06-03-1968 – A quebra do Tabu. Coluna Mário Marinho

06-03-1968 – A quebra do Tabu

COLUNA MÁRIO MARINHO

CORINTHIANS

Foi a primeira vez que assisti, ao vivo, um Corinthians e Santos.

Havia chegado de Belo Horizonte para o Jornal da Tarde há pouco mais de um mês.

Sabia sobre o Tabu, mas não imaginava o que era e havia sido o sofrimento dos corintianos, aquele expectativa louca de acabar com 11 anos de sofrimento.

O Tabu começou no dia 29 de dezembro de 1956, quando o Santos venceu por 2 a 1, jogo pelo Campeonato Paulista. Daí até aquela noite do começo de 6 de março de 1968, foram 22 jogos sem os corintianos conhecerem o sabor da vitória.

Em algumas ocasiões, a vitória sorriu até os minutos finais quando aparecia o gol do Santos, quase sempre marcado por Pelé. Pelé que ao longo da carreira marcou nada mais nada menos que 50 gols contra os sofredores.

A certeza de vitória do Santos era tamanha, eu soube depois, que nos dias de jogos contra o Timão, aparecia uma frase no quadro negro do vestiário do Santo: “Hoje é dia de bicho”.

Para a cobertura daquele clássico, naquela noite de quarta-feira, o Jornal da Tarde escalou uma grande equipe. Se o Corinthians vencesse, a cobertura teria quatro páginas; caso contrário, continuando o Tabu, a cobertura teria duas páginas.

Murilo Felisberto era o redator chefe mas participou efetivamente da pauta daquele jogo.

Lembro-me de duas sugestões importantes dele.

A primeira foi para mim. Eu deveria procurar uma empresa qualquer e combinar com um grupo de corintianos e assistir ao jogo com eles.

Efetivamente fui a uma empresa que ficava ali pelas imediações do bairro da Água Funda e combinei com um grupo de quatro pessoas.

Lembro-me que dois eram mineiros e irmãos.

Como combinado, cheguei à empresa às 16 horas naquela quarta-feira, acompanhado de fotógrafo, e tive a triste notícia: os irmãos mineiros foram chamados à sua cidade, Pouso Alegre (200 quilômetros de São Paulo), porque o pai deles estava nas últimas (felizmente, escapou embora tenha furado a minha pauta); os outros dois acharam que aquilo era um aviso e resolveram cancelar a ida ao Pacaembu.

Assim, assisti ao jogo como um reserva que entraria em campo se necessário. Não foi, mas, pós o jogo eu estava na redação ajudando no fechamento.

A outra pauta do Murilinho foi escalar Dante Matiussi, que na época era um dos redatores da ótima equipe do JT, para descobrir e escrever o momento exato em que o Tabu foi definido.

O que acabou não acontecendo, pois até o final havia certa tensão no ar e os corintianos, já escaldados por experiências passadas, não ousavam comemorar.

Assim, Dante também reforçou a equipe de fechamento.

O Corinthians era dirigido por Luiz Alonso Perez, o Lula,  que havia dirigido o Santos de 1954 a 1966. O técnico do Santos era Antônio Fernandes, o Antoninho, ex-jogador e auxiliar-técnico na era Lula.

A obsessão de vencer o Santos e colocar um fim no Tabu era tamanha que o Corinthians havia contratado Paulo Borges, ponta direita e estrela do Bangu (campeão carioca em 1966) e pouco depois contratou o também ponta direita Buião, então uma das estrelas do Atlético Mineiro.

O que levou o técnico Lula a deslocar o rápido Paulo Borges para a meia direita.

O Pacaembu estava lotado e registrou renda recorde de mais de 150 mil cruzeiros novos (o público não foi divulgado). A torcida era majoritariamente corintiana.

O Corinthians começou melhor, o que não era novidade, já que em quase todos os jogos passados, o Timão se lançava furiosamente ao ataque.

O primeiro tempo terminou empatado sem gols.

Logo aos 13 minutos do segundo tempo, Paulo Borges acerta terrível e poderosa pancada da entrada da área e faz Corinthians 1 a 0.

Aos 31 minutos, foi a vez de gaúcho Flávio marcar 2 a 0.

Foi um jogo bonito, bem disputado e com muita emoção. O Corinthians acertou uma bola na trave; o Santos mandou duas.

O apito final marcou o início de imensa comemoração, dentro e fora do gramado. A festa se espalhou pela cidade, tomou conta da noite.

Comemoração maior eu só assisti em São Paulo em 1970, na conquista do tricampeonato pela Seleção Brasileira, no México, e sete anos depois, em 1977, quando o Corinthians quebrou outro Tabu: quase 23 anos sem um título de campeão.

FICHA TÉCNICA

Local: Estádio do Pacaembu – São Paulo (SP)
Data: 06/03/1968
Árbitro: Roberto Goycochea (Argentina)
Público: Não disponível
Renda: NCr$ 153.390,50
Gols: Paulo Borges (13 – 2º) e Flávio (31 – 2º)

CORINTHIANS: Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luís Carlos (Clóvis) e Maciel; Édson Cegonha e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo. Téc.: Lula

SANTOS: Cláudio, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Joel (Oberdã) e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho, Pelé e Edu. Téc.: Antoninho.

Veja as imagens do Canal 100.

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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