O discurso do rei
Visto em certos círculos
como capitulação, a presidente discursou em Davos numa tentativa de recuperar a
confiança perdida pelo país junto a investidores internacionais. Intenção
louvável (ainda que tardia) à parte, o resultado não foi dos melhores. O
discurso está permeado dos mesmos vícios que criaram o problema, a saber,
autossuficiência no limite da arrogância, assim como uma inacreditável
incapacidade de entender as críticas ao desempenho medíocre do país.
como capitulação, a presidente discursou em Davos numa tentativa de recuperar a
confiança perdida pelo país junto a investidores internacionais. Intenção
louvável (ainda que tardia) à parte, o resultado não foi dos melhores. O
discurso está permeado dos mesmos vícios que criaram o problema, a saber,
autossuficiência no limite da arrogância, assim como uma inacreditável
incapacidade de entender as críticas ao desempenho medíocre do país.
Um olhar mais detalhado
revela que a fala trouxe obviedades, inverdades e promessas. Nenhuma colabora
particularmente para a construção da confiança.
revela que a fala trouxe obviedades, inverdades e promessas. Nenhuma colabora
particularmente para a construção da confiança.
É muito bom saber, por
exemplo, que parcela considerável da população brasileira ascendeu social e
economicamente na última década, ou que as reservas internacionais do Brasil
são da ordem de US$ 375 bilhões. O problema é que estas informações só ajudariam
a melhorar a imagem do país caso fossem desconhecidas da audiência e reveladas
naquele momento feliz em que a presidente ofereceu ao mundo uma visão inédita
sobre a realidade brasileira, o que, convenhamos, está longe de ser o caso.
exemplo, que parcela considerável da população brasileira ascendeu social e
economicamente na última década, ou que as reservas internacionais do Brasil
são da ordem de US$ 375 bilhões. O problema é que estas informações só ajudariam
a melhorar a imagem do país caso fossem desconhecidas da audiência e reveladas
naquele momento feliz em que a presidente ofereceu ao mundo uma visão inédita
sobre a realidade brasileira, o que, convenhamos, está longe de ser o caso.
Pelo contrário, a
audiência já conhece a história e mesmo assim permanece reticente quanto ao
país, não, obviamente, porque desgosta de reservas elevadas e melhora social,
mas porque tem visto outros desenvolvimentos nada positivos, como inflação
alta, crescimento baixo e contas fiscais sob crescente suspeita. Neste aspecto
esperava-se algo de concreto acerca de como lidar com estes temas. O que se
viu, contudo, foi a negação da sua existência.
audiência já conhece a história e mesmo assim permanece reticente quanto ao
país, não, obviamente, porque desgosta de reservas elevadas e melhora social,
mas porque tem visto outros desenvolvimentos nada positivos, como inflação
alta, crescimento baixo e contas fiscais sob crescente suspeita. Neste aspecto
esperava-se algo de concreto acerca de como lidar com estes temas. O que se
viu, contudo, foi a negação da sua existência.
Assim, a presidente
reitera que o país busca, “com determinação, o centro da meta inflacionária”.
Caso fosse verdade, a diretoria do BC já estaria na rua. Não se atinge a meta
(não existe “centro da meta”; só a meta) de inflação desde 2009, e, de acordo
com as previsões do BC, isto não ocorrerá pelo menos até 2015. Se isto é
“determinação”, não quero nem imaginar o que teria ocorrido caso tivessem feito
“corpo mole”.
reitera que o país busca, “com determinação, o centro da meta inflacionária”.
Caso fosse verdade, a diretoria do BC já estaria na rua. Não se atinge a meta
(não existe “centro da meta”; só a meta) de inflação desde 2009, e, de acordo
com as previsões do BC, isto não ocorrerá pelo menos até 2015. Se isto é
“determinação”, não quero nem imaginar o que teria ocorrido caso tivessem feito
“corpo mole”.
