Opinando Janot. Por Josué Machado
OPINANDO JANOT
Josué Machado
O Procurador Geral da República deu opinião um tanto inusitada, ainda que indireta, sobre o ministro Gilmar Mendes e um de seus juízos.
“Desinteria verbal”?
Foi assim mesmo – “desinteria verbal” –, com “e” depois do “d”, a primeira palavra da expressão com que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, brindou indiretamente o ministro do STF Gilmar Mendes, conhecido como Gilmar Bocarra ou Gilmar Beiçola pelos íntimos.
“Bocarra” porque dizem que fala demais sobre todos os assuntos dos poderes da República estremecida e pretende funcionar como uma espécie de juiz dos juízes.
E “Beiçola” porque exibe o pujante beiço inferior um tanto desabado, principalmente quando desgostoso, talvez por causa das críticas que recebe pelas tantas opiniões que emite sobre todas as coisas da vida republicana e adjacências.
Isso, bem entendido, na avaliação de seus muitos desafetos, que consideram estar o dr. Gilmar sempre avançando além do que lhe permitiriam ir as sandálias de ministro.
Exagero dessas pessoas, talvez.
A história começou quando o dr. Gilmar Bocarra afirmou que as delações incriminadoras deveriam ser anuladas se de fato vazadas por procuradores.
O dr. Janot se ofendeu de morte e contra-atacou com ira.
Agora, por exemplo, o dr. Gilmar Bocarra defende a notável tese de que Caixa Dois não é crime, abrindo caminho para a anistia ampla, geral e irrestrita dos políticos apanhados com a calça na mão, já que o assunto enveredou por esse caminho de odor suspeito.
Daí que se regozijam renans, jucás, paulinhos, moreiras, têmeres, ignácios, padilhas, geddeis, aócios, jáderes, kassabs, pallofis, luisesinácios, collors, lobões, cerras, malufs e semelhantes…
Mas o que importa aki é a primeira das palavras da expressão que o dr. Janot ofereceu ao dr. Mendes: a inexistente “desinteria”.
Ele quis dizer DISENTERIA verbal.
Há de ter sido a emoção, ou a distração, que o fez pronunciar claramente “desinteria”.
E disenteria verbal, como se sabe, significa diarreia verbal – expressão metafórica que remete a imagem das mais desagradáveis, aplicável apenas a alguém que definitivamente não se estima. Nem um só tiquinho.
Tudo bem que o dr. Janot não saiba como se escreve nem como se pronuncia “DISENTERIA”, porque essa não é palavra essencial para suas decisões de homem da lei.
Menos essencial ainda é para as fascinantes elucubrações de longo alcance do dr. Gilmar Beiçola.
Que continue opinando para colorir o mundo.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.