Antes as balas se perdessem… Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Antes as balas se perdessem…

Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

…não, elas não se perdem, elas vão se aninhar no corpo de inocentes que têm o azar de viver ou de estar passando nas áreas onde a batalha diária aqui no Rio já perdeu a característica de tentativa de sanear a cidade e transformou-se numa guerra civil disfarçada…

Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 7 de julho/ 2017
Não sei quem criou a expressão bala perdida, nem quero saber. Perdida por quê? Porque não atingiu o alvo desejado e foi pegar quem não devia? Queria eu que as balas atiradas durante as batalhas entre polícia e bandidos se perdessem, sim. Que fossem parar na p.q.p.
Mas não, elas não se perdem, elas vão se aninhar no corpo de inocentes que têm o azar de viver ou de estar passando nas áreas onde a batalha diária aqui no Rio já perdeu a característica de tentativa de sanear a cidade e transformou-se numa guerra civil disfarçada.
“Onde nossas crianças estão a salvo”, pergunta o jornal O Dia. Pergunta que eu repito. Pergunta que ninguém sabe responder.
Insegurança é palavra com pouca força para definir o que estamos sentindo. Creio que a definição correta do sentimento que invade a alma do carioca e do fluminense é medo.
Medo, pavor, só isso explica a inação da sociedade, o fato de ainda não termos ido para as ruas cobrar de nossas autoridades ações positivas para resolver o descalabro que tomou conta de nossa Polícia e exigir que o Governo Federal use de suas prerrogativas para exigir que as Forças Armadas cumpram parte vital de suas funções, a manutenção da Lei e da Ordem em nosso território e a fiscalização rigorosa de nossas fronteiras.
Ou o Rio de Janeiro não faz parte do território nacional?
A Imprensa tem feito sua parte, noticiando o dia a dia trágico e assustador que vivemos. Os números são terríveis e não duram 24 horas. Ontem O Globo lido logo pela manhã falou em 632 vítimas atingidas por balas, sendo que 67 mortas. Qual será a estatística de amanhã?
Disse o Secretário de Segurança do Rio no programa Estúdio I, da Globo News, que o confronto entre policiais e bandidos não é recomendável, mas pode estar acontecendo.
Pode?
Segundo ele, o cidadão liga para o 190 pedindo ajuda, a polícia vai atender a ocorrência onde quer que o caso esteja acontecendo, seja lá onde for, perto de uma escola, de um hospital, de uma igreja. “A polícia atende a uma demanda da sociedade” e nesse momento pode ocorrer um desvio, um erro operacional, um acidente fatal.

E tem gente se preocupando se vai ou não ter Carnaval? Deus do Céu, o que houve conosco?

Qual a solução, então? Que tal copiarmos o que Nova York fez há uns 30 anos atrás, quando sua polícia estava corrupta, violenta, descontrolada? A solução foi a óbvia: as autoridades enfrentaram com coragem e determinação esses problemas, reformando e reformulando seus batalhões.
E é disso que precisamos: coragem e determinação das autoridades e instituições governamentais. O economista Daniel Cerqueira, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em economia do crime e segurança pública, considera que o Rio vive hoje um verdadeiro descontrole:
“Cada grupo de policiais, cada batalhão, faz suas operações e sai atirando a esmo, matando, morrendo. Estamos vivendo uma verdadeira anarquia no sistema de segurança do Rio. É preciso superar isso”.
O que não dá é para estarmos pranteando diariamente nossas crianças, deixando famílias dizimadas, infiltrando a desesperança no coração de nossos jovens.
Temos em estado crítico numa UTI um brasileirinho que ainda não tinha nascido. Ou melhor, que ainda não nasceu…
E tem gente se preocupando se vai ou não ter Carnaval? Deus do Céu, o que houve conosco?

bangbang

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
https://www.facebook.com/mhrrs e @mariahrrdesousa

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