Sinfonia em mimimi menor. Por Alexandre Schwartsman
Sinfonia em mimimi menor
Por Alexandre Schwartsman
…Resta claro que o problema para os insatisfeitos é o fim da considerável transferência de renda para aqueles que conseguiram se financiar junto ao BNDES.
Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo, coluna do autor, edição de 10 de maio de 2017
Quando estive no BC rapidamente me acostumei com as reações depois de cada decisão do Copom: se subíamos os juros, não deveríamos; se mantínhamos, deveríamos ter cortado; se cortávamos, não era o suficiente. Apesar disso sempre acreditei que, por mais iradas que fossem as declarações sobre a Selic, o que realmente tiraria aquele pessoal do sério seriam mudanças no crédito subsidiado do BNDES.
Não me enganei. Há, segundo relatos da imprensa, pressões para que a atual administração do BNDES, capitaneada por Maria Sílvia Bastos, seja substituída. Reclamam que o crédito estaria “travado”, dificultando a recuperação do investimento, enquanto concessionárias pedem mais recursos subsidiados. Isto ocorre, não por acaso, depois que foi divulgada a nova taxa de juros que balizará os empréstimos do banco (sem afetar, contudo, as operações já existentes) e que deve gradualmente eliminar os atuais subsídios.
Resta claro que o problema para os insatisfeitos é o fim da considerável transferência de renda para aqueles que conseguiram se financiar junto ao BNDES. Numa primeira aproximação, considerando o volume de empréstimos do banco (R$ 586 bilhões), bem como a diferença entre a taxa a que o banco empresta (a TJLP, 7% aa) e o custo destes empréstimos para o Tesouro Nacional (a Selic, 11,25% aa), o subsídio consome cerca de R$ 25 bilhões/ano.
Em outras palavras, o Bolsa-Empresário custa aproximadamente o mesmo que o Bolsa-Família e, como este, também implica considerável redistribuição de renda, apenas no sentido oposto: de todos os contribuintes para os “sortudos” que hoje têm acesso ao BNDES. Não é difícil entender sua revolta; complicado mesmo é simpatizar com ela.
…Não estão preocupados com qualquer recuperação que não seja a de suas regalias.
Haveria alguma justificativa para o subsídio caso os beneficiários – eleitos sabe-se lá por que critério – produzissem efeitos sobre o resto da economia que não fossem capturados pelos investidores, isto é, se o retorno social do investimento fosse superior ao retorno privado. Falando sério, porém, quem realmente acredita que haja perto de R$ 600 bilhões em oportunidades como esta? Aliás, quem acredita que o critério tenha sido realmente este, ou ainda que se aplique a setores “de ponta”, como frigoríficos e assemelhados?
Não bastasse isso, não há evidências sólidas acerca de efeitos positivos destes empréstimos sobre o investimento. Ao contrário, conforme relatado por meu colega de Insper, Sérgio Lazzarini: “ao estudar o efeito dos empréstimos e investimentos em equidade do BNDES, descobrimos que eles não têm efeito consistente sobre performance e investimento, exceto pela redução de gastos financeiros”.
Já outro colega de Insper, Marco Bonomo, não apenas reforça as conclusões de Lazzarini, como mostra também que empresas que têm acesso ao BNDES são menos afetadas pelas alterações das taxas de juros, sugerindo que o crédito subsidiado, como se suspeitava, reduz a eficácia da política monetária, isto é, requer uma Selic mais alta para compensar o efeito da TJLP mais baixa.
É precisamente por afrontar o status quo que a atual diretoria sofre as pressões nada surdas dos que temem perder os privilégios e, como na reforma da previdência, querem justificar a boquinha. Não estão preocupados com qualquer recuperação que não seja a de suas regalias.
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* ALEXANDRE SCHWARTSMAN – DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS
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(O Blog A MÃO VISÍVEL, de Alexandre Schwartsman, integra o Site Chumbo Gordo, no http://www.chumbogordo.com.br/categorias/a-mao-visivel/