Ô abre alas que eu quero passar! Coluna Mário Marinho. Edição extraordinária e musical
Ô abre alas que eu quero passar!
COLUNA MÁRIO MARINHO
Gosto muito de carnaval.
Não posso dizer que sou um aficcionado, um apaixonado pela festança do “tríduo momesco” como diriam os locutores de antigamente.
Já participei, já sambei, já pulei e até já desfilei.
Não quero dar uma de saudosista, mas tenho saudades dos carnavais daquele tempo.
Acho que o meu primeiro carnaval foi em 1949, quando tinha cinco anos, e me lembro do desfile dos carros alegóricos na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte.
Duas marchinhas daquele ano marcaram época. Veja:
Serpentina – Nelson Gonçalves
Chiquita Bacana – Emilinha Borba 1949
https://youtu.be/yZzIXDgj4Mc
Segundo os estudiosos do carnaval, a primeira marcha carnavalesca gravada foi “Abre Alas”, da fértil compositora Chiquinha Gonzaga. Conta a história que Chiquinha Gonzaga era vizinha do bloco Rosas de Ouro, no bairro do Andaraí, no Rio de Janeiro e a pedido dos carnavalescos compôs, em 1899, a marchinha “Abre Alas”. De letra curta e fácil memorização, a música é sucesso até hoje nos bailes carnavalescos.
Ouça:
No carnaval de 1950, um dos grandes sucessos foi “General da Banda”. A marcha foi gravada no final de 1949 por um certo Otávio Henrique de Oliveira. Por sugestão do Capitão Furtado, da rádio Difusora do Rio de Janeiro, ele adotou o apelido de Black-out (preto por fora) que abrasileirado virou Blecaute. O sucesso da música foi tamanho, que Blecaute passou a se apresentar fantasiado de general.
Ouça a música em gravação original:
Blecaute voltaria com outro grande sucesso no carnaval de 1952, com a marcha “Maria Candelária” que satirizava os funcionários públicos.
Outro grande sucesso de 1953 foi “Cachaça”, de Mirabeau em parceria de Lúcio de Castro, Heber Lobato e Marinósio Filho, lançada por Carmen Costa e Colé em 1953 lançado pelo selo Copacabana.
Veja:
O álcool continuou fazendo sucesso e em 1956 Mirabeau, M de Oliveira e Urgel de Castro lançaram “Turma do Funil”.
Em 1958 o Brasil foi varrido por um terrível boato: a carne de boi comercializada no País continha excesso de hormônio feminino. O consumo dela levava os homens a falar fino, rebolar e… se tornavam homossexuais.
Foi um Deus nos acuda.
Os donos de açougue colocavam placas em seus estabelecimentos: “Só trabalhamos com carne de vaca.”
Por mais que fosse combatido, até mesmo por autoridades governamentais, mais o boato ganhava força.
No carnaval do ano seguinte, 1959, com o boato já se esvaindo, a marchinha de grande sucesso no carnaval foi: Boi da cara preta.
Ouça com Jackson do Pandeiro, um de seus autores.
Neste mesmo ano, o jovem Moacir Franco fez tremendo sucesso com “Me dá um dinheiro aí”.
Veja:
Em agosto de 1958, o secretário de Estado Norte-americano John Foster Dulles visitou o Brasil e foi recebido pelo presidente Juscelino Kubistchek. Naquela época, era permitido que os fotógrafos fizessem seus registros nos momentos iniciais do encontro.
O fotógrafo do Jornal do Brasil, Antônio Andrade, fotografou o presidente JK em frente ao norte-americano cm as mãos espalmadas, enquanto o gringo parece mexer numa carteira de dinheiro.
A foto, que foi sucesso mundial, levou o título “Me dá um dinheiro aí”.
Esse era o bordão que o então jovem humorista Moacir Franco usava no programa “Praça da Alegria”, bordão de muito sucesso.
Dizem que a foto fez tamanho sucesso e despertou tanto ódio no presidente JK que custou ao Jornal do Brasil a concessão de um canal de televisão.
No ano seguinte, seguinte o carioca Homero Ferreira compôs a marcha “Me dá um dinheiro aí”, inspirando pelo sucesso do bordão de Moacir Franco na TV Rio. E, relembrando a foto que JK tanto odiou.
Veja gravação da época:
Bem, encerrando esse passeio musical, fico com música de João Roberto Kelly de muito sucesso no carnaval de 1960 e que hoje seria considerada politicamente incorreta e talvez acusada de homofóbica: “Cabeleira do Zezé”.
Eu fico por aqui.
Mas, se Você quiser continuar o carnaval, aí vai um link com uma hora de gravação de músicas de carnavais inesquecíveis.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Eita, amigo Marinho,
você me fez brincar um Carnaval!
De quase seis décadas faz.
“General da banda”, “Maria Candelária”, “Chiquita bacana”, tantas marchinhas de então, aquilo tudo me fez retroagir aos meus nove, dez anos, um tempo em que morei no Rio…
Foi ótimo, amigão.
Abraço.
Toinho