Moros
Não deixa de ser
irônico que, apesar do enredo algo novelesco, a crise grega tenha adquirido
ares de tragédia, principalmente pela sensação de inevitabilidade quanto a seu
desfecho.
irônico que, apesar do enredo algo novelesco, a crise grega tenha adquirido
ares de tragédia, principalmente pela sensação de inevitabilidade quanto a seu
desfecho.
Assim como Édipo, que, ao
fugir da maldição que assolou a dinastia dos
Labdácidas,
precipitou os acontecimentos que buscava evitar, as ações dos últimos anos
acabaram conduzindo à atual situação, com o país virtualmente expulso da moeda
única e condenado a uma recessão ainda mais severa.
fugir da maldição que assolou a dinastia dos
Labdácidas,
precipitou os acontecimentos que buscava evitar, as ações dos últimos anos
acabaram conduzindo à atual situação, com o país virtualmente expulso da moeda
única e condenado a uma recessão ainda mais severa.
A “maldição” original é
clara. Hoje sabemos que a Grécia não tinha condições de se juntar à Zona do
Euro (ZE). Suas finanças estavam em condições muito piores do que sugeriam os números
apresentados à época, mais um caso de “contabilidade criativa” de dar inveja a
outros governos que conhecemos.
clara. Hoje sabemos que a Grécia não tinha condições de se juntar à Zona do
Euro (ZE). Suas finanças estavam em condições muito piores do que sugeriam os números
apresentados à época, mais um caso de “contabilidade criativa” de dar inveja a
outros governos que conhecemos.
As instituições gregas
também eram muito mais frágeis do que as da maioria dos seus parceiros da ZE, o
estado presa de toda sorte de interesses particulares, do “capitalismo de
compadres” ao clientelismo mais aberto.
também eram muito mais frágeis do que as da maioria dos seus parceiros da ZE, o
estado presa de toda sorte de interesses particulares, do “capitalismo de
compadres” ao clientelismo mais aberto.
Sob estas
circunstâncias, a adoção da moeda única era um acidente esperando para acontecer.
E ocorreu.
circunstâncias, a adoção da moeda única era um acidente esperando para acontecer.
E ocorreu.
A crise financeira de
2008 provocou o refluxo dos capitais da periferia para o centro da ZE, expondo toda
a fragilidade grega: a baixa competitividade e a necessidade de financiar um
buraco fiscal que já superava 6% do PIB nos anos que antecederam a crise.
2008 provocou o refluxo dos capitais da periferia para o centro da ZE, expondo toda
a fragilidade grega: a baixa competitividade e a necessidade de financiar um
buraco fiscal que já superava 6% do PIB nos anos que antecederam a crise.
Sem condições de
desvalorizar a moeda em resposta à mudança no cenário internacional, a Grécia tentou
restaurar a competitividade por meio da queda de preços e salários: a inflação,
que oscilava de 2 a 4% ao ano antes da crise, desacelerou fortemente em seguida
a ela, entrando em terreno negativo a partir de 2013. Isto agravou o quadro
recessivo, e, por tabela, as contas públicas, cujo déficit superou 10% do PIB
entre 2008 e 2011. Já o desemprego atingiu 25%.
desvalorizar a moeda em resposta à mudança no cenário internacional, a Grécia tentou
restaurar a competitividade por meio da queda de preços e salários: a inflação,
que oscilava de 2 a 4% ao ano antes da crise, desacelerou fortemente em seguida
a ela, entrando em terreno negativo a partir de 2013. Isto agravou o quadro
recessivo, e, por tabela, as contas públicas, cujo déficit superou 10% do PIB
entre 2008 e 2011. Já o desemprego atingiu 25%.
Posto de outra forma, a
rigidez cambial, casada com o forte desequilíbrio fiscal inicial, implicou uma
dinâmica particularmente perversa para a atividade econômica e, por
conseguinte, para a estabilidade política do país.
rigidez cambial, casada com o forte desequilíbrio fiscal inicial, implicou uma
dinâmica particularmente perversa para a atividade econômica e, por
conseguinte, para a estabilidade política do país.
Neste sentido, a tomada
do poder pela esquerda, o Syriza, não pode ser vista como um acidente, mas como
consequência inevitável (Destino, ou Moros) do processo acima
descrito.
do poder pela esquerda, o Syriza, não pode ser vista como um acidente, mas como
consequência inevitável (Destino, ou Moros) do processo acima
descrito.
Já a postura infantil
do Syriza talvez pudesse ser evitada. Ao chegar ao poder, havia simpatia em
alguns círculos por uma abordagem distinta, mas o primeiro ministro grego e seu
ministro das Finanças perderam tempo demais hostilizando os credores, bem como
revertendo medidas que poderiam auxiliar no retorno da competitividade (por
exemplo, a elevação do salário mínimo).
do Syriza talvez pudesse ser evitada. Ao chegar ao poder, havia simpatia em
alguns círculos por uma abordagem distinta, mas o primeiro ministro grego e seu
ministro das Finanças perderam tempo demais hostilizando os credores, bem como
revertendo medidas que poderiam auxiliar no retorno da competitividade (por
exemplo, a elevação do salário mínimo).
Pareciam acreditar que
o restante da ZE teria que se curvar à postura grega pelo medo de ruptura,
desconsiderando que talvez a maior preocupação dos demais países pudesse ser o
exemplo negativo da leniência com respeito à Grécia, em particular o estímulo a
outros partidos semelhantes ao Syriza.
o restante da ZE teria que se curvar à postura grega pelo medo de ruptura,
desconsiderando que talvez a maior preocupação dos demais países pudesse ser o
exemplo negativo da leniência com respeito à Grécia, em particular o estímulo a
outros partidos semelhantes ao Syriza.
