Neo-significados

Por Silvia Zaclis

… Pode-se inferir, em circunstâncias semelhantes, o tanto que as respectivas famílias estariam esperando ao batizar seus bebês como Demóstenes, Delcídios, Delúbios.

Que me perdoem os cultores do Latim, do Grego e de outras línguas clássicas: hoje em dia, os idiomas cultos não estão dando conta de explicar o significado das palavras. Nem sempre basta procurar na Antiguidade as raízes dos nomes para compreender o conceito que eles exprimem. Não sei se esse é um fenômeno que se repete em outras paragens, mas por aqui chegou a hora de flexibilizar os métodos.
… Analisemos, para começar pelo mais à mão, o substantivo próprio “Delcídio”. O sufixo já diz tudo, serve para indicar assassinatos e seus derivados. Pois, enquanto “deicídio” implica o assassínio de uma divindade, “suicídio” é uma espécie de auto assassinato. Mas tem sempre morte nessa história.
Para que as coisas comecem a fazer algum sentido, é preciso atualizar os instrumentos usados para decifrar o cerne dos vocábulos, realizando assim o que seria uma reengenharia etimológica a serviço da compreensão do homem comum (eu, por exemplo). Nota: quando eu falo em “homem”, estou me referindo ao gênero humano, e não somente aos indivíduos do sexo masculino (nesses tempos de vilipêndio à língua- pátria, é preciso tomar alguns cuidados).
Analisemos, para começar pelo mais à mão, o substantivo próprio “Delcídio”. O sufixo já diz tudo, serve para indicar assassinatos e seus derivados. Pois, enquanto “deicídio” implica o assassínio de uma divindade, “suicídio” é uma espécie de auto assassinato. Mas tem sempre morte nessa história.
No mesmo contexto, seria interessante verificar se o prefixo “Del” daria significação complementar ao “cídio”.
Uma rápida consulta à Wikipedia (seguindo o exemplo do filho do Lula) revelou que Delcídio, ou Dulcídio, quer dizer “cheio de doçura”. Bem que eu avisei que o Latim já não estava atendendo às necessidades contemporâneas.
E imagine como seria assustador se o “Del” tivesse o sentido de “deletar”! Delcídio seria um autêntico pleonasmo mortal.
Mas, só para me certificar, pensei em fazer um teste, aplicando o mesmo conceito a substantivos semelhantes. Delúbio, por exemplo.
Nesse caso, nem fui procurar na internet, dá muito trabalho. Se quiserem me pagar os dois milhões e meio, muito que bem; se não … sei lá, vou contar pro meu pai.
Voltando ao Delúbio. Nessa temporada de lavatudo, o nome me parece, sim, uma corruptela de “dilúvio”. Só precisa saber quantos vão se afogar com ele.
Li em algum lugar que certos bebês recebem nomes retumbantes, em geral de gosto duvidoso, porque seus pais imaginam que, assim, estariam lhes garantindo um futuro promissor – meu filho com certeza será um grande homem, ou minha filha será uma grande mulher.
Os Uélintons e as Daianes que o digam.
Pode-se inferir, em circunstâncias semelhantes, o tanto que as respectivas famílias estariam esperando ao batizar seus bebês como Demóstenes, Delcídios, Delúbios.
Esperança que pode se revelar vã. Nos casos em tela, os nomes só fizeram dar à derrocada um quê de folclore.
  • SILVIA ZACLIS – é jornalista

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