Acoelhar-se? Nunca! Por Josué Machado

          ACOELHAR-SE? NUNCA!

Por Josué Machado

As ameaças aos políticos acusados de ter passado a mão em bens públicos provocou a reação de Temer.

O presidente Temer reuniu os ministros e políticos que o apoiam, pelo menos na aparência, para discutir as reformas que defende e os efeitos das denúncias dos diretores da Odebrecht sobre o ânimo de todos. E os exortou:

Não podemos nos acoelhar!”

Foi o que conclamou ele, revoluteando os dedos em compassos enérgicos.

Como se sabe, o coelho é um bicho extremamente tímido, medroso, sempre pronto a fugir.

Daí que ACOELHAR-SE, verbo pronominal, um regionalismo brasileiro, significa tornar-se ou mostrar-se amedrontado, tímido, dócil; acovardar-se, intimidar-se, como lembra o Houaiss.

Claro. Nada de se acoelhar. Só porque meteram a mão na bufunfa do povo haveriam de se intimidar, amedrontar-se por causa das denúncias e das possíveis consequências? Nada disso. Não haverá consequências, parece garantir Michel Miguel Elias Temer Lulia.

Para ele, certamente não, porque a criatura que ocupa o cargo de presidente está livre de processos por eventuais malfeitorias cometidas fora do mandato.

… Por isso a lentidão da justiça, e a falta de razão para acoelhar-se. Nada de se acoelhar por medo da justiça, com minúscula inicial mesmo. Talvez pelo lado do voto em 2018.

Na verdade, também não parece haver razão para temores de renans, jucás, collors, lobões, kassabs, moreiras francamente, padilhas, barbalhos, aócios, paulinhos … Com gente da oposição como luízes-inácios e paloffis ele não se preocupa nem um pouco, claro.

Basta considerar o tempo que o STF vai levar para julgar os casos de todos eles: de dois a vinte anos.

Todos sabemos que um tribunal como o STF foi idealizado para julgar questões constitucionais e não centenas de crimes cometidos por ladrões variados do bem público como está ocorrendo.

Por isso a lentidão da justiça, e a falta de razão para acoelhar-se. Nada de se acoelhar por medo da justiça, com minúscula inicial mesmo. Talvez pelo lado do voto em 2018.

Pensando bem, nem pelo lado eleitoral parece haver risco para tão ilustres figuras, porque deve vir aí o voto em lista em que os chefes das quadrilh, isto é, dos partidos, farão o possível para manter mais ou menos camuflados os nomes da bandidagem, eles próprios relacionados.

Por isso, não nos acoelhemos.

Não, mil vezes não.

Em sua exortação aos companheiros de batalha pela redenção do país, Temer poderia ter reforçado a injeção de ânimo com o verso final da introdução do Hino Nacional, cheia de força e agora apenas tocada.

O contraste de “acoelhar-se” com as estimulantes interjeições “eia” e “sus” por certo renovaria as forças daqueles senhores ameaçados de leve pela lei:

Eia sus, oh sus”. Isto é: Em frente! Avante!

Não ficaria mal.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

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