“E este dólar, hein?”
Não há como escapar
desta pergunta. É natural: nas últimas semanas a moeda americana andou quase R$
0,40, um desempenho que não víamos desde o fim de 2008, ainda no olho do
furacão da crise internacional. Também é a primeira vez desde 2004 que o dólar
ultrapassa a marca de R$ 3,00, trazendo lembranças amargas de tempos de crise.
É bom que se diga,
porém, que, ao menos em parte, a força do dólar aqui dentro é o reflexo da sua pujança
lá fora. Há cerca de um ano era necessário US$ 1,40 para comprar 1 euro; agora
o euro já sai bem mais em conta para os norte-americanos, um pouco menos de US$
1,10.
Obviamente, quando o
dólar se fortalece contra todas as moedas, graças aos sinais cada vez mais
claros de recuperação dos EUA (cadê a crise, presidente?) e, portanto, da
proximidade da elevação da taxa de juros por lá, ele também ganha terreno na
comparação com o real.
Da mesma forma preços
de commodities têm caído (o petróleo,
por exemplo) e estão 15-20% mais baixos que os observados há um ano, fenômeno
que também contribuiu para enfraquecer o real, tendo em vista o peso das commodities na nossa pauta de
exportação.
Isto dito, embora seja
importante destacar os fenômenos internacionais no enfraquecimento do real face
ao dólar, a verdade é que estão longe de explicar todo o movimento observado no
período mais recente. A perda de valor da nossa moeda reflete também em larga
medida os problemas vividos pelo país, cuja aceleração tem sido notável.
Do lado fiscal o
governo conseguiu não apenas destruir o superávit primário, mas registrou o
maior déficit fiscal desde 1998, trazendo a dívida pública para mais de 63% do
PIB.
O resultado disto é que
nosso prêmio de risco – o tanto a mais de juros que pagamos relativamente a um
título norte-americano do mesmo prazo – dobrou, de 1,25% ao ano para 2,5% ao
ano. Caiu, portanto, o apetite por ativos brasileiros (e o “Petrolão” contribui
bastante para isto), o que ajudou a desvalorizar o real.
Além disto,  registramos déficit superior a 4% do PIB nas transações
com  o exterior, o maior desde 2001. Sim,
a queda dos preços das commodities desempenhou
papel importante no processo, mas é precisamente por isto que o enfraquecimento
do real, natural sob tais circunstâncias, teria servido para atenuar esta
piora.
No entanto, o BC vem
desde meados de 2013 intervindo com mão pesada no mercado de câmbio. Justifica-se
tal política como forma de “reduzir a volatilidade”, mas não há quem não saiba
que foi adotada com outro fim: segurar a inflação, visto que o BC sempre relutou
em usar a taxa de juros para isto, por convicção, ou submissão, tanto faz.
O resultado desta
aventura foi retardar a correção do valor da moeda, que já era requerida pelo
menos desde o final de 2013. A estranha combinação de baixíssimo crescimento em
2014 com o maior déficit externo em 13 anos sugere que o real esteve mais valorizado
do que deveria ao longo do ano passado, por conta e culpa da intervenção do BC.
Face, porém, às forças
globais e à deterioração local, ficar na frente do dólar é uma tolice. Não
apenas porque se tratam de processos a que naturalmente seria muito custoso
resistir, mas principalmente porque o encarecimento do dólar é parte da
solução; não do problema.
O problema, do ponto de
vista doméstico, está na fraqueza da economia, na incapacidade de recuperar as
contas públicas e na crise política que se abre na esteira do Petrolão. Sem que
isto seja solucionado, o dólar há de permanecer caro.

Lutar para segurar o
dólar nestas circunstâncias irá apenas adicionar às perdas bilionárias já
incorridas. Ao BC cabe deixar a moeda flutuar e tomar conta da inflação; à
Fazenda melhorar o desempenho fiscal.  Trata-se,
em outras palavras, de remontar o tripé macroeconômico, cujo desmonte foi
crucial para nos trazer à crise de hoje. Culpar os outros não vai ajudar.
(Publicado 11/Mar/2015) 

25 thoughts on “Os outros

  1. "ficar na frente do dólar é uma tolice"

    Perdão, só é tolice para o setor exportador, que patrocina os políticos do governo. Real forte é crucial para podermos reindustrializar o país, trazendo capital estrangeiro a custo baixo. Sem isso estamos fadados a exportar bananas.

  2. eh tanto mimimi que ate cansa…

    um ai em cima fala que o real deveria ser forte para importarmos capital… ora, quando o dólar barato, não fizemos isso por qual razão? aquela teria sido a hora de semear, e agora, a de colher. não da para fazer tudo ao mesmo tempo, querido.

    e o artigo citado ai acima… incrivel como dois meses de "austeridade" eh responsável por tudo que ha de mal com o pais. to surpreso que não tao pondo AIDS e cancer na conta de austeridade fiscal. falta um mínimo de sinceridade intelectual desses pseudo-economistas. política anti-cíclica so funciona se for anti-cíclica… parece obvio, mas quem acompanha o blog do alex percebeu que não foi isso que a administração da Dilma fez, pelo contrario… foi completamente pro-cíclica e completamente desleixada as vésperas da eleição. e se agora não podemos lutar contra o desemprego (que traria inflação baixa) com juros menores mas somos obrigados a subir os juros etc. so temos o abandono do tripe a culpar.

    e enquanto o pais for um coadjuvante na economia mundial (somos muito protecionistas no comercio exterior e o governo interfere muito na economia e no processo de gestão do capital financeiro) eh isso dai mesmo, vamos ficar a mercê dos ventos das commodities, do dólar, etc.

