Repetição e compromisso

Houve tempo que acreditei ser
o único a me repetir nas colunas e bem que tentei me convencer que não era tão
ruim quanto imaginava. Afinal, são textos de opinião e há diversas formas de
expressá-las, assim como pessoas que não leram as versões anteriores e mais um
tanto de argumentos para me livrar da sensação de enganar os 18 leitores. Hoje
percebo que não era assim, o que – a bem da verdade – mais que uma
justificativa, torna a repetição de certos temas praticamente uma obrigação.
Digo isto porque, ao abrir
o jornal de segunda (no caso o Valor Econômico), me deparo com mais
uma matéria reafirmando o interesse do governo em buscar
novo canal com o setor privado, praticamente reprise da coluna publicada no mesmo jornal no dia 21/12/2012,
a começar pelo título. A coluna original (se cabe aqui a expressão) já havia me
motivado a escrever sobre a diferença crucial entre a postura
favorável aos negócios e a favorável ao mercado.
Vejo, com tristeza, mas
sem surpresa alguma, que o tema continua absolutamente atual.
Aparentemente o governo se
mostra pasmado que sua estratégia de aproximação com o setor privado, expressa
na redução da taxa de juros, desvalorização da moeda e concessão seletiva de
incentivos fiscais, não tenha implicado aumento do investimento. Em particular
as desonerações tributárias teriam resultado em mera elevação das margens de
lucro, sem resposta da inversão.
Este desencanto, acredito,
não se aplica aos 18 fiéis.
Quem leu meus comentários
a respeito deste assunto à época deve (espero) ainda se lembrar da diferença
conceitual (e prática!) entre políticas pró-negócio e política pró-mercado.
As primeiras visam
favorecer interesses específicos de setores empresariais, e englobam favorecimentos
diversos a segmentos que, de uma forma ou de outra, são eleitos para comandar a
expansão da economia. Sem esgotar o assunto, incentivos fiscais, crédito em
condições extremamente favoráveis, proteção contra competição externa (e mesmo
interna) são alguns dos instrumentos mais conhecidos e não é difícil achar exemplos
de sua aplicação mesmo antes do anúncio oficial da mudança da postura “a favor
do setor privado”.
Também não é difícil
perceber os incentivos que decorrem desta abordagem.
Do ponto de vista de
qualquer empresa passa a ser mais interessante convencer o governo acerca de
seu papel “essencial” ao desenvolvimento do país do que se preocupar em
melhorar seu produto, ou aumentar a produtividade, ou buscar novos mercados.
Tudo aquilo que faz da competição capitalista o motor último de crescimento
torna-se secundário se os lucros podem crescer (como admitido pelo próprio
governo) a partir de decisões tomadas em gabinetes.
Não por acaso, portanto,
este tipo de política pode até gerar grandes empresas e lucros idem
(favorecendo uns tantos amigos do rei), mas não configura uma estratégia de
desenvolvimento sustentável.
Menos mal se alguma lição
tivesse sido aprendida, mas a insistência na mesma matéria apenas sugere que,
na falta de resultados positivos, a proposta governamental seja tão somente aumentar
a dose do remédio, na vã esperança que o fracasso observado se origine da
insuficiência da dose e não na natureza das políticas.
Em contraste, as reformas pró-mercado
que poderiam favorecer a competitividade (simplificação de tributos,
liberalização do comércio exterior, maior flexibilidade trabalhista, etc)
continuam onde estiveram nos últimos sete anos: expostas ao mais cruel
abandono.
O prognóstico é simples e
direto: nosso investimento continuará anêmico, com níveis muito aquém do
necessário para acelerar de forma decisiva o ritmo de expansão sustentável do país.
E, muito provavelmente, aparecerão novas reportagens acerca das outras tentativas
de engajar o setor privado com o mesmo sucesso das até agora experimentadas.

Denunciar este enfoque não
é desculpa para me repetir; é mesmo obrigação.
Novos canais com o setor
privado…
(Publicado 9/Out/2013)

11 thoughts on “Repetição e compromisso

  1. antes de qq comentário
    parabéns pelo dia do professor!

    correto, é sua obrigação comentar sempre e sempre, pois ser professor é muito mais do que transmitir um conteúdo especifico, é transformar mentes e expandir horizontes, coisas que esta escassa no País, nem se fale no governo. que parece o cavalo Boxer da Revoluçào dos bichoe de Orwell, seu moto continum:
    farei com mais afinco dessa vez…
    abraços
    jcw

  2. Eu gostava bastante de Scorpions quando era adolescente e não falava inglês. Depois que passei a entender as letras de algumas de suas musicas, não consigo mais levar a sério — são tão ruins que parecem até auto-paródia.

  3. Hum!

    Interessante "O", confesso que ainda estou engatinhando no Inglês, talvez então padeço disso também, mas achei legal aquele disco em Portugal, o acoustica.

    Quais outras bandas de rock vc indicaria?

    Aproveitando o ensejo, também estou precisando fazer uma revisão de geometria analítica, me indica lagum livro e os principais assuntos pertinenets a economia.

    Abs

  4. "Quais outras bandas de rock vc indicaria?"

    Desculpe, mas Scorpions é só prá porco; lixo total. Tente algumas bandas tipo "lado B' da cena dos anos 70: tipo "Blondie","Ramones","Devo","Pretenders","Social Distortion","Television", T-Rex",… são tantas!!!

    "revisão de geometria analítica…"
    pegue qualquer livro sobre o assunto. Um ótimo e bem baratinho é:"Geometria Analítica e Algebra Linear", do Elon Lages Lima, IMPA.

  5. Alex,

    voce e judeu entao deixe-me explicar. Trata-se da aproximacao do feriado de finados, em que lembramos dos nossos mortos: a economia, a confianca na equipe economica, o dialogo com o setor privado, etc. etc.

    dai a repetiacao

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