É tentador imaginar que também agora o fraco desempenho
do país possa ser atribuído à crise externa, cujos efeitos sobre mercados
financeiros, assim como sobre o comércio internacional, têm sido mais que
claros. Tentador, porém equivocado.
do país possa ser atribuído à crise externa, cujos efeitos sobre mercados
financeiros, assim como sobre o comércio internacional, têm sido mais que
claros. Tentador, porém equivocado.
Ao contrário do ocorrido àquela época não há
sinais de uma queda sincronizada da atividade. Na América Latina, região cujo comportamento
tende a ser afetado por fatores comuns (por exemplo, os preços de commodities), não há como deixar de
notar as diferenças. Enquanto o PIB brasileiro cresceu 0,5% sobre o mesmo
período do ano passado, o Chile mostrou expansão de 5,5%; o México 4,7%; o Peru
6,1% e a Colômbia 4,7% (no primeiro trimestre). Esta evidência não é, diga-se,
a palavra final sobre o assunto, mas sugere que se busquem as raízes do anêmico
desempenho pátrio em razões locais, nem tanto na crise internacional. Mas
quais?
sinais de uma queda sincronizada da atividade. Na América Latina, região cujo comportamento
tende a ser afetado por fatores comuns (por exemplo, os preços de commodities), não há como deixar de
notar as diferenças. Enquanto o PIB brasileiro cresceu 0,5% sobre o mesmo
período do ano passado, o Chile mostrou expansão de 5,5%; o México 4,7%; o Peru
6,1% e a Colômbia 4,7% (no primeiro trimestre). Esta evidência não é, diga-se,
a palavra final sobre o assunto, mas sugere que se busquem as raízes do anêmico
desempenho pátrio em razões locais, nem tanto na crise internacional. Mas
quais?
A reação imediata, por conta de uma longa
experiência de crises, é atribuir a culpa à fraca demanda, mas, se a demanda
interna não tem um desempenho sensacional, também não parece ser a fonte última
da desaceleração. Certos fatos, acredito, indicam que o problema pode estar
ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento sustentado.
experiência de crises, é atribuir a culpa à fraca demanda, mas, se a demanda
interna não tem um desempenho sensacional, também não parece ser a fonte última
da desaceleração. Certos fatos, acredito, indicam que o problema pode estar
ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento sustentado.
Caso seja verdade, trata-se de situação, se não
inédita, ao menos rara na história econômica brasileira recente. Não consigo me
lembrar, do alto dos meus quase 50 anos, de nada semelhante, à exceção do
racionamento de 2001, quando as limitações na oferta de energia forçaram a
redução do ritmo de crescimento.
inédita, ao menos rara na história econômica brasileira recente. Não consigo me
lembrar, do alto dos meus quase 50 anos, de nada semelhante, à exceção do
racionamento de 2001, quando as limitações na oferta de energia forçaram a
redução do ritmo de crescimento.
Quem, todavia, olha com mais cuidado para os
desenvolvimentos do lado do mercado de trabalho começa a notar fatos reveladores.
Apesar da baixa expansão do PIB no primeiro semestre de 2012 (0,6%), o emprego
nas seis regiões metropolitanas cresceu 2%, ampliando o paradoxo de 2011,
quando, a despeito do crescimento ter ficado na casa de 2,7%, o emprego
continuou a crescer a um ritmo superior ao da população, levando a uma queda
expressiva da taxa de desemprego (de 6,7% para 6%).
desenvolvimentos do lado do mercado de trabalho começa a notar fatos reveladores.
Apesar da baixa expansão do PIB no primeiro semestre de 2012 (0,6%), o emprego
nas seis regiões metropolitanas cresceu 2%, ampliando o paradoxo de 2011,
quando, a despeito do crescimento ter ficado na casa de 2,7%, o emprego
continuou a crescer a um ritmo superior ao da população, levando a uma queda
expressiva da taxa de desemprego (de 6,7% para 6%).
Dado o baixo crescimento da produtividade, mesmo
taxas modestas de crescimento levam à redução persistente do desemprego,
sugerindo que a oferta de mão de obra, seja em quantidade, seja em
qualificação, se configura como o principal obstáculo ao crescimento, secundada
pelo fraquíssimo desempenho do investimento, em particular em infraestrutura. O
sintoma mais claro disto é o aumento dos salários (ao redor de 11% relativamente
ao ano passado), muito superior a qualquer estimativa honesta do crescimento da
produtividade.
taxas modestas de crescimento levam à redução persistente do desemprego,
sugerindo que a oferta de mão de obra, seja em quantidade, seja em
qualificação, se configura como o principal obstáculo ao crescimento, secundada
pelo fraquíssimo desempenho do investimento, em particular em infraestrutura. O
sintoma mais claro disto é o aumento dos salários (ao redor de 11% relativamente
ao ano passado), muito superior a qualquer estimativa honesta do crescimento da
produtividade.
Posto de outra forma, não há como manter o ritmo
dos últimos anos simplesmente porque não temos a mesma disponibilidade de mão
de obra e também porque, à medida que empregamos trabalhadores com menor
capacitação e experiência, é de se esperar que a produtividade se desacelere.
dos últimos anos simplesmente porque não temos a mesma disponibilidade de mão
de obra e também porque, à medida que empregamos trabalhadores com menor
capacitação e experiência, é de se esperar que a produtividade se desacelere.
Caso esta hipótese seja verdadeira, duas são as
conclusões. Em primeiro lugar que políticas de expansão da demanda não
conseguirão acelerar o crescimento sem agravar desequilíbrios macroeconômicos,
em particular a inflação, que já vem se acelerando e assim continuará.
conclusões. Em primeiro lugar que políticas de expansão da demanda não
conseguirão acelerar o crescimento sem agravar desequilíbrios macroeconômicos,
em particular a inflação, que já vem se acelerando e assim continuará.
E, finalmente, que, se quisermos acelerar o
crescimento do PIB, são necessárias políticas que favoreçam o aumento da
produtividade. A nota triste é que deveriam ter sido adotadas anos atrás para
que seus efeitos se manifestassem agora, mas esta agenda, antes perdida, foi então
abandonada e, de novo, corremos hoje atrás do prejuízo.
crescimento do PIB, são necessárias políticas que favoreçam o aumento da
produtividade. A nota triste é que deveriam ter sido adotadas anos atrás para
que seus efeitos se manifestassem agora, mas esta agenda, antes perdida, foi então
abandonada e, de novo, corremos hoje atrás do prejuízo.
– Olhaí Nersão: vê se não esqueceu debaixo do carro… |
(Publicado 5/Set/2012)
Alex,
Ainda assim continuo tentado a acreditar que a queda da demanda externa também é fator preponderante para o fraco desempenho da economia. Por mais que nossos vizinhos tenham apresentado crescimento muito mais expressivo que o brasileiro, será que essa discrepância não se deve a que patamar os demais latinos se encontravam antes do crescimento apresentado, e logo, têm margem de crescimento superior à nossa?
Abraço,
Mais uma vez perfeito. Parabéns. As reformas necessárias ao país são politicamente muito difíceis (é necessário mexer em privilégios.).
A relação capital x trabalho, a complexidade tributária (difícil até para especialistas), a mentalidade de proteger setores industriais incompetentes (ontem, hoje e sempre), a péssima qualidade dos gastos públicos, um sistema previdenciário cheio de furos e de privilégios, e mais…..
Alex,
não sou economista. Apenas leio seu post para tentar entender alguma coisa sobre o que sucede na área.
Porém gostaria de saber se esses dados periodicamente publicados sobre inflação, desemprego e outros indicadores (especialmente os chapa branca) são realmente confiáveis e podem ser checados por outras mensurações ndependentes?
Abrs
Décio
Mas nao se preocupe Alex, nosso mago da Economia acaba de aumentar imposto de importação para 100 produtos. Agora vai!!!
