A encruzilhada. Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
A encruzilhada
Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Joesley Batista não foi um simples colaborador da Lava Jato, como outros delatores que se valeram das informações para diminuir sua pena. Não, ele agiu como um perfeito traidor. Lá de Nova York, usufruindo dos milhões de dólares que possui…
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 19 de maio/ 2017
Estamos numa situação difícil. Que devemos ao presidente Michel Temer. Como pode um presidente da República, um jurista conhecido como grande constitucionalista, receber em sua casa, à noite, um empresário cuja conversa ele deveria ter, de imediato, mandado calar e mais, avisado ao Ministério Público?
Nada desculpa o presidente. Mas nada, também, perdoa o empresário que, em minha opinião, teve um papel infame e que muito mal fará ao Brasil.
Joesley Batista não foi um simples colaborador da Lava Jato, como outros delatores que se valeram das informações para diminuir sua pena. Não, ele agiu como um perfeito traidor. Lá de Nova York, usufruindo dos milhões de dólares que possui, hospedado num bom hotel com sua jovem esposa, ele enviou aos brasileiros uma carta pedindo perdão, piegas, e se fazendo passar por vítima das circunstâncias. A mim me fez mal ouvir a leitura de suas palavras…
“Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice.” (Millôr Fernandes). Desculpe, senhor Michel Temer, mas não conheço outra palavra para rotular o que o senhor fez ao receber para um papinho o dono da JBS.
Dizia George Orwell que ninguém chega ao Poder com a intenção de largá-lo. Algum leitor poderá contrariar o grande escritor britânico lembrando que Jânio Quadros largou o poder espontaneamente. É verdade. Mas ele errou no salto e caiu no buraco…
Já Michel Temer não pretende errar ao saltar o abismo. Não tem vontade de largar o Planalto. Está muito afeiçoado ao Poder e rodeado por ministros que temem perder o foro privilegiado. Portanto, ele não pensa em renunciar; foi o que afirmou muito enfaticamente.
Infelizmente, há no caminho das soluções constitucionais uma enorme pedra, quase que irremovível: quem poderiam ser os candidatos? Você, leitor, sugere algum nome? Sinceramente, eu não vejo ninguém. Essa é a triste encruzilhada em que estamos.
Mas quer queira ou não, fica difícil agora, depois da gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista ter vindo a público, ele continuar Presidente da República.
Jornalistas de peso e analistas políticos afirmam que a melhor solução para o Brasil, neste momento tenebroso que atravessamos, é seguir fielmente a Constituição. E o que diz o ‘livrinho’ que devemos fazer no caso da saída do presidente em exercício? Simples: uma eleição indireta, pelo Congresso, quando qualquer brasileiro nato, com mais de 35 anos, poderá ser eleito para completar um mandato tampão até 2018.
Mas por esse Congresso? Será que algum brasileiro aceitaria essa solução? Não acredito.
Há outra solução que não fira a Constituição? Sim, há. Seria uma emenda constitucional (Proposta de Emenda à Constituição) apresentada pelo deputado Miro Teixeira (REDE/RJ) que prevê eleições diretas para a escolha de um próximo presidente que exerceria o poder por um mandato de quatro anos.
Infelizmente, há no caminho das soluções constitucionais uma enorme pedra, quase que irremovível: quem poderiam ser os candidatos? Você, leitor, sugere algum nome?
Sinceramente, eu não vejo ninguém. Essa é a triste encruzilhada em que estamos.
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* – Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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