Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Por fora bela viola, por dentro pão bolorento
Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
… Sergio chega em casa com uma caixa linda e entrega à mulher que abre o presente, vê um anel que brilha tanto que ofusca sua visão. O que ela faz? Beija o marido e agradece o mimo? Com certeza, mas antes pergunta: “foi comprado com dinheiro lícito?”.
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 28 de abril/ 2017
O Rio continua lindo. Mais do que lindo, deslumbrante. No outono, é quando a beleza desta cidade assume um colorido mais nítido e suave, e deixa qualquer um estonteado.
Pena que por dentro esteja mais feio, mais medonho, mais cruel e violento do que nunca.
Ainda muito traumatizada com a morte da menina Maria Eduarda, no pátio da escola em Acari, a cidade viu morrer, nos últimos seis dias, Paulo Henrique, também com 13 anos; Gustavo; Bruno; Felipe, todos com menos de 20 anos, todos vítimas de tiroteios.
Não creio ser necessário detalhar aqui o sofrimento das famílias. A dor da perda de um filho é lancinante, rasga as entranhas de pais e avós.
E arrebenta com os menores: Pedro, de 10, irmão de Paulo Henrique, só pedia à mãe: “calma, mãe, calma, por favor, levanta”. Sentir o sofrimento de sua mãe estava sendo insuportável para ele.
Mas, e as autoridades, perguntamos todos? Onde estão? O que dizem? Que medidas tomam?
Bem, o governador Pezão não se omitiu. Falou à imprensa e pediu: “Eu preciso ter mais recursos. Eu tenho quatro mil policiais pra serem admitidos, mas, infelizmente hoje não posso admiti-los, não tem recursos”.
…Sou carioca apaixonada pelo Rio. Mas não quero que o governo federal envie mais dinheiro. Isso não ia resolver nada.
Não é curioso? Ele pede dinheiro ao governo federal para cobrir o buraco deixado pelo governo anterior ao seu, o do Sergio Cabral, que ontem teve a coragem de dizer ao juiz Sergio Moro que comprou, sim, alguns bens de luxo, com pagamento feito com dinheiro de Caixa 2 e com recursos próprios.
Já Adriana, sua mulher, confirmou que fez boas compras, tanto ela quanto o marido, mas que não sabia qual a origem do dinheiro. Sempre acreditou no marido que lhe dizia que o dinheiro era lícito.
Desculpem, mas a cena que passa em minha cabeça é imperdível:
Sergio chega em casa com uma caixa linda e entrega à mulher que abre o presente, vê um anel que brilha tanto que ofusca sua visão. O que ela faz? Beija o marido e agradece o mimo? Com certeza, mas antes pergunta: “foi comprado com dinheiro lícito?”.
Não é uma cena digna de um Coppola ou de um Scorcese?
Sou carioca apaixonada pelo Rio. Mas não quero que o governo federal envie mais dinheiro. Isso não ia resolver nada.
O que era bom, o que era ótimo, o que era excelente, era que o Governo Federal interviesse no Estado do Rio e que o ministro Raul Jungmann enviasse tropas federais para cá.
É disso que precisamos. E mais depressa do que nunca!
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* – Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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