A perda de hoje e os ganhos de sempre

O advogado Ichie Schwartsman, marido de minha única irmã, pai de quatro de meus sobrinhos, avô de cinco de meus sobrinhos-netos, adormeceu ontem e não acordou hoje. Morreu em paz. Será sepultado amanhã, domingo, ao meio-dia, no Cemitério Israelita do Butantã.

Perdi meu cunhado, perdi meu amigo, perdi um companheiro de muitos, muitos anos de vida. Foram muitas perdas, perdas doloridas, ao mesmo tempo.

Mas não foram só perdas. Ao longo dos quase 60 anos em que convivemos, aquela pessoa desconhecida foi-se revelando. Ficamos muito próximos. Numa fase de sua vida, morou comigo; em outra, morei com ele. Nunca fez diferença, a casa era de todos.

O cunhado se transformou em conselheiro, amigo, analista (e quantas pessoas não se referiam a ele, para mim, , sem que eu jamais me desse ao trabalho de esclarecê-las, como “seu irmão”?) Tornou-se bom amigo de minha mulher e de meus filhos. Tinha minha procuração com plenos poderes. Sem os laços de sangue, mas ambos, com plenos direitos, membros da mesma família. Ele era são-paulino – mas, afinal, quem é perfeito?

Não, a história não se encerra neste domingo. Fazendo um balanço do que foi minha vida, a perda brutal de agora é muito menor do que aquilo que, ao longo dos anos, ganhei  com nossa convivência. Os ganhos continuam a chegar: o que tive de conselhos, de experiência de vida, de sabedoria, isso nunca cessa. E as boas lembranças – que haverá de melhor na vida que as boas lembranças que a própria vida nos dá?

Descanse em paz, Ichie. Descanse na certeza de que, na vida, fez o que poderia fazer de melhor.