A Loura e o Moreno. Por José Paulo Cavalcanti Filho
A LOURA E O MORENO
Por José Paulo Cavalcanti Filho
A semana foi marcada por dois fatos envolvendo jornalistas corretos. Vênia para breves comentários.
A LOURA. É Mirian Leitão. Agredida, em um avião da Avianca, por guerreiros da democracia. Não preciso dar testemunho sobre o profissionalismo da jornalista. Todos o conhecem. O que torna injusto, e incompreensível, que seja confrontada como foi. Por uma turba com cerca de 20 marmanjos vestidos, todos, com camisetas vermelhas. Voltando de mais um “Fora Temer”, em Brasília. Protesto caro. Sem que se saiba quem pagou hotéis, restaurantes e passagens de avião. Em meio a fortes agressões verbais, ao passar por ela (que estava na fileira do corredor), também davam-lhe encontrões violentos.
Lamento não ter havido reação de qualquer dos passageiros. Jamais concordariam com peleja tão desigual, claro – 20 homens contra uma frágil mulher de 60 quilos. Mais provável é que estivessem com medo. É natural. Também não reagiu o comandante do avião. O que não tem nada de natural. Posto que deveria seguir o procedimento recomendado para distúrbios como esse. Chamar a polícia e prender todos. Mas preferiu ficar inerte. Quem sabe por pensar como eles. As ideologias por cima dos deveres. Em terra como no ar.
Dia seguinte, em outro aeroporto, chamaram o jornalista Alexandre Garcia de golpista. Com ameaças de que poderia ser mimimirianlizado. Esses episódios não devem espantar. Os valentões são do mesmo partido político da ex-governadora do Rio, e ex-ministra de Lula, Benedita da Silva – que, em vídeo viralizado, prega uma revolução com sangue para solução dos problemas do Brasil. E não está sozinha, nessa proposta. Penso que essa gente vai ter que escolher. Ou democracia, com voto. Ou revolução, com espingarda. Ou ainda acreditam em eleições, e nesse caso continuam com essa pregação das “Diretas Já”. Ou preferem uma revolução, e terão que dizer isso claramente. O povo brasileiro vai então escolher qual caminho prefere. O voto. Ou a bala.
O MORENO. É Jorge Bastos Moreno. Grande figura. Desde bem jovem, acompanhava sempre doutor Ulisses.Tinha mesa cativa do Piantela. Quem quisesse encontrar com ele, bastava ir lá. Moreno era uma unanimidade. Todos gostavam dele. O poeta Marcelo Mário de Melo recomenda lembrar nossos mortos por seus jeitos de rir. Sendo assim, lembro do amigo contando essa historinha passada, por terceiro, à época – jurando ser mesmo, Moreno, o personagem.
A redação de O Globo mandou Moreno fazer entrevista com o doutor Roberto Marinho. Bem cedo. Mais do que seria recomendável. Ou desejável. Para doutor Roberto, que ainda estava no quarto. E para Moreno, que quase saiu de uma farra direto para essa entrevista. A empregada pediu que esperasse no terraço. Moreno, com seus quase 150 quilos, desabou na poltrona. Cansado. Ouviu um ruído estranho e nem deu por isso. Ficou naquele cochilo restaurador até quando a mesma empregada passou por ele, aperreada, perguntando pelo pequenez de dona Lili. Como era um cão miúdo, talvez estivesse escondido em algum canto do terraço. Nada.
Quando ela se foi, Moreno começou a ter maus presságios. Lembrou daquele som estranho, de antes. Levantou e encontrou, embaixo de onde estava sentado, o tal pequenez de dona Lili. Preocupado em não ser apontado como assassino de cães, segurou seus restos mortais pela cauda e jogou dentro de um jarro de plantas. Acabou descoberto só dias mais tarde. Pelo cheiro ruim, presume-se. E ninguém sequer lembrou que o culpado poderia ser ele. Ainda bem. Tanto que não foi demitido. Graças ao bom Deus. Depois da entrevista, se mandou e nunca mais pôs os pés naquela casa.
Imagino Moreno, ao entrar no céu, se encontrando com aquele cão. O que dirão?, um ao outro. Se é que há céu. E se cães também forem admitidos no lugar. Sobre Moreno, tenho dúvidas não. Se houver dito céu, com certeza vai estar por lá. E bem. Saudades dele.
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José Paulo Cavalcanti Filho – É advogado e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade.