Advertência não é polêmica. Por Meraldo Zisman
Advertência não é polêmica
Meraldo Zisman
… Dificilmente pergunta-se do que a mulher gosta ou desgosta de alguma coisa, mas, sim, do que o homem nela mais aprecia. Este é o ponto nevrálgico do empoderamento feminino e, uma das consequências complexas das modificações contemporâneas…
Não sou sociólogo, e sim, médico e psicoterapeuta, e aprecio muito cinema, muito especialmente, filmes na telona. Por ser grande, ela colabora no meu traslado para uma outra dimensão: o da análise das personagens por detrás do que está atrás da tela, o aspecto psicossocial. Logo, quase tudo me interessa.
Assistindo o filme Mulher Maravilha (Wonderful Woman), não posso deixar de compara-lo com O Homem que Amava as Mulheres, exibido em 1977, dirigido pelo francês François Truffaut (1932-1984), filme autobiográfico.
Para relembrar, a Nouvelle vague (Nova Onda) foi um movimento artístico do cinema francês que se insere no movimento contestatório próprio dos anos sessenta, do qual o cineasta fez parte.
A heroína deste, agora, a mulher maravilha, é originária de personagens de histórias em quadrinhos, conhecidas por HQs, gibis, revistinhas, historietas que começaram a ser publicadas no século XIX e, é até agora bem sucedida que a mulher maravilha virou filme. O filme, tem a seguinte sinopse da produtora Wagner Bros. Entretanto, a vestimenta amazônica da protagonista, é incômoda para a maioria das cenas das pelejas exibidas. Para ficar apenas no corpete, imagino a tortura de vesti-lo, desvesti-lo, puxar para cima ou para baixo, além de lembrar a fantasia ser uma mistura de Batman, Super-Homem associado às deusas clássicas da Diana, Afrodite, e lambuzadas das curvas de Vênus. A sinopse publicava o seguinte:
“Treinada desde cedo para ser uma guerreira imbatível, Diana Prince (Gal Gadot) nunca saiu da paradisíaca ilha em que é reconhecida como princesa das Amazonas. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine) se acidenta e cai numa praia do local, ela descobre que uma guerra sem precedentes está se espalhando pelo mundo e decide deixar seu lar certa de que pode parar o conflito. Lutando para acabar com todas as lutas, Diana percebe o alcance de seus poderes e sua verdadeira missão na Terra”.
Como esses tempos desafiadores das almas das pessoas, lembrei-me, enquanto o assistia, de um dito que desconheço a autoria, que é mais ou menos assim e, já nem sei se eu mesmo inventei:
“Aquele que ama uma mulher, não gostaria que ela perdesse todos os seus defeitos, mantendo apenas suas qualidades, sem perceber que, quase sempre, as características positivas e negativas, são como as duas faces de uma mesma moeda.”
Dificilmente pergunta-se do que a mulher gosta ou desgosta de alguma coisa, mas, sim, do que o homem nela mais aprecia. Este é o ponto nevrálgico do empoderamento feminino e, uma das consequências complexas das modificações contemporâneas. Apesar de saber das conquistas, ainda que, lentas da emancipação feminina e, que o tal do príncipe encantado pertence aos contos de fada, parece-me que o provedor macho, já era, meu pensamento retorna para a minha velhinha película de mais 40 anos, do simplório homem que amava as mulheres.
A primeira cena, foca uma cerimônia de enterro, onde diversas mulheres, de todos os tipos e idades, seguem o caixão de um finado filho, eternamente apaixonado pela mãe, e que teve sua primeira experiência sexual num bordel, e, que foi namorado das mais belas mulheres do seu tempo, logo aonde, em Paris. Ele não encontrou em uma única mulher tudo o que procurava.
Talvez essa fosse a sua maior tristeza. Morreu aos 52 anos, o nosso criador Truffaut.
Como estou na idade, e, evidentemente, no ofício de acautelar, facilitar, e, às vezes, advertir, percebo, pelo andar da carruagem, que o gênero masculino, vai terminar vivendo num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem o melhor.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha)
FORMIDÁVEL, DR. MERALDO!!! CONTRIBUIÇÃO LITERÁRIA DESPROVIDA DE RÉPLICAS REACIONÁRIAS.