Com corrupção ou sem corrupção. Por Meraldo Zisman
Com corrupção ou sem corrupção
Por Meraldo Zisman
Aceitar o voto brasileiro é semelhante a dizer que os cristãos não possuem laços históricos com Roma ou que os muçulmanos não os possuem com Meca e Medina.
A Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – aprovou, no dia 2/5/2017, que Jerusalém não pode ser a capital do Estado de Israel. Proposta apresentada pelos seguintes países: Argélia, Egito, Líbano, Marrocos, Omã, Qatar e Sudão. Essa aprovação não causa nenhuma espécie no cenário político Internacional dada a posição habitual, frequente e repetitiva da Organização das Nações Unidas contra o Estado de Israel.
O que surpreende a nós, brasileiros, é mesmo a mudança ocorrida no Brasil, olhe, leia, veja, a postura do nosso Ministério do Exterior – Itamaraty – agora, não mais comandada por vieses ou simpatias ideológicas.
A decisão do governo Michel Temer de aprovar essa resolução da UNESCO, apoiando que os judeus não possuem laços históricos com o Monte do Templo e o Muro das Lamentações, em Jerusalém, é que surpreendeu a muitos brasileiros.
Sejam esses, alguns mais ligados à Política Internacional, e que, apesar desta nossa situação de crise político-econômica interna atual, permanecem atentos para o que está acontecendo pelo Mundo e não entendem tal posição dúbia do Itamaraty.
A resolução é antissemítica, – é prudente lembrar que antissemitismo – agora antijudaísmo – metamorfoseou-se e se expressa nessas posturas antagônicas ao Estado de Israel.
Compará-lo ao nazifascismo, apartheid dos brancos contra os negros na África do Sul, é desejar que ele seja destruído como País, varrido do mapa mundial ou afogado no mar Mediterrâneo.
Mas, voltando ao voto brasileiro, ele é de tal maneira atabalhoado, que mostra até que ponto a demência racista e do ódio é capaz de chegar às instâncias internacionais em nossos dias.
Lamentações de nada irão adiantar, porém a capacidade de se indignar não deve ou não pode ter limites. Exerço meu direito de opinar, apesar de minha crença pessoal de continuar tentando acreditar que o Mundo mudou e não necessitar recorrer a argumentos transcendentes e tralalás.
Aceitar o voto brasileiro é semelhante a dizer que os cristãos não possuem laços históricos com Roma ou que os muçulmanos não os possuem com Meca e Medina. Esse consagro internacional brasileiro não representa os princípios de minha Nação e muito menos honra a memória de alguns membros do Itamaraty, que arriscaram sua carreira ao salvar tantas vidas do Holocausto.
Como?
Fornecendo vistos para refugiados de origem judaica para o Brasil, ousando e desobedecendo assim às ordens contrárias e desumanas do governo ditatorial de Getúlio Vargas.
Destaco, entre eles, o mineiro Guimarães Rosa, médico, diplomata, escritor, reconhecidamente salvador de tantos refugiados judeus, perseguido pelo nazifascismo, antes da Segunda Grande Guerra e durante ela. Infelizmente a humanidade, se mudou, mudou muito pouco desde o tempo do campo de concentração de Auschwitz (1940-1945).
Com corrupção ou sem corrupção, devemos ter cuidado com os populismos de qualquer das ideologias ditas ultrapassadas ou que possam vir a renascer, como o preconceito do antijudaísmo.
Cuidado! Eles, os preconceituosos, tomam as mais engenhosas formas, vestimentas e disfarces, jamais imagináveis, contra a Humanidade.
(IMAGEM ABERTURA: PALÁCIO ITAMARATY, BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL - FONTE FLICKR)
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha)