Saltitante. Por José Horta Manzano
Bolsonaro é um sujeito covarde. Valentão quando está cercado de seguranças ou quando se exprime através das lentes de uma câmera, o homem se pela de medo de ter de responder por seus atos…
Leio no jornal que nosso valoroso capitão, em sua laive de ontem, apostrofou um senador da República. Tratou-o como se mulher fosse – numa evidente ofensa homofóbica. Referindo-se à comissão que toca a CPI da Cloroquina, disse: “Agora, tem uma saltitante na comissão que queria me convocar. É brincadeira, né? Ô, saltitante, está de brincadeira. Não tem o que fazer não, saltitante?”.
A comissão é composta unicamente de senadores, à exclusão de toda senadora. Portanto, ficou claro que a afronta era dirigida a um homem, donde a conclusão que se tratava de insulto homofóbico. Até aí, todos foram.
Só que a imprensa foi mais longe. Chegou à conclusão de que o insultado era Randolfe Rodrigues, senador pelo Amapá. É possível que seja, mas, a meu ver, a imprensa errou. Errou ao dar uma mãozinha ao presidente. Explico.
Bolsonaro é um sujeito covarde. Valentão quando está cercado de seguranças ou quando se exprime através das lentes de uma câmera, o homem se pela de medo de ter de responder por seus atos. Aliás, todo esse inferno que os brasileiros estão tendo de aturar há dois anos decorre do pavor que ele tem de chegar ao fim do mandato, não ser reeleito, e ser um dia despertado pela chegada do japonês da Federal. (É por isso que sonha com manter o poder até o fim de seus dias.)
O capitão imagina que, ao não dar nome ao boi, estará a salvo de toda acusação de injúria. É por isso que eu digo que a imprensa erra ao dar-lhe uma ajudazinha. Em vez de facilitar a vida do ofensor rasteiro, deviam mais é contar o episódio do jeitinho que ocorreu: sem mencionar nome de ninguém.
Se assim tivessem procedido, teriam alcançado três objetivos: 1) teriam mantido fidelidade aos fatos; 2) o senador em questão não teria visto seu nome associado a uma ofensa de pinguço; 3) o presidente teria ficado falando sozinho.
Acredito que os jornalistas de bom senso deviam redobrar a atenção. É importante ter sempre em mente que estão reportando atos e fatos de um sujeito traiçoeiro. É indispensável refletir antes de facilitar os desvarios do capitão. Ele não passa de um ser covarde, um indivíduo que se oculta por detrás de escudos que ele julga intransponíveis.
Ele é o exemplo cuspido e escarrado do tradicional dito português: “Feito de vilão – atira a pedra e esconde a mão”.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Ele se comporta como idiota, fala como idiota, mas não me iludo: ele é um idiota.