Presos às suas
convicções, ambos os lados marcharam cegamente para a funesta conclusão: a
Grécia se encontra às portas da saída do euro, seus bancos na lona e sua
economia prestes a derreter. Já o euro perde sua aura de inviolabilidade, gerando
a possibilidade de novas crises à frente, em particular nos elos mais frágeis
da ZE.
convicções, ambos os lados marcharam cegamente para a funesta conclusão: a
Grécia se encontra às portas da saída do euro, seus bancos na lona e sua
economia prestes a derreter. Já o euro perde sua aura de inviolabilidade, gerando
a possibilidade de novas crises à frente, em particular nos elos mais frágeis
da ZE.
Os deuses cegam primeiro
aqueles que querem punir.
aqueles que querem punir.
(Publicado 1/Jul/2015)
Alex, o que vc preve para a Grécia agora?
Voltar ao Dracma? Desvalorizá-lo para reduzir a divida? Em quantos anos voltam a viver bem?
Alex, como admirador do Krugman, o que tu acha da posicao dele e da turma da esquerda (stiglitz, piketty) com esse caso? Tu concorda que o fim da austeridade grega é o melhor caminho? O Krugman nao ta heterodoxando demais?
Tenho 22 anos. Quando eu era pequeno minha avó, já falecida, toda vez que via uma notícia de desastre na TV, dizia: é o fim do mundo!
Já eu acho q é mesmo o fim do Brasil. Vejam o que está acontecendo com o minério de ferro:
http://assets.bwbx.io/images/ivNCKy5dKXbk/v1/-1x-1.png
Não bastasse todas as tragédias que tem se abatido sobre o país, com resultados atrás de resultados ruins e abaixo das expectativas do Mercado, agora a China apresenta sinais de que pode entrar em crise, com o preço do minério de ferro despencando. Falta algo mais? Sim. Falta só o FED elevar os juros. Se isso acontecer, será o fim dos tempos, ao menos no Brasil. Aquela tempestade perfeita de que falavam já está acontecendo e pode se aprofundar mais ainda. Diversos furacões, vindo de direções diferentes, pairam sobre o Brasil.
A inflação não cede, o superávit primário não dá sinais de recuperação, o pib anda ladeira abaixo, a grécia está a beira do default, o preço das commodities começam a cair com crise na china, e há alguma chance de o FED elevar os juros daqui algum tempo, além de todos os outros problemas internos. Depois disso tudo só falta o povo realmente se revoltar com todo o sistema político no Brasil, não que não tenha boas razões para isso, mas conjunturalmente seria mais um fator de instabilidade e incerteza.
Qual será, agora, a porcentagem de realmente ocorrer "o fim do Brasil"?
Alex, o que acha da tese que o problema grego é mais de competitividade e estagnação das exportações do que de dívida mesmo?
Um texto sobre o assunto.
http://mundorama.net/2015/07/08/a-crise-grega-e-a-retorica-do-plebiscito-por-rafael-henrique-dias-manzi/
"Os deuses cegam primeiro aqueles que querem punir." o/
O menino lê (e entende!) Sófocles, Homero… Dizer o quê?
Aliás, a Ilíada está repleta de casos de “atér”, que é a cegueira moral que primeiro induz ao estado de desvario, depois, à ação desvairada e por fim, à ruína.
Felicidades, Alex! Que todo o Olimpo o abençoe meu amigo.
lu.
A geopolítica vai prevalecer : os EUA ,via FMI, não vão deixar o Grécia escapar.
Prezado anônimo de 22 anos – ah! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais… – o fim do mundo deu partida no conhecido episódio da expulsão do paraíso. De lá para cá, repetiu-se compulsivamente (Freud / Lacan)… Portanto, relaxe! Acreditar que a crise é privilégio tupiniquim é puro bairrismo! A crise é mundial, universal, atemporal… Parimos e somos paridos em meio a crises – um mundo ordeiro e ordenado não nos serviria, somos filhos do caos e a toda ação caótica correponde uma reação igualmente caótica. Você é jovem, idealista, dominado pela miragem do progresso, da verdades, do bem! Um dia, descobrirá – bem, não vou desiludi-lo… Cada um tem o tempo e lugar certos para beijar a fera.
Como acontece desde a segunda guerra os EUA têm que entrar em cena sempre que o estatismo europeu se descontrola. A Grécia não pode escapar , está muito próxima da anarquia mulçumana e putinesca.
Alex, uma pergunta.
Sabe por que telefonia celular faz parte do grupo serviços, e não do administrados, no IPCA?
Apenas telefonia fixa e telefonia pública são administrados.
Bjs
Julia
Alex, uma pergunta.
Sabe por que telefonia celular faz parte do grupo serviços, e não do administrados, no IPCA?
Apenas telefonia fixa e telefonia pública são administrados.
Bjs
Julia
O rant do Krugman tá sensacional. No post "Killing the European Project" ele chega a cogitar a possibilidade da Alemanha tentar bloquear, deliberadamente, a recuperação grega! Que piada…
Prezado Alex,
A dívida grega é trocado perto do efeito moral que se quer produzir.
Morei na europa, eles gostam disto de dar o exemplo, do castigo, de educar deixando que a pessoa se estrepe por si e só ajudar depois que a pessoa está em total contrição.
Nunca acreditei na saída da Grécia, a sua manutenção é não só uma generosidade das grandes potencias, mas um sinal para que outros menores (os da ex-URSS) possam sonhar em aderir à órbita da UE, se libertar da tirania Russa e ao mesmo tempo uma lição para que outros países-problema aprendam o que acontece se saírem da linha.
Po Alex, responde ai a galera…
"Sabe por que telefonia celular faz parte do grupo serviços, e não do administrados, no IPCA?"
Creio que o motivo é a concorrência no serviço celular