Para adultos apenas. Por Alexandre Schwartsman
Para adultos apenas
Por Alexandre Schwartsman
…Qualquer economista que deseje discutir a questão previdenciária não pode ignorar que a expectativa de vida ao nascer é irrelevante para o tema. O que interessa é a expectativa de vida quando se chega à idade de aposentadoria…
Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo, coluna do autor, edição de 22 de março de 2017
Os 18 leitores já sabem que tenho algumas obsessões, dentre elas profundo desprezo à desonestidade intelectual e quase asco a quem trata os dados de maneira desrespeitosa. Podem, então, imaginar como me sinto em meio ao debate sobre a reforma previdenciária agora no Congresso.
Há um vídeo particularmente desonesto narrado por Wagner Moura, mas isto não chega a me surpreender, dados os nítidos objetivos político-partidários de quem defendia, há não muito tempo, a reforma da previdência. Nada surpreendente, mas igualmente abominável, é ver economistas atacarem a reforma argumentando, como fez Laura Carvalho, que a expectativa de vida no Brasil é de 75 anos.
… É falso, portanto, que a proposta obrigue as pessoas a trabalharem até morrer, como se diz com alarmante frequência.
Qualquer economista que deseje discutir a questão previdenciária não pode ignorar que a expectativa de vida ao nascer é irrelevante para o tema. O que interessa é a expectativa de vida quando se chega à idade de aposentadoria. Para este fim convido o leitor a inspecionar o gráfico anexo, que mostra a evolução da expectativa de vida a cada faixa etária, para a população em geral e também separando entre homens e mulheres.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2013/defaulttab_xls.shtm
De fato, a expectativa de vida ao nascer se encontra ao redor de 75 anos, porque (infelizmente) a mortalidade infantil ainda é relativamente elevada e a violência cobra muitas vidas de homens jovens. Quem, porém, se aposenta por tempo de contribuição atinge esta condição em média aos 54,5 anos (homens 55,5 e mulheres 52,3), idade em que, como mostrado no gráfico, a expectativa de vida supera 80 anos (78,4 homens, 82,1 mulheres). Quem não comprova tempo de contribuição, os mais pobres, já se aposenta hoje aos 65 anos, com expectativa de vida de 83 anos.
É falso, portanto, que a proposta obrigue as pessoas a trabalharem até morrer, como se diz com alarmante frequência.
O tema é sério e requer um debate adulto, ao menos entre os que se acham qualificados para tanto. Comecemos respeitando os dados.
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* ALEXANDRE SCHWARTSMAN – DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS
@alexschwartsman
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(O Blog A MÃO VISÍVEL, de Alexandre Schwartsman, integra o Site Chumbo Gordo, no http://www.chumbogordo.com.br/categorias/a-mao-visivel/