A gulosa fauna engravatada. Por Josué Machado
A GULOSA FAUNA ENGRAVATADA
Por Josué Machado
Por que os sanguessugas fechariam as veias e artérias que sugam com tanta avidez, se não forçados pelos eleitores?
Alguns sábios analistas e cientistas políticos nacionais insistem na tese de que os eleitores são os culpados pela luminosa fauna aglomerada nos palácios executivos, legislativos e judiciários.
Convém lembrar que todos os espécimes por lá reunidos recebem ótimos salários recheados por muitos penduricalhos oficiais, fora do alcance da lei com seu foro privilegiado e fora o inconfessável e indevassável “por fora”.
Culpa dos eleitores?
Será?
É certo que pessoas com o mínimo de equilíbrio mental e informação não votaria em elementos como malufs, calheiros, lobões, collors, jucás, paulinhos, jaíres boçalnatos, moreiras, têmeres, padilhas, geddeis, aócios, jáderes, kassabs, pallofis, luisesinácios, dirceus, cerras, e semelhantes.
Mas quem foi que disse que a maioria dos eleitores é bem-informada e equilibrada?
A pergunta talvez possa significar concordância com a tese dos analistas conformados. Não necessariamente.
Pois quem é que prepara as listas com os nomes dos candidatos aos cargos eletivos ou de confiança?
?Não são os donos das quadrilh, isto é, dos partidos e os chefes dos bandos os responsáveis pelas relações?
?Por que tais seres inscreveriam nas listas nomes de gente sábia e honesta, tão diferente deles? ?E que gente sábia e honesta quereria se misturar com eles?
Não é preciso ser muito esperto para perceber que as corporações têm de se garantir.
É como esperar que os renitentes vendilhões da pátria e do povo se empenhem numa reforma política que lhes restrinja os atuais privilégios.
?Onde é que ficaria o in$tinto de $obrevivência?
Nem é preciso ser sábio para perceber que jamais – jamais – limitarão seus gordos ganhos, ou eliminarão privilégios/vantagens como o foro privilegiado, ou limitarão os mandatos a dois consecutivos no máximo, por exemplo.
E jamais tentarão impedir que indivíduos na mira da Justiça – como grande parte deles — sejam impedidos de se eleger.
O eleitor do voto obrigatório vê nas listas e nos programas de rádio e TV obrigatórios, pagos pelo povo, aqueles nomes de que já ouviu falar e os marca no impulso, inconscientemente, com a falta de fé costumeira. Uma obrigação, apenas.
Sem drama nem moralismo, sabemos todos que política por aki é carreira, é status que se sedimenta com o tempo, assim como a habilidade de “trabalhar” por gordos favore$.
?Por que essas criaturas seguiriam o exemplo de políticos como os de Noruega, Dinamarca, Suécia, Islândia, Finlândia, Suíça e adjacências, que servem à população e não se servem da população, como aki?
É esperar demais desse rico zoológico engravatado.
Há quem defenda soluções radicais, mas, nos limites democráticos, parece que só uma Assembleia Constituinte — à parte da fauna lá instalada — poderia fazer uma verdadeira reforma política capaz de extirpar privilégios das hienas sugadoras. Difícil.
A fauna sanguessuga não quer, mas o povo pode querer. E, se quiser com empenho,…
Então, onde é que cabe a culpa toda do eleitor?
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.