Atirando ao acaso. Coluna Carlos Brickmann
: - Edição dos jornais de QUARTA-FEIRA, 30 de setembro de 2015
A atiradora não é das mais competentas, mas seu maior erro não é a falta de pontaria, e sim a escolha dos alvos. O PMDB é um partido de profissionais, especializado em ocupar suculentas fatias do poder. Quando amadores tentam dar cargos a profissionais, para conquistá-los, tudo pode acontecer, menos dar certo.
Não adianta atender a Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, porque fica faltando atender a Jader Barbalho, Sarney, uma faminta tropa de elite. Fica faltando atender à bancada de deputados e aos senadores. E a incompetência é tamanha que se aceitou entre os reivindicantes até um dente-de-leite, o deputado federal Leonardo Picciani, do PMDB do Rio, inexperiente mas já voraz.
É provável que nem juntando a ONU inteira seja possível atender a todas as reivindicações peemedebistas por bons cargos, com verbas abundantes e amplo espaço para nomeações. E não é só o PMDB: é preciso atender também ao PT, ao PP, pois só pixulecos não enchem barriga. E, claro, aos aliados do PCdoB, até agora fiéis; e aos “movimentos sociais”, aqueles que se apresentam como exércitos em defesa do que chamam de legalidade (ou seja, aquilo que os beneficia).
A falha é achar que não é preciso negociar, discutir, buscar pontos convergentes com os aliados: basta nomear e pronto. Certo, ninguém desse povo rejeita cargos, mas retribuir com apoio são outros, e muitos, quinhentos. A falha é da negocianta, que despreza os aliados e procura perder o mínimo possível de tempo com eles.
Em troca, os aliados perdem o mínimo possível de tempo com ela.
A dança das cadeiras
Dilma age, na política, de forma incoerenta com as ideias que diz ter – tanto que engole Joaquim Levy enquanto abomina todo o seu pensamento econômico. Mas não pode levar a culpa sozinha: mesmo que fosse uma exímia articuladora, como poderia chegar a acordos satisfatórios se boa parte dos políticos não sabe se a campainha, de manhã bem cedinho, indica a chegada do padeiro ou do agente de viagens com a passagem para Curitiba?
Eduardo Cunha, principal nome da oposição, está na mira de cinco delatores premiados. Renan é nome recorrente nas investigações. Jarbas Vasconcelos jamais teve sua honestidade contestada – e, por isso mesmo, quem quer negociar com ele? Dilma já não é boa de conversa política, e isso piora muito quando não sabe com quem tem de conversar.
Dilma? Quem?
O caso mais triste é dos “movimentos sociais”, dos sindicatos petistas, das instituições mantidas pelo PT. Até blogueiros chapa-branca falam mal da política de Dilma. Os “movimentos sociais”, as instituições mantidas pelo PT, sindicatos obedientes que muito se beneficiaram hoje ignoram a presidente e combatem sua política. A Fundação Perseu Abramo, do PT, decretou que as medidas econômicas defendidas pelo Governo são erradas.
Com esses aliados, Dilma nem precisa de oposição – ainda bem, porque oposição boazinha assim jamais se viu no mundo. Quem não diz “sim” diz “sim, senhora”. E até a chama de “presidenta”.
Semana animada
Hoje entram em votação os vetos de Dilma a itens da pauta-bomba aprovada pela Câmara (se os vetos forem derrubados, aumenta em alguns bilhões de dólares a despesa permanente do Governo). Se forem rejeitados, fora as consequências econômicas, as negociações entre Dilma e o PMDB terão de ser revistas.
À luz da História
O jurista Hélio Bicudo, que combateu o Esquadrão da Morte até extingui-lo e foi fundador do PT, e a advogada Janaína Paschoal, que com ele assinou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, deram excelente entrevista à Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo. Hélio Bicudo, 93 anos, agudo e preciso como de costume, deu sua opinião sobre a postura dos oposicionistas que combatem o impeachment (citou Geraldo Alckmin e Fernando Henrique): “Atitude covarde”.
Dormindo com o inimigo
O governador Geraldo Alckmin, PSDB, tentou ser discreto: durante quase um ano seus contatos foram mantidos em segredo. Mas um dia a história vaza. E O Estado de S. Paulo descobriu que Alckmin manteve longo e cordial encontro com dirigentes do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o que forma o tal “exército do Stedile” de que Lula falou. Seu principal interlocutor no MST é Gilmar Mauro – e foi por seu intermédio que o Governo tucano paulista investe, só neste ano, R$ 7 milhões nos assentamentos do grupo (“assentamentos” é a palavra bonita que se usa em vez de “invasões”).
Segundo Gilmar Mauro, Lula aprova a aproximação entre o MST e Alckmin. Por que desaprovaria, se a injeção de dinheiro paulista no MST vai reforçar o exército de Stedile?
Loucura sangrenta
O saudita Ali Mohammed al-Nimr foi detido há quatro anos em manifestações contra o Governo (na época, vivia-se a Primavera Árabe). Tinha 17 anos. Agora, com 21, foi condenado à decapitação. Depois que lhe cortarem a cabeça, o corpo deve ser crucificado, para exposição pública. Seu pai, clérigo xiita (na Arábia Saudita, os sunitas predominam), também foi condenado à morte.
A Arábia Saudita exerce a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
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