Caro Mageconomia,
Não sei se a questão foi a dificuldade política. Acho que a questão foi ideológica ou de interesse político. Senão, como justificar as reformas feitas por um FHC enfraquecido e por um mesmo Lula no primeiro mandato?
Acho que o Lula preferiu nadar em um rio de glória, onde tudo o que se fazia era agradar o País inteiro. Acho que o segundo governo Lula teve como finalidade precípua a criação de um mito. E isso foi feito às custas de objetivos de longo prazo.
Abraços,
Rafael
Concordo em partes.
Quando o pais cresceu la pra 7% no pos crise foi por conta de um choque de produtividade?? Pra mim não explica 100%, apesar de lógico ter sua parcela.
na minha opinião a retraçao vem muito mais da contençao de gastos do governo, tanto de gastos correntes como de investimentos que vem sendo feito no governo Dilma.
Vide greve dos servidores.
não acha esse fator importante, Alex?
"Quando o pais cresceu la pra 7% no pos crise foi por conta de um choque de produtividade?"
Não, mas saiu de uma taxa de desemprego da ordem de 8.5% e a reduziu para pouco mais de 6% no final de 2010 e começo de 2011. Ou seja, usou recursos ociosos; agora o jogo é outro.
E que contenção de gastos? Os gastos federais cresceram 6% acima da inflação de janeiro a julho…
Tenho muitas dúvidas sobre o crescimento do emprego, não visualizo isso na prática. Existem setores pontuais na qual isso realmente ocorre, mas no geral…
Os números do IBGE são gerais (quer dizer, valem para 6 regiões metropolitanas, mas não estão medindo um setor em particular)
Sou professor de macroeconomia mas não deixa de ser fascinante como toda essa análise do porquê o Brasil está caminhando rumo a estagnação se resume a duas coisas que qualquer "layperson" minimamente informada sobre ó ambiente de negócio no Brasil já sabe: (1) governo que absorve quase 40% dos recursos privados e devolve investimentos (alguns de de qualidade duvidosa) de um dígito, e (2) mão-de-obra semi-desqualificada (6.4 anos de estudo em média). Como é comum nessa terra bizarra, nada disso deveria ser novidade já que já se fala desses problemas desde o começo do século passado. A questão que me parece ser interessante é: o que precisa acontecer para que a famigeradas agenda perdida de reformas seja recuperada e executada? Os 10 últimos anos de evidência sugerem que continuaremos fazendo gambiarras e administrando o curtíssimo-prazo. Pobre páis…
Alex: noticia-se agora uma economia do Tesouro de 50 bilhões com os juros. Isso é real? O que vc pensa da trajetória recente da Selic? É sustentável?
Alex,
que tal um post sobre a discussão entre o Taylor e o Krugman ?
Abraço
A trajetória da selic não é nem sustentável nem insustentável, a trajetória é errática, pois a selic já foi abandonada faz tempo como instrumento de controle da inflação.
Off-Topic
Reinaldo Azevedo sobre Serra:
" Quem acompanhou os textos que vinha escrevendo sobre a situação econômica do Brasil nos últimos quatro anos sabe que acertou em cada análise, em cada previsão, em cada antevisão. E acertou no detalhe. E nisto segue sendo, com efeito, incontrastável: é o único político do que se chamou um dia oposição que tem uma visão inteira, global, da economia brasileira e de sua inserção no mundo(..)"
Você contrataria o Serra como chief strategist, "O" Anonimo?
TA
O melhor indicador de demanda agregada, o pib nominal, está caindo cada vez mais abaixo da tendencia a alguns messes. Isso é forte evidência de que o problema é de demanda.
Bom dia Alexandre!
“Admirável nova Polônia” é o título da coluna da Fiabci Brasil escrita em 4 de setembro de 2012 pelo jornal O Estado de São Paulo sobre a Missão Empresarial da Fiabci/Brasil pelo leste europeu.
O autor do artigo fez paralelo com o crescimento imobiliário brasileiro. Voce já leu? Por estes dados que voce passou nao acho facil fazer uma analogia. Voce pode dar um parecer?
abs