VAMOS POR PARTES

(PARÁFRASE/INTROJEÇÃO/PASSADO/SOLIDARIEDADE)

Por Meraldo Zisman

 Caso tivéssemos uma publicação do tipo Dicionário Oxford da língua portuguesa (eu desconheço sua existência), que registrasse a palavra mais escrita e pronunciada atualmente no português falado no Brasil, o vocábulo corrupção seria o campeão.

Vamos por partes.

O significado das palavras fica com os dicionários; para o parentesco entre elas existe a ciência da Etimologia, que trata das origens das palavras e seu parentesco. A paráfrase decorre de tudo o que a pessoa absorveu, digeriu, conviveu, enquanto vivo. Não significa apenas o desenvolvimento do texto de um livro ou de um documento, com a conservação das ideias originais ou tão somente um modo diverso de expressar uma frase ou o conteúdo de um documento sem alterar seu significado original. Por outro lado, a introjeção é o mecanismo psicológico pelo qual um indivíduo, inconscientemente, se apossa de um fato ou de uma característica alheia tornando-o parte dele mesmo.

Esquecemos, com frequência, que o aparelho mental do Homem é o único no reino animal capaz de desenvolver um projeto de futuro em longo prazo, pois não foi concebido para permanecer amordaçado ao passado.  Para confirmar isso socorro-me do poeta Fernando Pessoa: Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

 O sofrimento e as alegrias convêm para a solidariedade. Elas são os ingredientes da coesão nacional. O seu significado, reitero, aqui é: a relação de responsabilidade entre as pessoas seja ou não decorrente de interesses comuns. O importante é que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar os outros e jamais fugir do diálogo.

Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Na antiguidade, o termo estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina.

 Compreender o outro é o fator mais construtivo da humanidade.
Para exemplificar, parabolizo:

Nós brasileiros somos quais passageiros a bordo de um mesmo navio, que é capaz de romper as forças das borrascas, possuidor de quilha adequada para romper as ondas revoltosas. Os enjoos sentidos e sofridos por seus passageiros – e até pela tripulação, são apenas um sintoma.

… Para confirmar isso socorro-me do poeta Fernando Pessoa: Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Primeiro teríamos de saber se o balanço doído é devido exclusivamente à corrupção, muito embora ela se apresente como um dos fatores principais. Ela pode ser apenas uma forma de chamar a atenção. Uma maneira de se expor, de aparecer diante do país. Recomendo o que aprendi dos meus mestres na minha profissão de médico: um sintoma não é um diagnóstico e sim mais um sinal da enfermidade.

É bom levar em conta que crise pela qual estamos passando jamais foi uma marola e muito menos uma “marolinha”.

Aprendemos, perante o quadro atual, que não se deve soltar piadinhas sobre coisas públicas. Os significados dessa palavra marolinha são vários; o leitor pode encontrá-los em: http://www.dicionarioinformal.com.br/marolinha/

Repito: pelo menos aprendemos a não suportar piadinhas com o próprio país. Por maior que seja a doença, vamos tratá-la por partes. Como manda a ciência da vida. Para resolver uma patologia crônica, os médicos a tratam por partes.

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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha)