O safadão que deu certo. Por Josué Machado

O SAFADÃO QUE DEU CERTO

Por Josué Machado

   O escorregadio Joesley abriu o bicão, e os denunciados esperneiam alegando ilegalidade na gravação

Pouca gente falou do assunto, mas que maravilha a postura relaxada de escárnio com que Joesley Safadão Batista fez as gravações delatórias aos procuradores!

Com a voz áspera de um capataz escarrapachado na própria cozinha, Safadão fala com tranquilidade da nata (ou será escória?) dos políticos bananosos, como se num churrasco.

Para ele, apenas gentinha engravatada que comprou sem esforço, manifestando o desprezo que não se esforça para conter, já garantido que se sentia da impunidade.

Enquanto devora plurais e atropela concordâncias, refere-se com desembaraço aos políticos delatados como se estivesse falando de um bando de porcos, patos ou galinhas, aos quais jogava bananas, milho e pedaços de carne vencida no terreiro: Temer, Lula, Dilma, Mantega, Aócio, Geddel, ministros e outros figurões…

Fala deles e com eles de igual para igual ou – melhor ainda — de cima para baixo. Iam pedindo e ele ia jogando ração e restos, com o menosprezo natural do homem rude e poderoso pelos pidões desavergonhados de sempre.

(Lembra que chegou a pedir ao Aócio “pelo amor de Deus” que parasse de pedir dinheiro; usou um intermediário para isso. Aócio parou, mas depois voltou a pedir e foi atendido: precisava pagar ao advogado que o defendia de outra acusação; o advogado jamais viu a bufunfa.)

Claro: Safadão agitou porque tem poder. Um poder conseguido e multiplicado exatamente com o troco milionário que concedia aos picaretas da República pelas vantagens oficiais bilionárias obtidas à custa desse troca-troca generoso durante uns dez anos. Daí que o lucro do grupo JBS subiu de R$ 4,3 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões em 2016 – 40 vezes mais.

Teria Safadão uma fábrica de dinheiro? Ninguém pergunta de onde saiu tanta bufunfa viva? Verdade que ele tem um banco, o Original, mas é só chegar, encher a mala preta e sair?

 Pois os políticos abriam as portas dos cofres públicos e eliminavam barreiras legais, e ele lhes devolvia parte do saque. (Ele e os muitos outros empresários bem-sucedidos à custa de dádivas públicas, não é novidade.)

 Isso porque os políticos encastelados no poder parecem estar sempre à venda, por que não?

   ? Por que não, se são eleitos para administrar o bem público e por isso têm o poder de votar leis generosas e conceder crédito oficial subsidiado a quem escolhem? Por que não escolher quem sabe reconhecer a benfeitoria?

Alguém como Joesley Safadão que, agora, ao se ver ameaçado por investigações, resolveu abrir o bico e beneficiar-se com as boas revelações para sair livre como um beija-flor com o irmão Wesley Safadinho.

Para isso, pagarão multa, insignificante para a poderosa empresa carniceira, e poderão aproveitar lá fora a gorda, gordíssima bufunfa conquistada.

É a chamada justiça que tarda mas falha.

Usar delações como forma de punir malfeitorias é método usado com sucesso nos EUA, e agora, aqui, principalmente com a Lava Jato.

Mas parece inexplicável premiar grandes bandidos com penas brandas ao extremo, como no caso do Joesley Safadão e patota, porque deixa o gosto amargo da impunidade e a impressão de que o crime compensa.

Mas só compensa se o crime for dos grandes. Beeeeem grandes.

“FIZ, MAS NÃO FUI EU!”

Para os denunciados nas gravações feitas por Joesley Safadão e agregados, a defesa funciona assim:

   “Fiz, mas as provas talvez sejam ilegais, então não fiz!” 

Ou então:

Se as gravações foram induzidas, são ilegais; então sou inocente e pronto, acabou.

   É a defesa baseada nas chamadas “filigranas jurídicas”, aqueles bordadinhos nem sempre sutis costurados com itens e subitens cruzados da lei furada de que se valem poderosos advogados chicaneiros para driblar o direito e a Justiça. Se forem hábeis, por isso muito bem pagos, conseguem o que querem.

Esse é o recurso dos defensores de Temer e de Aócio principalmente. Com Luizinácio e Dilma ninguém parece ter-se preocupado muito no caso porque estão fora do poder e meio desfocados pois há o presidente na mira.

Mas será não menos que escandaloso e obsceno se os denunciados não forem todos engaiolados pelos crimes, se provados, embora os Safados Unidos & Cia. já tenham escorregado para a incompreensível liberdade bilionária no exterior.

Qual será o mistério?

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

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