Na mesma toada afirma
que “as despesas correntes do governo federal estão sob controle e houve uma
melhora qualitativa (!) das contas públicas nos últimos anos”. Uma breve
inspeção dos números oficiais do Tesouro, porém, revela que as despesas
correntes saltaram de 16,5% do PIB em 2010 para 17,7% do PIB nos 12 meses
terminados em novembro do ano passado, para ficar apenas no período mais
recente (em 2003, por exemplo, eram 14,5% do PIB). De novo, se isto significa
controle, me arrepia pensar o que poderia ser uma situação de descontrole.
que “as despesas correntes do governo federal estão sob controle e houve uma
melhora qualitativa (!) das contas públicas nos últimos anos”. Uma breve
inspeção dos números oficiais do Tesouro, porém, revela que as despesas
correntes saltaram de 16,5% do PIB em 2010 para 17,7% do PIB nos 12 meses
terminados em novembro do ano passado, para ficar apenas no período mais
recente (em 2003, por exemplo, eram 14,5% do PIB). De novo, se isto significa
controle, me arrepia pensar o que poderia ser uma situação de descontrole.
Afirmações como as
acima podem funcionar para uma audiência despreparada, mas dificilmente no que
se refere a investidores familiarizados com os números e as ações de política
econômica no Brasil. O resultado no caso é o oposto: a percepção que o governo
não reconhece seus próprios problemas apenas reforça a desconfiança na gestão
do país.
acima podem funcionar para uma audiência despreparada, mas dificilmente no que
se refere a investidores familiarizados com os números e as ações de política
econômica no Brasil. O resultado no caso é o oposto: a percepção que o governo
não reconhece seus próprios problemas apenas reforça a desconfiança na gestão
do país.
Contra este pano de fundo,
sobram as promessas, mas, vamos falar a verdade, estas só funcionam se houver
confiança, o que nos traz de volta à estaca zero.
sobram as promessas, mas, vamos falar a verdade, estas só funcionam se houver
confiança, o que nos traz de volta à estaca zero.
Em momento algum houve
reconhecimento dos erros (e não foram poucos!) de política, os diagnósticos
equivocados, a execução malfeita de projetos. Houvesse autocrítica, certamente
seria possível construir uma base para a credibilidade acerca de rumos futuros
que incorporassem a correção dos enganos anteriores.
reconhecimento dos erros (e não foram poucos!) de política, os diagnósticos
equivocados, a execução malfeita de projetos. Houvesse autocrítica, certamente
seria possível construir uma base para a credibilidade acerca de rumos futuros
que incorporassem a correção dos enganos anteriores.
Assim, se tivesse que
resumir o discurso, seria algo na linha: “estamos fazendo tudo certo, mas vocês
não reconhecem; tratem de admitir que somos fantásticos e invistam”.
resumir o discurso, seria algo na linha: “estamos fazendo tudo certo, mas vocês
não reconhecem; tratem de admitir que somos fantásticos e invistam”.
O governo prefere
acreditar que a questão se resume a dificuldades de comunicação e que um exercício
algo despudorado de autolouvação há de corrigi-las, apesar da evidência em
contrário. Se quisessem mesmo resolver o assunto poderiam começar ensinando à
presidente o que aprendi com minha avó: “elogio em boca própria é vitupério”.
acreditar que a questão se resume a dificuldades de comunicação e que um exercício
algo despudorado de autolouvação há de corrigi-las, apesar da evidência em
contrário. Se quisessem mesmo resolver o assunto poderiam começar ensinando à
presidente o que aprendi com minha avó: “elogio em boca própria é vitupério”.
(Publicado 29/Jan/2014)
Bom dia Alexandre!
Como o governo federal conseguiu comprar os dolares da reserva?
Li que o governo vendia TDP para comprar. Foi isto?
É valido se endividar pagando juros altos?
Alex: “É muito bom saber, por exemplo, que … as reservas internacionais do Brasil são da ordem de US$ 375 bilhões.”
BC(03/02/2014): reservas internacionais = US$361,395bilhões
BC(30/12/2013): dívida externa (pública e privada) = US$312bilhões
BC(30/12/2013): posição vendida em swap cambial = US$68bilhões
Ou seja, a rigor deixamos de ser um credor internacional, condição que foi importante para a obtenção do investment grade.
Além disso, observa-se uma tendência crescente para o déficit em transações correntes, com poucos sinais indicando possível reversão.
Com esse cenário, dá mesmo pra se sentir confortável?
enquanto isso na sala de justiça:
os forwards do mercado puxando o juros em quase 14%.
e os ativos entrando numa nova rodada de desvalorização.
DE BRICs para BREAKs
Equipe econômica do Aécio: Armínio Fraga, Monica de Bolle, Mansueto Almeida, Gustavo Franco e Helena Landau.
Equipe econômica da Marina: Eduardo Gianetti, André Lara Resende, Ricardo Abramovay e José Eli da Veiga.
Eqipe econômica do Eduardo Campos: José Luis Oreiro, Luis Fernando de Paula e Luciano Coutinho.
Equipe econômica da Dilma (para um novo governo): Nelson Barbosa, Esther Dweck e Alexandre Tombini.
O que esperar das eleições de 2014?
O BC todo foi mandado pra rua no segundo FHC? porque não entregaram inflação nem no centro nem mesmo na meta (aumentada) hehehe
O que faz o belluzo ser tão burro, teimoso e idiota? Desonestidade ou cinismo?
Off topic:
Adolfo impecavel: http://www.bdadolfo.blogspot.com.br/2014/02/uma-critica-politica-cambial-adotada.html?m=1
"Logo, me parece que o real problema é outro: o BACEN se comprometeu demais em operações de swap cambial. Isto é, uma desvalorização cambial mais forte poderia complicar as coisas…"
Acho bem pouco provável que algum presidente chame um pedólatra para o governo. Imagina a festa que os petistas fariam com isso!
Sobre esse artigo do tal de Adolfo…
"Por outro lado, se o câmbio fosse flexível, tão logo grandes movimentos de saída de capital ocorressem o câmbio seria desvalorizado, punindo as empresas que adotaram esse comportamento."
>>> Qq menino(a) de 4a. série primária sabe disso; só lá no bc que não. lamentável…
SWAP CAMBIAL:
O banner do canal a cabo da Bloomberg não pára de anunciar, quase que diariamente: Banco Central coloca 4000 contratos de swap cambial
>>> Isso tudo para ficar rolando Fundo Cambial, etc…
Esta equipe econômica do Eduardo Campos é de assustar. Isto é verdade? De onde vêm esta informação?
essa equipe do Eduardo Campos da até calafrio..
Acho que os colegas aí em cima estão um pouco enganados…
Equipe econômica de Eduardo Campos: Pérsio Arida, Fábio Giambiaggi, Alexandre Rands etc… Podem apostar!
Acho que os colegas aí em cima estão um pouco enganados…
Equipe econômica de Eduardo Campos: Pérsio Arida, Fábio Giambiaggi, Alexandre Rands etc… Podem apostar!
Alex,
Parabéns por mais um ano de vida.
o teclado aceita tudo. De onde vêm essas informações sobre as possíveis equipes econômicas dos candidatos?
Alex você pouco fala da situação fiscal dos EUA,vi na reportagem que o CBO projeta para 2024 uma relacao divida pib de 79% do PIB,que e alta se comparado a crise,quando era de 35%.
"dívida deve cair para 74% do PIB no final do ano e a 72% do PIB até 2017, mas então subirá, atingindo 79% do PIB no final de 2024.
A agência destacou que a dívida relativa ao tamanho da economia estava "muito alta" para os padrões históricos. Recentemente, como no final de 2007, a dívida representava 35% do PIB antes de os déficits orçamentários inflarem em meio aos gastos do governo para responder à crise financeira de 2008 e à profunda recessão."
http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/02/04/interna_internacional,495019/economia-norte-americana-registrara-solido-crescimento-e-queda-do-deficit-diz-relatorio.shtml
pessoal… é lógico que essas informações são imaginárias… não há nada demais em se exercitar a imaginação.
Alex,
Existe algum método que pode ser utilizado para "uniformizr", para que se possa comparar dados que possuem bases diferentes?
Felipe:
Não consegui entender bem sua pergunta. Você quer saber se há como colocar séries na mesma base (ano xx = 100), ou algo mais relacionado à uniformidade de critérios?
Abs
"Parabéns por mais um ano de vida."
Valeu!
Abs
Acabei me expressando mal. Mas é isso mesmo, se há como comparar por exemplo a série de participação da indústria no PIB, já que a mesma passou por mudanças na metodologia das contas nacionais em 1980 e em 1990.
Se sim, é possível aplicar em dados iguais, mas que sofreram mudanças na metodologia ao longo do tempo?
Valeu!
Abs
"se há como comparar por exemplo a série de participação da indústria no PIB, já que a mesma passou por mudanças na metodologia das contas nacionais em 1980 e em 1990."
Foram até mais alterações. Estritamente falando, fica difícil e houve até um caso comentado aqui no blog a respeito (http://maovisivel.blogspot.com.br/2009/12/os-panetones-do-sr-oreiro.html)
Há formas de contornar o problema, mas, principalmente para séries mais longas, a chance de erro é crescente com o tamanho da série.