  3. Quem?
    Como assim, quem?
    Olha a conjugaçao do verbo: "levaste".
    Tu levaste.
    Excerto: "Para quem não sabe, quando anunciava previsões antes de ser demitido por um grande banco, o sr. Schwartsman fazia várias apostas equivocadas e justificava recomendações de juros mais altos do que a média do mercado. Seria a acusação de desonestidade um ato falho?"

  4. Isto dito, obviamente fazer previsões erradas não é sinal de desonestidade intelectual.

    Desonestidade intelectual (perdão por explicar, mas tem gente que só desenhando mesmo) é afirmar que era "crítico da política econômica", quando, na verdade, subscrevia uma visão mais que positiva (crescimento de 4% com inflação na meta) como este infeliz da Unicamp (e muitos outros como ele).

    E realmente, eu estava equivocado quando critiquei a política econômica:a inflação não aumentou, o crescimento não gorou, as contas fiscais não foram para o saco, nem o balanço de pagamentos no mesmo caminho. Na Dimensão Z, bem entendido…

    Engraçado: tem cara que precisa vir anunciar o que escreveu aqui…

  5. "O dólar esteve barato nos últimos anos? Acho que meu broker tá com defeito então."

    sim, em 2012 bateu em 1,65. Acho bom vc fechar a conta e nao operar mais? 1,60 eh metade do que esta agora. A memória eh curta.. lembra do IOF de 5% na entrada? Lembra da galera comprando apartamento em Miami? Lembra dos estudos de PPP, mesmo o bobo "big mac index" da epoca?

    ja passou a hora de importar… agora seria de com o capital instalado a preço de banana, produzir e exportar – mas por causa da ineficiência e mao visível do governo nos mercados de capitais brasileiro (SBPE, FGTS, direcionado, BNDES, etc.), a entrada do capital não veio em investimento para produção mas em crescimento de divida / PIB para subsidiar credito a juros reais zero e handouts (e em crescimento em importação de eletronicos, etc.)

    a unica coisa nova que passamos a exportar foi inflação ao subsidiar o consumo e segurar o dólar.
    vamos ver isso se normaliza agora.

  6. Desse debate, concluimos que precisamos de mais politica anti-ciclica quando na verdade a unica coisa que tivemos foi expancionismo intermitente de gastos (computador de unico botao ?!?!).

    Quando estavamos crescendo (efeito riqueza do boom de commodities) foi pro-ciclico e quando não estavamos crescendo (reverso) foi anti-ciclico.

    Entendi, o segrego e' expandir muito os gastos para ampliar ao infinito o mercado de massas… rumo aos 200 pc de divida/PIB !!!

    Ah esqueci, isso so' preocupa quem paga imposto e investe na divida publica, i.e. os coxinhas !

    Precisamos de mais gente que paga imposto gerindo o governo… isso e' obvio… para quem so' rouba dos outros nao ha' tempo ruim.

  7. "Lamentável sua reação com o Anônimo de 19 de março de 2015 20:20.
    Um doutor se comportando pior do que um adolescente de 15 anos de idade."

    Meu, o cara se comporta como um imbecil e você acha que merece ser tratado como mais que isso?

    Parece que raciocinar dói…

  8. Isso é verdade. Sua competência como economista é inegável, e mais ainda, certamente está entre os melhores do país. Peca apenas por se rebaixar nas discussões, desnecessariamente.

  9. O que me espanta é que ainda exista quermesseiro defendendo essas idéias estapafúrdias, mesmo que a experiência mostre que sempre dá merda…
    Bom, quando fiz especialização na Unicamp, ouvi de um professor que foi o Lula quem acabou com a inflação… Eu ouvi, ninguém me contou.
    Alucinados!

  10. Eu discordo – se o forum vai ser aberto i.e. se vao publicar as asneiras que falam por ai, as opcoes sao:

    1) ignorar. Deixar uma pergunta ou comentario besta o eleva a um status que nao merece ja que parece ter uma aura de verdade, incontestavel;
    2) responder de verdade. Tambem eleva o comentario/pergunta a um nivel que nao merece… ideias tolas nao sao dignas de ponderacoes;
    3) demonstrar o quanto esses comentarios e perguntas tolas, sao realmente tolas. tem gente que vem aqui de ma fe, entao recebem o que merecem.

  11. Quem entra neste blog e faz defesa de quermesseiros falando merda quer mais é levar esculacho… É o mesmo mecanismo psíquico do masoquista…

  12. esquerdopatas estão pouco se lixando pra crise

    isso não é problema deles.

    eles estão preocupados em organizar movimentos diversos de apoio popular, a tal da superestrutura da base marxista, na linguagem deles, pra ganhar votos. Disseminam ódio e dissensão social.

  13. Alex, esse Pedro Paulo está querendo é se promover as suas custas. Intelectualmente a expressão dele é tão insignificante quanto à do Pochmann, mas utiliza economistas bem treinados como você para se promover, criar um bafafá e tentar algum cargo no governo!

  14. Alexandre, tu és brilhante. Um raciocínio rápido , estás correto em suas análises e há bom senso em tudo o que dizes. Apenas sugiro que não sejas tão ácido ou raivoso perante as críticas. Todos nós sabemos que há pessoas que não conseguem entender, seja por incapacidade ou desonestidade, o óbvio . Mas se te nivelares na mesma forma de responder acabarás perdendo um pouco de tua credibilidade. Abraço .

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