ACENTUAR OU NÃO O QUÊ? POR QUÊ?

Josué Machado

Talvez seja tolice discutir questões de ortografia nestes tempos decaídos, a não ser como distração para esquecer o mundo político. Esquecer, mas não muito.

Quando é que o QUÊ é acentuado?, pergunta o engenheiro agrônomo  JPCS, confessando ter esquecido detalhes sobre o assunto.

Embora o papo não sirva de nada para sua horta de estimação nem para sua dieta vegana, pode-se resumir o tema.

Acentua-se esse monossílabo quando tônico(*), isto é, nas seguintes situações:

1. a) Quando substantivo com o sentido de “alguma coisa”, “que coisa”:

“O Caju de todos os governos tem um indefinível QUÊ de corrupto.”

“O Renan disse não sei QUÊ sobre o Moro e calou-se.”

“Trabalhar em QUÊ, se o trabalho acabou?”

1. b) Quando funciona como interjeição expressiva de espanto:

“QUÊ! Aqui no Congresso ninguém quer acabar com a Lava Jato, não senhor!”

“QUÊ”? Você acredita que eles vão reduzir as próprias vantagens?”

1. c) Em fim de frase:

“Com tais políticos, a Justiça serve para QUÊ?”

“Eles querem voto em lista fechada para QUÊ?”

“O Renan riu de QUÊ? Ah, é que vai ser julgado pelo STF já em 2043.”

1. d) Nas expressões “um não sei quê” e “sem quê nem pra quê:

“Percebi na cara do Beiçola um não sei QUÊ de deboche.”

“Sem QUÊ nem pra QUÊ, Maluf vangloriou-se de não ser investigado pela Lava Jato. Uma glória!”

1. e) Quando nomeia a letra Q:

“Depois do QUÊ sempre se usa U.”

“Use o QUÊ minúsculo em ‘quesito’.”

______

(*) Claro que a noção de tonicidade de uma palavra é mais teórica do que prática. Porque na linguagem oral é raro notar diferença entre o QUÊ acentuado e o não acentuado. Mas, quando tônico e, portanto, acentuado, ele em geral soa um pouco mais forte.

__________________________

Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade