O que é normal? Por Josué Machado
O QUE É NORMAL?
Por Josué Machado
A confusão entre as noções de normal e comum pode dar resultados curiosos.
A revista “Superinteressante” publicou texto sobre supostas verdades em circulação. Num dos tópicos:
“Orgânico é mais nutritivo”.
E comenta, respondendo:
“Não é, não. Foi o que concluíram cientistas da Universidade Stanford depois de analisar 240 estudos comparando o valor nutricional dos alimentos normais e das versões orgânicas, produzidas sem o uso de agrotóxicos e antibióticos.”
Pois sim, “alimentos normais” x “versões orgânicas”.
Por esse textículo, pode-se concluir que há em uso por aí alimentos normais e anormais.
Porque quando se fala em “normal”, vem logo à mente a noção de “anormal”.
O que é normal?
Normal é o que está dentro da norma, a regra; regular; que é usual, comum, natural; sem defeitos ou problemas físicos ou mentais; pessoa cujo comportamento é considerado aceitável e comum.
Anormal, o contrário, claro.
O Houaiss alinha “comum” entre os sinônimos de “normal”, quase sempre uma imprecisão que o Aurélio rejeita. Claro que “comum” não é bom sinônimo de normal. Não na maioria das vezes.
Outra revista publicou já faz tempo que depois de três meses de gravidez a mulher tinha deixado de usar roupas normais.
Seria a gravidez uma anormalidade?
Usos como esses evocam o problema da melhor escolha das palavras.
De volta aos alimentos orgânicos, seriam eles anormais?
A Ina (também conhecida como Selma), por exemplo, gosta de salada de rosas misturada com trevos-de-cheiro, copos-de-leite, cristas-de-galo, beijos-pintados, beldroega e mirtilo, temperada com sal-do-himalaia, suco de canela-de-velho e azeite de dendê.
Será essa uma comida normal?
E uma fritada de cipó de aroeira-salsa temperada com vidro moído?
Personalizando um pouco mais, seriam normais criaturas como o Renan? O Jucá? O Moreira? O Aócio? E o luizinácio?
Pouca dúvida haverá sobre a normalidade ou não de um ensopado de jararaca do sertão com temer e picadinho de renan com molho de jucá temperado por aócio nevado em pó cheiroso fininho, beeeeeem fininho.
Haverá quem goste.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade