Comentários sobre os fatos e sobre essa nossa língua portuguesa, cheia de armadilhas
Dois fatos acontecidos recentemente – a soltura de um estuprador preso em flagrante dentro de um ônibus em São Paulo e de um PM com CNH vencida que, dirigindo em alta velocidade, atropelou e matou uma pessoa no Rio – indicam que as leis mais protegem os criminosos que a população. As consequências das inconsequências são perigosíssimas, pois podem gerar descrédito de que a Justiça será feita e a população passe a fazê-la com as próprias mãos via os lamentáveis linchamentos. Um cobrador impediu que o estuprador paulista fosse linchado, mas será que alguém conseguirá impedir em uma próxima vez? A foto dele foi divulgada, provavelmente, reincidirá – já o fez por duas vezes antes da em pauta -, se for reconhecido…
Os advogados de Lula e Temer não se cansam de pedir a suspeição de Rodrigo Janot e Sergio Moro e também não se cansam de perder uma atrás da outra.
No Estadão (31), pág. A2, “Autoridades não sabem conversar com brasileiro comum”. O autor, Eugênio Bucci, como de hábito, faz precisa análise do comportamento das “otoridades”. Destaco um trechinho, omitindo o nome da personagem porque serve para muita gente:
“Por fim, uma nota irônica: a muralha da aprovação em torno de NN é também sintoma do mesmo mal profundo; resulta não do debate de ideias, mas de uma cristalização despolitizada de um culto sem laços com verdades factuais verificáveis. É terrível que, mesmo quando encontramos aprovação na pesquisa do Ipsos, essa aprovação se deva menos ao excesso e mais ao déficit de comunicação crítica.”.
Na mesma edição, na pág. A6, “Não fala, mas compartilha”.
É sobre aquele que o colega de Chumbo Gordo, Josué Machado, chama de Boçalnato. Um perigo do tamanho de Trump, não levaram a sério e foi eleito.
Trecho de artigo na Folha de S.Paulo (31), pág. A2: “- É lenda urbana, mas ganhou ares de história séria nos anos 70 nos EUA e mais tarde por aqui. A senhora deu banho no gato e resolveu secar o bicho no microondas. Como a operação não deu certo, ela então resolveu processar o fabricante do aparelho, pois o manual de instruções não atestava que secar gatos não daria certo. Por isso ou por acreditarem na estupidez humana, manuais de eletrodomésticos já há muito preveem situações ridículas como essa para que consigamos nos proteger de nós mesmos. Nada diferente do absolutamente óbvio “antes de entrar no elevador verifique se o mesmo(*) encontra-se parado neste andar”.
(*) Além de óbvio, demonstração evidente de que o legislador desconhece gramática, não pode e não deve ser usado como pronome – e considerado como tal, atrairia o “se” –, o certo é “verifique se ele se encontra. O único lugar em que vi a placa com a lei escrita corretamente foi no escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini, por obra de Gian Carlo Gasperini, um italiano.
A reforma ortográfica serviu para duas coisas, enriquecer as editoras de livros didáticos e dicionários – tudo teve de ser reeditado – e causar confusão em uma língua já lotada de regras confusas. No caderno Paladar (Estadão, 31), é publicada uma reportagem sobre queijos produzidos artesanalmente no interior paulista, entre eles a… muçarela, ou será moçarela, ou, ainda, mozarela? O jornal usa mussarela, palavra que não existe nos léxicos e no Volp. O problema é que o Volp – este é o mandão – traz as formas muçarela e mozarela; o Houaiss, muçarela e mozarela (está de acordo com o Volp); mas, no Aurélio, além de mozarela, tem moçarela, forma que o Volp não reconhece. Fica difícil escrever certo com essa confusão.
(CACALO KFOURI)
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