Sexta-feira da Paixão. Coluna Mário Marinho

Sexta-feira da Paixão

COLUNA MARIO MARINHO

Jerusalém é uma Cidade Santa.

É uma das mais antigas cidades do Mundo e é considerada sagrada pelas três principais religiões monoteístas: o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo.

Os judeus têm ali o sagrado Muro das Lamentações e proclamam Jerusalém como a capital de Israel.

Os islâmicos têm a cidade como terceiro local sagrado de sua religião, depois de Meca e Medina. Foi de lá que Maomé fez sua viagem noturna, ascendeu aos céus e falou com Deus.

Os cristãos tem ali o Calvário onde Cristo foi crucificado, a Via Dolorosa que ele percorreu, o Santo Sepulcro onde seu corpo foi enterrado e outros locais sagrados como o Monte das Oliveiras, por exemplo.

Foi em Jerusalém que nasceu o cristianismo.

Cristo, como se sabe, não nasceu lá, mas em Belém, porém a cidade é de suma importância na sua vida e em suas pregações.

Aos 12 anos de idade, ele teve seu primeiro evento em Jerusalém, quando se perdeu dos pais e foi encontrado, três dias depois, no templo, assentado entre os doutores, ouvindo seus ensinamentos e questionando-os.

Vinte anos depois, entrou triunfalmente na cidade sendo recebido pelo povo que jogava vestes para forrar o caminho por onde Ele passaria, além de palmas, folhas e flores, no evento que ficou consagrado como o Domingo de Ramos.

Cinco dias depois, ele percorria as ruas de Jerusalém em sofrimento, carregando uma cruz e ostentando uma cora de espinhos, rumo ao Gólgota, onde foi crucificado.

Dias antes da crucificação, Ele previu que sua amada cidade seria destruída, o que aconteceu 70 anos depois, quando foi dizimada pelos romanos.

Conheci Jerusalém em 1981. Foi a primeira visita, que se repetiu duas vezes mais, em 1985 e 1989.

Percorremos os 70 quilômetros que separam Tel Aviv de Jerusalém em pouco mais de uma hora. Nos últimos quilômetros, vencemos uma serra até chegar na Cidade Santa.

Dizem os judeus que ir até Jerusalém não é apenas subir uma montanha fisicamente, mas, sim, subir espiritualmente.

Fora das muralhas, Jerusalém é um cidade moderna com todas as vantagens desvantagens da modernidade.

Dentro das muralhas existe um outro mundo.

Estas muralhas foram construídas entre 1535 e 1538, quando Jerusalém fazia parte do Império Otomano, segundo ordem de Solimão I.

Percorri suas incríveis e tortuosas vielas perfumadas pelos cheiros dos mais variados condimentos, temperos, doces, com suas barracas e o comércio dispostos na organizada algazarra.

Nossa guia, uma brasileira residente há anos em Israel, deu-nos uma explicação básica e importantíssima para entender a cidade e a visita.

– Vocês, Cristãos, certamente estão esperando ver o Monte Calvário como já viram em muitos filmes. Algo lá em cima, onde foram fincadas as cruzes. Bem, Você precisam saber que essa cidade foi totalmente destruída no ano 70 Depois de Cristo e mais tarde reconstruída sobre suas ruínas. Então vocês não verão esse morro, nem sentirão que estão subindo para o Calvário. Somente espiritualmente vocês poderão sentir o caminho de Cristo.

Explicou também que os caminhos que percorreríamos na Via Dolorosa era o mais provável caminho que Cristo seguiu. Usem a imaginação, pediu ela. Entretanto, levou-nos a um lugar onde, com certeza, Cristo esteve.

Descemos alguns metros do nível da rua e chegamos a um sítio arqueológico que, segundo a nossa guia, é o local onde, comprovadamente, Jesus passou a noite preso esperando o julgamento da sexta-feira.

É um local que provoca muita emoção.

Saímos dali e voltamos à Via Dolorosa, enfrentando sol inclemente e temperatura acima dos 40 graus no verão de Jerusalém.

Nossa caminhada terminou na igreja do Santo Sepulcro.

Registra a história que na sequência da destruição de Jerusalém em 70 d.C., o imperador romano Adriano visitou a cidade em 129 – 130, ordenando a sua reconstrução segundo um modelo que visava fazer dela uma cidade. Neste sentido, o imperador ordenou que o local identificado com a sepultura de Jesus fosse coberto com terra e que nele fosse construído um templo dedicado a Vênus.

Em 313, o imperador Constantino decretou o Édito de Tolerância para com os cristãos (ou Édito de Milão), que implicou o fim das perseguições. Em 326, sua mãe Helena visitou Jerusalém com o objetivo de procurar os locais associados aos últimos dias de Jesus. Em Jerusalém, ela identificou o local da crucificação (o rochedo chamado Gólgota) e a tumba próxima conhecida como Anastasis (“ressurreição”, em grego). O imperador decidiu então construir um santuário apropriado no local, a Igreja do Santo Sepulcro, no lugar do templo de Adriano dedicado a Vênus, uma deusa pagã.

A Igreja do Santo Sepulcro é hoje administrada e repartida entre as igrejas Católica Romana, Ortodoxa,  Armênia, Ortodoxa Copta, Ortodoxa Siríaca e Ortodoxa Etíope. O lugar é considerado como um dos mais sagrados do mundo cristão.

Ao chegar lá, parei para admirar sua robusta arquitetura (foto ao alto). Foi quando os sinos do carrilhão da Igreja começaram a tocar. A princípio com suavidade. Mas o som foi aumentando como se procurasse ocupar todos os espaços.

Perguntei à minha guia:

– O que está acontecendo.

– São quantas horas?

– Três horas.

– Que dia é hoje?

– Sexta-feira.

– Isso não te diz nada?

Pensei, refleti, procurei qualquer ligação, mas não encontrei. Ela me disse:

– Jesus morreu às três horas da tarde de uma sexta-feira. Toda sexta-feira às três horas da tarde os sinos tocam.

Um arrepio de emoção percorreu meu corpo. Falei comigo mesmo:

– Será apenas uma coincidência que eu esteja aqui, neste lugar, neste dia, nesta hora?

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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